um jogador

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"Dazai, são quatro da manhã, o que você quer?" — Chuuya resmunga abrindo a porta, Dazai ligou até que ele acordasse e avisou que estava do lado de fora.

"Chuuya…" — O moreno chama por ele, parecia tão pequeno, encolhido em si mesmo. Dazai não parava de tremer e olhar para Chuuya com urgência, espremendo as palavras com dificuldade — "Socorro"

Chuuya se assusta ao ver aquilo. Dazai estava gelado — provavelmente por sua pressão estar baixa — não parava de tremer, mas apesar disso não parecia ferido. Chuuya o puxa para dentro se questionando o que fazer e o que aconteceu. Dazai precisava de ajuda, Chuuya mais uma vez não sabia o que fazer. Nunca soube.

"Eu tô aqui! Você está seguro!" — Chuuya diz e levanta o rosto de Dazai, que estava hiperventilando. Era algo novo, ele nunca tinha o visto daquela forma. Ele não fazia ideia do que estava acontecendo. Doía ver aquilo — "Eu vou estar aqui enquanto você precisar, tá tudo bem"

"Chuuya… Tá doendo…" — Dazai consegue dizer entre soluços e lágrimas, ele apertava o peito com uma das mãos e sentia dificuldade em respirar. Sua visão ainda estava escura e ele sente que seu corpo cederia a qualquer momento. Aquilo não era novo para Dazai, esse tipo de surto acontece com mais frequência do que ele consegue listar, mas geralmente acontecia de outra forma, menos física. Ele se sentia assustado, não era para aquilo acontecer daquela forma, ele estava sentindo tanta dor e estava passando tão mal, mas aquela morte seria terrível. Ele não tinha uma pessoa a quem recorrer e acabou parando ali, na frente do apartamento de seu parceiro.

Chuuya não fazia ideia de como ajudar, mas Dazai sabia que só por o ter ali, as coisas já ficariam melhores, não só naquela situação, mas todos os dias. Às vezes apenas algumas palavras eram o bastante e às brigar com Chuuya geralmente geram um poço para ele tomar ações drásticas. Chuuya o abraçou e ele não se sentiu impedido de chorar. Não parecia ter problema. Então ele se sentiu péssimo por não se restringir e desesperadamente pedia desculpas para Chuuya por aquilo.

"Você é idiota?" — Chuuya respondeu — "Somos amigos, é isso que amigos fazem"

"... Chuuya, ainda tá doendo..."

"Eu vou fazer passar, você confia em mim?"

— Sempre… — Dazai sussurra ao vento aquelas palavras, sentia sua garganta doer e o peito apertar, mas depois de tanto tempo ele já tinha aprendido a lidar com todas as formas daquele surto doloroso. Ele se conformava com a realidade: Dessa vez ele definitivamente estava sozinho. Não importa como ele imagine o cenário, