(Epílogo) Uma inconstante corrida sob o luar

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Era o fim da primavera, nada naquele dia parecia diferente do habitual. Atsushi andava em passos largos pelas ruas de Yokohama, cantarolando a música que tocava em seus fones e faz uma pausa para observar a lista de músicas quando esta chega ao fim, soltando um longo suspiro mas logo se recompondo e mirando o olhar na parada de ônibus, procurando uma figura que seria difícil perder de vista.

— Akuta, como você não 'tá derretendo de calor vestido assim? — Atsushi ri conforme se aproximava e tira os fones assim que vê Akutagawa o esperando na parada de ônibus. Faziam cerca de 6 meses que Ryuunosuke tinha se tornado membro da agência e saído da máfia junto de seu veterano, Chuuya Nakahara, e sua irmã, Gin Akutagawa. Ele não pensou duas vezes quanto ao pedido de Dazai, era como se todos ao redor pudessem ver aquele momento chegando menos ele.

Quando tudo aconteceu, Akutagawa ouviu o pedido pelo comunicador mas não poderia simplesmente acatar. Osamu Dazai sabia disso, estava preparado para aquele tipo de situação. A mensagem final para Akutagawa e o apoio de Kyouka foram fundamentais para que ele fizesse sua escolha. A veterana na agência, Akiko Yosano, deu o suporte para que Akutagawa chegasse a seu exame de admissão e Kenji foi o mais dedicado à sua adaptação. Depois de tantos meses, ele se permitiu ficar mais "gentil" até mesmo com Atsushi.

— Não sei do que você está falando, eu sempre me visto assim. — O de cabelos pretos respondeu cruzando os braços e olhando acusatoriamente para o de cabelos brancos da cabeça aos pés, claramente julgando as roupas dele em retaliação — Eu te deixei me acompanhar hoje e você faz a gente perder o ônibus para se arrumar e escolhe isso?

— Em minha defesa, é especial. — Atsushi diz segurando a ponta de seu cinto e passando os dedos por ele antes de prosseguir sua fala — Eu não estava o achando, então demorei. De toda forma, foi mal aí.

— "foi mal aí" — Akutagawa resmunga cruzando os braços e senta em um dos bancos da parada de ônibus — Você é estúpido.

Um momento de silêncio entre eles se fazia. O tempo parecia se arrastar enquanto passavam carros, pássaros e folhas voavam e o ônibus não chegava. Atsushi olhava para seu celular ansiosamente apenas para ver que não faziam nem dois minutos que estava sozinho com Akutagawa, mas não podia evitar. Na agência Akutagawa ficava mais com Kenji e Yosano, a única vez que os dois chegavam a ter uma conversa era quando Kyouka estava no meio.

— Seu cinto… — Akutaga fala do nada, fazendo Atsushi pular no lugar — Ele quem te deu?

— Desculpa..?

— Se você precisava disso hoje, eu quero saber se foi porque foi ele quem te deu… — Akutagawa repete em tom baixo e vira a cabeça.

— Ah! — Atsushi finalmente entende a pergunta — Sim, foi o senhor Dazai que me deu, quando eu entrei na agência… Eu não tinha nada, então…

— É uma prática da máfia. — Akutagawa fala por cima dele — Ele fazia isso quando algum novo subordinado entrava no comando dele, pegou essa prática do senhor Mori…

— Um subordinado sob o comando… Mas não é assim na ADA!

— Ele não foi o único, certo? — Akutagawa o cortava de novo, estava tentando manter a conversa sem que a lentidão de Atsushi o fizesse perder a coragem — Imagino que não tenha sido algo só para mim, eles entenderam o "Acolham bem o Akutagawa" como: Todo mundo, dê roupas para ele. Ele precisa de uma intervenção!

Akutagawa gesticula ao final da frase, se soltando mais na conversa e Atsushi ri. Olhando dessa forma, todos na agência fizeram isso com a Kyouka também quando ela se juntou, mas não parecem ter feito com os que entraram antes de Atsushi. Talvez tenha mesmo sido uma intervenção do senhor Dazai.

— Bem, você pode não ter sido o primeiro, mas foi o último a receber algo dele. — Atsushi diz e sorri de forma calorosa — O fim é tão marcante quanto o início.

— Cala boca, poeta barato. O ônibus chegou. — Akutagawa volta a frieza, virando o rosto e levantando para sinalizar para que o ônibus parasse, fazendo Atsushi se questionar o que teria dito de errado, mas ao ver Akutagawa arrumando o sobretudo e passando os dedos no bordado, Atsushi entende que não tinha falado nada de errado. Akutagawa só não queria que Atsushi repetisse o que ele já sabe. Aquele sobretudo era novo, Akutagawa recebeu assim que entrou na ADA, mas não tinha sido de nenhum dos detetives daquela sala, estava na mesa de Dazai esperando por Akutagawa.

Eles fazem a viagem de ônibus em silêncio, voltando a falar apenas quando vão decidir sobre que flores levar e o silêncio recai sobre eles quando voltam a caminhar cemitério adentro.

— Hum, Akuta… — Atsushi fala conforme se aproximavam do seu destino — Esse S. Oda, você o conheceu?

— De certa forma, dá para dizer que sim… — Akutagawa analisava se iria manter aquela conversa — Sakunosuke Oda, ele era a pessoa mais importante para o senhor Dazai, provavelmente a pessoa que Dazai mais... Enfim, pelo que eu entendi, foi Oda quem salvou Dazai e por isso Dazai acabou nos salvando.

— Entendo…

— Por que a pergunta?

— Porque na única vez que vi o senhor Dazai num cemitério, na época em teve todo aquele acidente com as habilidades, ele estava visitando o túmulo dessa pessoa… Quando eu perguntei, ele fugiu da pergunta, então eu guardava essa curiosidade. Obrigado por responder.

— Que seja… — Akutagawa para e Nakajima logo para ao lado dele, ambos observavam um grande carvalho e observam o túmulo à sombra da árvore. Eles trocam olhares e arrumam as roupas antes de dar um passo à frente e entrar naquele território.

— Senhor Dazai, feliz aniversário! — Atsushi começa a falar — Akutagawa e eu não sabíamos que tipo de flor você ia gostar então trouxemos uma de cada uma da floricultura.

— Ou vai gostar ou odiar a maioria, difícil saber. — Akutagawa dava de ombros.

Não era a primeira vez que eles iam até lá juntos. Começou com eles colidindo os horários que iam para silenciosamente acabar aceitando que o outro iria estar lá e casualmente avisando ao outro quando pretendia ir. A relação deles não foi construída em conversas, então era mais natural esses pequenos momentos trazerem conforto ao invés de uma conversa profunda longa… Mas não importava quantas vezes fossem para lá, sempre doía se relatar em frente ao túmulo de Dazai e não para o próprio enquanto fugiam do trabalho.

— … Certo, o que mais temos para reportar? — Atsushi vira para Akutagawa após resumir os eventos na ADA no último mês e comentar algo que achava que Dazai gostaria de ouvir enquanto Akutagawa permanecia lá complementando quando Atsushi pedia.

— Sobre o senhor Chuuya. — Akutagawa diz e Atsushi abaixa o olhar. Chuuya Nakahara foi completamente destruído pela morte de Osamu Dazai e atualmente o ruivo estava sendo cuidado pelos irmãos Akutagawa, não tendo contato com mais ninguém — Ele finalmente começou a se levantar por vontade própria, ontem a noite ele foi até o apartamento novo dele e começou a arrumar as coisas…

Akutagawa então relatava as pequenas conquistas de Chuuya, que iam de se levantar para tomar banho até sair de casa para fazer compras e cozinhar. Atsushi não pode deixar de sorrir e soltar o ar que nem percebeu que prendia quando Akutagawa narrava que Chuuya estava se recuperando. Atsushi também passou por esse período depressivo, mas ter tantas pessoas de confiança ao seu lado o ajudou muito, mas Chuuya estava praticamente sozinho.

— … Ele me disse que quer muito vir falar com você, talvez ele venha hoje à noite… Eu não vou poder vir com ele, então vou deixar ele nas suas mãos. — Akutagawa conclui e parece lembrar de uma última coisa — Estávamos conversando, ele disse que quando voltar pra casa ele quer adotar um gato e pensou em chamar de Cavala Azul, como o peixe… Ele disse que você entenderia a razão da escolha, mas eu realmente não consigo ver sentido… Bem, isso é tudo.

Atsushi se levanta quando termina a oração e ambos se curvam, se despedindo de Dazai e deixando a área da árvore.

— Adeus, até uma próxima vez!

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2023 ⏰

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