"O que fez você ter certeza que eu não a usaria para atirar em você?" Kunikida questionava.
"Porque eu confio em você, claro" Dazai responde com calma, sorrindo para seu parceiro.
— Ango, isso é cruel. — Dazai reclama, jogando coisas na porta do quarto em que estava, apenas por saber que Ango estava do outro lado. Serviu mais para provar que Dazai mal conseguia mover os braços propriamente do que um ato de birra. Ango avisara que Dazai teria que ficar mais algumas horas em observação antes de poderem o liberar, Dazai dava seu melhor em fazer parecer bem o bastante para ser liberado, odiava ter que agir por uma cama de hospital.
— Quem desligou o seu celular foi você, não eu. Eu só estou garantindo que o suspeito não morra antes do interrogatório. São só algumas horas, aguente firme. — Ango responde pelo outro lado da porta.
— Assim eu vou morrer de tédio!
— Olha, eu fiz o que eu pude para te salvar e deixar o mais natural possível.
Ser salvo pelo Departamento de Tarefas Especiais era uma faca de dois gumes. É garantido que nem a Agência nem a Máfia vão saber o que aconteceu, o que dá muito mais espaço para Dazai controlar a situação, mas Dazai estava preso aos horários deles… Isso sem contar as limitações do próprio corpo, o que o deixava ainda mais frustrado. Quanto tempo tinha passado? Dazai não fazia ideia.
Sabendo que lutar contra aquilo não iria ajudar, e só restava esperar para mentir e negar as perguntas que fossem feitas, Dazai se põe a encarar o quarto. Eram um quarto branco, ridiculamente limpo, as únicas coisas que destoavam eram as máquinas que cercavam Dazai. Era tudo bem metódico, como um certo alguém.
Observar o quarto o fez se questionar o que será que a Agência está fazendo agora? Talvez Atsushi esteja choramingando enquanto limpa os armário? Kenji o acalmaria se visse. Tanizaki geralmente aproveita para fazer café ou levar energéticos quando sabe que Dazai vai passar algum tempo fora. Yosano deve estar tranquila quanto a isso, ela já assistiu a vitalidade incansável de Dazai algumas vezes para ter alguma fé. Ranpo saiu para trabalhar, talvez Dazai consiga voltar antes dele? E Kunikida... Provavelmente Kunikida está analisando os papéis que Dazai falou, os planos e protocolos para garantir a segurança da Agência e o controle da situação, afinal, Kunikida era a pessoa que todos confiavam como próximo líder, é natural que um plano dessa escala fosse entregue para ele e ele não o ignorasse.
Até porque ele é o mais próximo de um parceiro que Dazai tinha...
×
"Oi, Kunikidaaaa" Dazai cantarolou o nome dele enquanto andavam para mais um trabalho.
"O que é agora?" O loiro responde já sem paciência.
"Se algum dia eu sumir, vamos precisar de outro intermediário para a máfia, mas não posso pedir isso para a Yosano" Dazai olhava o chão, percebendo que o tom brincalhão não combinava com aquelas palavras, e logo levanta o olhar para Kunikida, tentando voltar ao seu ar mais leve "Então, como um presente especial para você, eu escrevi 52 páginas de protocolo sobre o que fazer!"
Dazai ri e olha o horizonte, mas Kunikida via o ar sério que Dazai tentava ocultar.
"Bem, 52 é um exagero, eu passei da quinta página sem nem saber mais o que escrever… Eh? Kunikida, que cara séria é essa?"
"Não é nada… Eu…" O loiro olhava pra Dazai, não parecia o mesmo olhar que o de cabelos castanhos sempre carregava, pareciam olhos vazios como alguém que encarava um deus da morte "Às vezes eu esqueço como você pode ser competente."
"Esse é o melhor elogio que eu consigo?! Que cruel, Kunikidaaaa! Eu trabalhei duro, sabia?!" Dazai choraminga "Bem, cada página vai ter uma palavra chave, então preste atenção nas últimas palavras que eu consegui passar para vocês e..."
"Dazai, para!"
"Huh?"
