Motel

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Lauren havia acordado cedo. Seu sono tinha sido conturbado na maior parte da noite, mas sentia-se um pouco mais disposta, como se em algum momento tivesse verdadeiramente conseguido relaxar.

Ela estava limpando sua Colt à mesa com um produto que cheirava a frutas podres. Ela olhava todos os detalhes da arma. Em uma mão estava a arma e na outra uma flanela que usava para pegar um pouco do produto e esfregar com toda cautela.

Estava entretida com seu afazer quando Camila saiu do quarto. Eram 8h30min. Ela ainda usava a camisa grande de Lauren, que batia na altura das coxas. Lauren lançou um olhar sobre ela e logo voltou a encarar a arma e a flanela em suas mãos.

- Eca. Você cheira esse produto de limpeza para ficar doidona? – Camila iniciou a conversa, havia sentido o olhar de Lauren sobre suas coxas e estranhamente ficou com vergonha por um milésimo de segundo.

- E você está usando minha blusa. Não faça mais isso. – Lauren desviou o olhar novamente para ela e depois para a arma.

- Então vem aqui, tira ela e fica com ela pra você. – Camila deu um sorriso travesso. Em seguida gargalhou ao perceber que Lauren tinha dado um meio sorriso, o que significava muito.

Lauren começou a desmontar a pistola e esfregar as partes com outro solvente com o cheiro forte. O celular estava sobre a mesa e Lauren estava esperando a ligação de Dinah para saber se ela havia descoberto algo sobre Mahone.

- Tem café. – Lauren falou sem desviar seu olhar do que fazia.

- Você teve um pesadelo essa noite. – Camila falou enquanto estava de costa para Lauren, não queria que ela percebesse que havia passado parte da madrugada velando seu sono até que se acalmasse.

- Não lembro.

- Melhor assim. Eu não sabia o que fazer com você.

Lauren nunca se lembrava de seus sonhos. Quando acordava de um deles, não conseguia mais dormir, mas incrivelmente estava sentindo-se relaxada naquele início de manhã.

- Você limpa essa arma o tempo inteiro. – Camila voltou a falar mudando o foco do assunto.

- É necessário. Na hora que eu precisar usar, ela tem que funcionar bem.

- Meu pai não sabe, mas eu fiz aulas de tiro algum tempo atrás.

- Por que fez aulas de tiro?

- Adrenalina, não é óbvio? – Camila deu uma risada, mas logo bebericou o café e desviou seu olhar de Lauren. Sentia-se observada, mas Lauren mudou de assunto.

- Acho que eu vou voltar ao local do acidente para ver algumas pessoas que Dinah conversou. Depois devo encontrar com Lucy.

Camila ainda estava perto da pia, manteve-se quieta como se estivesse refletindo o que a outra tinha dito, mas logo foi se aproximando da mesa com a xícara de café nas mãos e sentou-se de frente para Lauren. Uma estava observando a outra. Para a surpresa de Lauren, a outra parecia estar séria. Era uma expressão que Lauren não tinha visto ainda, e isso acabou roubando-lhe a atenção mais tempo do que tinha pensado.

- Precisamos conversar. – Camila falou.

- Tudo bem. – Lauren se ajeitou, largou a arma, colocou os cotovelos apoiados na mesa e se projetou em direção à garota, queria prestar atenção no que seria dito.

- Não gostei da forma como me deixou ontem. Se tivesse me avisado o que ia fazer, tudo bem, mas não avisou. Sei que você não é de falar sobre suas coisas. Já entendi. Mas eu não sou criança. Essas pessoas estão tentando me matar. Não preciso de uma babá e não preciso que me tratem como criança. Já estamos aqui há dois dias e não nos encontraram, então acho que o lugar é seguro. Não quero encontrar com Lucy, nem quero passar o dia inteiro sentada no carro enquanto você fala com as pessoas. É chato. Prefiro ficar aqui e posso ficar sozinha.

Colt 357 - Ligando os pontosOnde histórias criam vida. Descubra agora