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Piter
Dias atuais.

Sendo um dos psicólogos com maior taxa de desenvolvimento com os pacientes, decidi fazer um estudo com crianças de diversas idades, para ver o que elas pensam a respeito das suas vidas e como é o convívio em casa. Depois de muitíssima burocracia, contratos de confidencialidade, reuniões e muito dinheiro aplicado, o diretor da secretaria de educação liberou que eu iniciasse o estudo em apenas uma escola por enquanto.

As autorizações foram enviadas para os pais de cada um dos alunos e quando a diretora me mandou um e-mail avisando que noventa e sete por centos dos pais assinaram, não consegui conter a minha empolgação para saber como as crianças se comportam longe dos seus protetores.

Acabo de digitar o último capítulo do meu novo livro e mando o arquivo para a minha revisora, desde o dia que Aurora me disse que estava se mudando definitivamente para Nova York, o único escape que tenho para as minhas tristezas e o amor que sinto por ela. Vanessa é uma pessoa maravilhosa, mas mesmo com o nosso relacionamento estável, não é a ela que o meu coração bate mais forte quando estou perto. Não é no seu corpo que penso quando estamos transando, não é nela que os meus pensamentos ficam me atormentado por não ter feito nada.

Meu celular vibra no meu bolso, mas não posso atender no momento. Um dos meus clientes mais frequentes é que paga uma quantia absurda de dinheiro para mim, fala sobre a sua vida em casa a mais de uma hora. Não consigo focar em nada que ele fala, então me mantenho no automático, falando frases pré-prontas que aprendemos na faculdade.

Quando Alfredo sai do meu consultório percebo que passei o dia inteiro no automático. É isso que Aurora faz comigo a dez anos, começo a fazer as coisas no automático e não percebo o dia passar, depois que ela foi para os Estado Unidos a quatro anos, um aperto no coração me acompanha e acaba dia que passa sinto esse aperto fuçar cada vez mais forte e os meus pensamentos se direcionarem para Aurora nos momentos mais impróprios.

Dou uma olhada rápida no e-mail da minha leitora crítica, ela está me sugerindo mudar um pouco dos meus livros, em vez da protagonista sempre morrer ou se afastar, eu escrever um que o casal fique juntos e tenham filhos, esse é outro ponto que ela não para de me cobrar.

Mas ela não entende.
Nenhum dos meus leitores entende.

Aurora foi embora para Nova York com o Leo, que disse que se arrependeu de ter sido um babaca e pediu ela em casamento. Os dois foram embora e Aurora nem se despediu de mim. Um mês depois que ela foi embora eu decidi fazer o meu check-up mensal, foi então que descobri que tinha um câncer estágio um no testículo direito. Me masturbei em um potinho e mandei o me sêmen para o banco de congelamento, depois da cirurgia bem sucedida eu descobri que os meus espermatozoides só sobreviveram por apenas seis anos congelados, então a partir desisti da ideia de ter um filho e mandei que jogassem o sêmen fora.

Quem consegue achar o amor em seis anos e ainda ter certeza que ela é a mulher ideal para ter os seus filhos. O pior é que eu não quero largar a ideia que não irei superar Aurora, já deixei bem claro para Vanessa que a nossa união é estável, mas que ela não podia se apaixonar por mim.

Abro a porta do meu apartamento e o aperto no meu peito se expande por todo o meu corpo, o cheiro do perfume de Aurora está espalhado por todo o local, mas a única pessoa que vejo é Vanessa saindo do quarto de Aurora, o único lugar que eu deixei bem claro que ela não podia entrar em hipótese alguma e agora lá está ela saindo do quarto usando uma dos baby doll de Aurora.

- Oi lindo! Estava te esperando toda molhadinha.

A cena que os meus olhos presenciam são uma tão eróticas, mas Vanessa fez uma coisa que eu mandei ela não fazer e isso me deixa sem nenhuma vontade de transar com ela agora ou até mês que vem.

- Estou muito cansado, vou tomar um banho rápido e ir dormir.

Fui em direção ao meu quarto, mas antes de entrar me virei para trás e encarei a loira parada no meio da minha sala, somente com a lingerie branca e o baby doll no chão.

- Vista as suas roupas e vá para a sua casa, quero ficar sozinho.

Entrou para o quarto fechando a porta atrás de mim, sem dar tempo para ela pensar direito no ponta pé que acabou de levar. Como psicólogo sei que a minha reação foi um pouco melodramática, mas como uma pessoa com o coração ferido essa foi a melhor escolha. Meu celular apitou avisando que a fechadura da porta estava aberta e logo em seguida começou a tocar, retirei o aparelho do meu bolso e atendi.

- Piter vou te matar. Por que você tinha que matar a coitada da Penélope? - minha revisora grita do outro lado da linha.

- Não grite. A penélope era boa demais para o Mike e tudo que ele fez foi se aproximar dela por causa daquela aposta.

- Você tinha que matar ela, igual fez com a Cecília, Patrícia, Joana, Renata, Alice e Rosa - sua voz é carregada de drama.

- Vou matar as próximas também.

- Olha! As cenas Hot são maravilhosas, o drama é surpreendente, o enredo é bem escrito, mas os finais são muito, muito, muito, mas muito tristes.

- Eu pago a leitura crítica para isso.

- Ela é minha irmã e você sabe disso.

- Por que eu contratei uma equipe familiar para resolver essas coisas dos meus livros.

- Porquê somos a melhor.

- Tenho que desligar, vou começar a minha pesquisa amanhã.

- Pelo menos um livro que não terei que ler alguém morrendo de alguma doença ou acidente - ao terminar de falar ela encerrou a ligação.

Amanda e Roberta trabalham em uma editora onde só familiares comandam, mas as duas se tornaram as minhas amigas virtuais, elas me ligam sempre que mando um manuscrito para a editora.

Olho para os vinte exemplares dos meus livros na estante, cada um deles best-sellers, com mais de novecentos bilhões de páginas lidas. A única coisa que cada um deles tem em comum são os agradecimentos, em todos os meus livros eu direciono o agradecimento para Aurora, a mulher que sempre me motivou a escrever.

Olho no canto do meu quarto onde estão todos os meus livros, deixei a primeira impressão de cada livro meu para Aurora, mesmo não sabendo quando verei ela novamente, isso é se eu voltar a vê-la.

Entrei no banheiro, retirando a minha roupa e a colocando no cesto de roupa suja. Entrei de baixo do chuveiro, o sensor de presença ativou e os jatos de água começaram a molhar o meu corpo, meus músculos se relaxam deixando meu corpo mais leve, mas o aperto no peito ainda está aqui.

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