Kunikida Doppo, o homem que perderia os ideais no dia em que um de seus companheiros morresse diante de si e ele não pudesse evitar. O homem que não aceita trocar uma vida por outra. O homem que recebeu Dazai como subordinado e agora o tem como parceiro. O homem que mesmo pronto para tudo, não tinha as palavras para aquele momento. O homem que nunca conseguiu consolar o coração de alguém afogado na escuridão.
"Você não vai morrer" É tudo que ele consegue dizer naquela situação.
"Todos vamos morrer um dia, Kunikida."
"Para com isso. Eu vou te levar pra beber." Ele diz e consegue um sorriso de Dazai, que começa a falar sobre bebidas e misturas estranhas, mas dessa vez Kunikida não o interromperia.
Kunikida lembra perfeitamente do primeiro caso que resolveu com Dazai, o caso do Rei Azul. Dazai não era tão diferente do que foi naquela época, mas agora Kunikida o entendia melhor e ainda acredita no julgamento anterior que deu a Dazai: Dazai é muito talentoso, o melhor parceiro que Kunikida poderia ter.
Com isso em mente, Kunikida Doppo revisava as páginas longas que Dazai tinha mandado, ficando surpreso com o quão metódico Dazai poderia ser. Realmente eram mais de 50 páginas ricas em detalhes. Haviam instruções diferentes para cada período de tempo, combinação de palavras e ações que deveriam ou não ser relevantes. Aquele era o trabalho de um gênio sobre-humano, metódico e preparado como um ser onipresente, aquilo era o que realmente era Osamu Dazai. Kunikida parecia pagar pela língua ao ter aquele documento em mãos.
— … Vocês vão realmente aceitar ignorar a situação inteira?! — Atsushi estava ansioso, Kunikida entendia o motivo. Mesmo com as palavras de Dazai meticulosamente armadas, ele não conseguia ignorar a própria preocupação e ainda assim juntou forças para parecer neutro quanto a isso.
"Ignorem: Provavelmente algo virá provocar a agência, é uma isca. Eu vou estar lidando com isso e vou precisar que vocês não se aproximem a menos que eu os chame. Quanto ao Atsushi, você precisa o manter no escuro, isso é importante."
— Estamos falando do Dazai, ele deve ter tudo sob controle. Sem contar que é bom um pouco de silêncio as vezes. — Kunikida diz organizando os papéis, mas aquela era a primeira vez que Kunikida não conseguia focar no próprio trabalho. Então era assim que funcionava a mente de Dazai? Agir como se nada estivesse acontecendo enquanto precisa garantir que tudo é conforme ele precisa que seja?
— Senhor Kunikida, isso foi maldoso. — Atsushi o repreende, Kunikida internamente concorda. Ele só estava tentando seguir as instruções de manter Atsushi no escuro e incomodado. Logo um barulho começa no corredor.
"Chuuya Nakahara, o manipulador de gravidade, caso ele apareça — e vai aparecer, fazendo barulho — , você deve fazer com que Atsushi seja a pessoa a falar com ele. Se eu não tiver mandado nada além de uma palavra há mais de doze horas, você deve fazer com que Chuuya entenda que ele deve voltar mais tarde para ter chance de receber mais alguma informação."
— Cadê o bostinha do Dazai?! — Assim como Dazai esperava, Chuuya irrompe na sala com a suavidade de uma tempestade. A mente de Kunikida estava dividida entre esconder a surpresa sobre o quão perspicaz Dazai era quanto as pessoas ao seu redor e manter o foco em seguir o que deveria fazer. Qual seria a melhor forma de fazer Chuuya querer voltar depois?
— Por favor, se só veio trazer problemas em nome do Dazai, volte mais tarde. A essa hora ele geralmente nem chegaria ao escritório. — Será que Chuuya entendeu? Será que foi óbvio demais? Será que ele só ignoraria?
Atsushi sai da sala com ele, como Dazai queria que as coisas prosseguissem, mas Kunikida não podia evitar o medo de estragar tudo.
"Ouvir você falando de confiança realmente suja a palavra" Kunikida disse na ocasião do Rei Azul, mas provavelmente é algo que ele repensaria.
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Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)
Fanfic[Se passa após o arco da Guilda/2° temporada] [Foi escrita em 2021, então peço paciência com a escrita que oscila] "Torne-se um homem que ajuda os outros, mesmo que tudo ao seu redor se distorça, seja uma boa pessoa. Proteja os fracos, ajude os órfã...