O declínio de um homem

25 4 0
                                    

"..."

"Eu odeio quando você faz isso!" — Chuuya exclamou na ocasião — "Admita que precisa de ajuda! Mesm- Principalmente nessas pequenas coisas!"





— É, talvez eu precise. — Dazai diz para si mesmo, sentado na borda de um dos prédios que serviam de fachada para a máfia. Gostando ou não, aquele prédio era um dos poucos lugares que nem Mori iria pensar em o procurar de tão óbvio. Ele olhava para frente, o chão 298m abaixo, e logo conclui consigo mesmo — Seria tão mais fácil escorregar…

Ele se deita para trás logo em seguida, olhando para o céu nublado enquanto mexia os pés na borda do prédio, parte de si achou graça imaginar a possibilidade do seu sapato cair e fazer uma cratera no solo a depender da velocidade. Ele coloca as mãos apoiando a cabeça enquanto continuava deitado, sente ainda sua roupa empapada de sangue e a dor fina do ferimento aberto, mas aquilo era um problema para depois. O quão depois ele não decidiu ainda.

— Ei, Odasaku, eu entrei para a máfia porque tinha uma expectativa: Eu pensei que se me aproximasse da morte e da violência, ficasse perto de pessoas que cedem aos seus impulsos e desejos, então eu poderia ver de perto a natureza interior da humanidade. Eu pensei que se eu fizesse… — Dazai repetia o que disse uma vez há muito tempo atrás, com os olhos fechados não resistindo enquanto sentia seus sentidos irem embora. O pior que poderia acontecer era Mori o encontrar. — Eu seria capaz de encontrar uma razão para viver.

“Confio em qualquer plano que o gênio Dazai tenha. Você sempre contribuiu agradavelmente a mim e para os esforços da Máfia do Porto. Espero que você faça o mesmo hoje, como sempre.” — Ao invés da voz de Oda, a voz de Mori veio a sua mente — “... É claro que ele é nosso querido aliado, mas vale a pena enviar homens de nível executivo para a linha de frente para salvá-lo?”

— Eu daria minha vida, a sua, e a de todos se necessário. — Dazai resmungava — Principalmente naquela época, apesar de que agora eu não descartaria tanta gente…

"Oda não quer ajuda"

— Eu sei, droga! Eu não me importo! — Ele estava começando a gritar, sua cabeça doía. Desde o momento em que pisou fora da agência ele mal estava conseguindo se equilibrar, nunca ficou tão instável por uma decisão tomada racionalmente. Ele odiava isso. Desde o momento em que afastou a mão do presidente até que dispensou a agência, o mundo não parecia real, mas agora ele só se sentia ridículo. Dissociar e negar não é algo que ele possa se permitir fazer. Isso não era ele.

Sendo sincero, Dazai não faz ideia de como chegou no topo do prédio nem por quanto tempo ficou apenas sentado até perceber o que estava fazendo. Sua cabeça doía mais que o efeito de qualquer droga, seu corpo não parava de tremer e ele já não tinha mais garganta, sua voz estava completamente rouca mas ele seguia gritando em respostas aos gritos e vozes que sua cabeça engatilhava. As escolhas que ele carregava não podiam ser feitas com o coração, ele teria que ser tão afiado quanto um machado e tão perspicaz quanto o homem que se denomina o sucessor de Deus para ao menos se manter no jogo. Ele já estava perdendo, mas ainda precisava virar para uma vitória implacável. Dazai entendia o jogo e tinha capacidade de jogar, mas ele tinha uma desvantagem: Fyodor conseguiu o pôr contra a parede no momento em que exibiu as peças para Dazai. Dazai se deixou ser posto contra a parede sem pensar antes.

“Dazai, você sabe o que significa ser o líder? Isso significa que você está simultaneamente no topo da organização e permanece escravo dela como um todo. Não importa o custo. Para esgotar o inimigo, maximizar o valor de seus aliados e manter a organização viva e bem, você também deve executar voluntariamente quaisquer atrocidades logicamente concebíveis. Você entende o que eu estou dizendo?” — A expressão de Mori e sua voz permaneciam ali, não importa o quanto Dazai tapasse os olhos e os ouvidos. Ao menos daquela vez ele reconhecia que Mori estava certo. Mas aquele discurso foi um dos piores momentos da vida de Dazai. Ele lembra da sensação de pânico, ele sente suas mãos ainda tremerem em resposta a essa memória tão nítida.

Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora