Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)

Partida lamentável

"Se você olhar para o céu noturno estrelado, quantas estrelas você vê?"

— Eu tinha que ter sido tão definitivo naquele zero? — Dazai suspira seguindo pela calçada, desistiu de pegar um táxi, sentiu que seria melhor caminhar. Conversava consigo mesmo ao longo do caminho — Talvez eu pudesse ter sido melhor, né? Pelo menos uma estrela, né?

Ele falava, esperando que assim aliviasse um pouco da própria frustração. Ele tinha um mal pressentimento desde o começo da semana, achou que passaria caso se deixasse ser pego pelo problema da Yosano, mas aquilo não era ameaçador de verdade. Agora ele não conseguia parar de repassar muitas das coisas que se arrepende e – Apesar de que se sente uma miséria humana com frequência – aquilo geralmente acontecia quando algo bem pior estava para acontecer, como um aviso para Dazai valorizar o agora. Tirar a última foto. Beber a última cerveja junto... Geralmente ele conseguia ter um instinto mais claro, mas sua mente só vaga em seus arrependimentos e todas as provas de como ele era um ser humano horrível. Talvez fosse só algo normal?

— Talvez eu nunca alcance o caminho para ser uma boa pessoa, talvez seja eu percebendo isso. — Dazai conclui pra si mesmo e seguia andando sem realmente prestar atenção pra onde ia, mas seus sentidos notaram algo estranho que ele ainda não tinha entendido.

Olhando em volta não parecia ser nada em específico, também não parecia a sensação de ser seguido ou observado. Conforme ele andava ele entendeu o que era tão estranho, a área deveria estar vazia, essa foi a informação que Chuuya passou na mensagem. Pelo horário teria um empecilho que faria com que a maioria dos pedestres estivessem distantes para que a negociação pudesse ocorrer de forma mais prática, mas ali tinham pessoas demais. Ao mesmo tempo que ele via aquele monte de pessoas o sufocando, ele era invisível na multidão, como se  ele não fosse real.

Bem, de qualquer forma, ele já estava começando a pensar demais. Seus pensamentos não eram claros e queria culpar a droga barata a qual foi submetido mas sabe que não é por isso. É uma sensação ruim, como se indicasse que não importa se ele vai entrar em alerta agora, já é tarde demais.

E realmente é.

Dazai resolve desviar o caminho daquela multidão para respirar um pouco e acaba por tropeçar em uma sacola que estava no chão, apoiando as palmas para não cair, mas assim que suas mãos batem nela, ela e boa parte do cenário ao seu redor desaparecem. Ele definitivamente não estava sequer perto do local marcado, mas tinha certeza que não desviara tanto do caminho porto, o mar ainda estava no horizonte, além da sua vista. Provavelmente era esse o problema que os seus sentidos o alertavam há tanto tempo, ficou preso em uma ilusão cuidadosamente montada para se adaptar à habilidade de anulação dele. Mas agora ele seguiria em linha reta ao encontro do problema, fugir só deixaria testemunhas.

— Isso é impressionante. Mudando as formas de jogar? — Ele diz e toca as palmas no ambiente ao seu redor, desfazendo completamente todo o resquício que sobrou do cenário falso e então olhando a sua volta discretamente, procurando o Rato ou alguma outra praga. Os inimigos de Yokohama vem surgindo aos montes desde que a Guilda deixou suas informações vazarem.

O silêncio continuava. Dazai permanecia parado. Foram longos e longos minutos assim, até que Dazai sentiu o celular vibrar no seu bolso. Quanto tempo será que ele perdeu? Provavelmente isso deixaria Kunikida realmente irritado, sem contar como já tinha sido um caminho longo para o fazer aceitar esse informante. O celular vibra novamente. O silêncio volta.

— Eu já sei que estou cercado, o que é isso? O desejo de me ver ajoelhar e implorar pela minha vida? — Dazai debocha. O celular volta a vibrar em intervalos ainda menores. Atsushi encontrou algum problema? A Agência precisa de ajuda? É difícil saber o que vai ser a mensagem apenas supondo com nervosismo.