O Sol que se foi

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"Me diga, Dazai, por qual razão você deseja a morte?" — Mori o questionou anos atrás.

"Vamos mudar a pergunta: Há mesmo algum valor nisso que chamamos de viver?" — Dazai perguntou na ocasião, ainda lutando por uma resposta.

Ironicamente, naquela época ele descobriu que poderiam ser criadas motivações para se viver. No mundo da escuridão, a morte não era nada além de uma continuação da vida, uma consequência de viver e lutar. "Morte" e "vida" não eram opostos e sim complementos.

"Então você deseja viver?" Uma voz distante surge em suas memórias conforme ele andava pelas ruas de Yokohama, parte de uma memória tão antiga que poderia ser de outra vida.



— Eu mereço? — É o que Dazai se questiona em meio a um suspiro — Antes eu achava que estava tudo bem não encontrar nada e ainda assim viver, afinal, ainda teríamos coisas a fazer… Mas agora tudo está tão mais difícil, Chuuya. Nós crescemos.

Dazai respondia a sua memória, aos poucos sentindo a chama em seu peito queimar e sumir. Ele apenas sacrificava sua alma por um desejo que já não era dele, será que sacrifícios combinavam com ele? Em uma outra vida, uma outra realidade, ele seria muito diferente do que é hoje? Ele sabe que já é muito diferente do que foi, seja para bem ou para mal, ele não era mais o mesmo. Um mundo diferente, algo que a página poderia oferecer se ele usasse, mas como ele mudaria? A única coisa que ele consegue desejar ao cogitar ter tal poder em mãos seria ter Odasaku, mas quantas pessoas seriam sacrificadas por essa mudança? Isso não seria algo de alguém "bom", não é?

Dazai não pôde deixar de imaginar como seria, o que ele escreveria na página, afinal deve existir uma condição para o equilíbrio, então qual seria? Dazai teria que morrer para Odasaku viver? Ainda não parece salvar Oda da situação dele, afinal, ele estava preso na máfia como um faz tudo, provavelmente a melhor opção seria um mundo em que ele e Dazai não se conhecessem, então Oda teria alguém melhor para seguir esse papel de "amigo", buscando em outro lugar. Oda na Agência de Detetives soava muito melhor do que Dazai ali. Mas Oda não aprovaria essa mudança e mesmo Dazai sabe que estaria sacrificando muita coisa, seriam mudanças muito drásticas. Nada que ele não pudesse dar um jeito, mas ainda assim…

Dazai se vê na frente do bar que sempre ia com Oda e Ango, sem perceber que tinha ido parar ali. Ele decide entrar, observando o local estreito e sentando no seu lugar de sempre, o barman serve seu copo e coloca um copo ao seu lado, como sempre.

Aquele lugar provavelmente era a única prova de humanidade da desgraça humana que Dazai era, aquele barman sua única testemunha. Todas as memórias criadas ali eram apenas isso, memórias mantidas em um local desconhecido no meio de uma cidade tão grande.

Ao perceber o que estava fazendo, Dazai não pôde deixar de soltar um riso melancólico, ele não tinha percebido quanta dor tinha em seu peito até então. Aquilo doía, mas agora parecia mais sufocante, por que parecia mais sufocante?

Dazai não bebe, sequer se move, apenas mantinha o olhar baixo encarando o nada. Não era apenas o lugar que ainda tinha a prova da humanidade de Dazai, existia mais que apenas aquilo, existia ainda uma pessoa que tinha visto aquilo…

— Eu sabia que te encontraria aqui, eventualmente. — Chamando Dazai para a realidade, o outro símbolo de sua humanidade descia as escadas e logo senta silenciosamente ao lado esquerdo de Dazai. Sem se preocupar em falar mais nada enquanto Dazai dava um longo gole no seu copo.

Aquele "De novo não" enviado por Dazai antes dele desativar o aparelho tinha sido a única garantia de que ele não desapareceria e mesmo assim, poderia só ter sido uma mentira, mas Chuuya não questionava as verdades daquelas palavras, assim como Dazai não conseguia realmente acreditar — de verdade — que houvesse alguma sombra na lealdade de Chuuya.

Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora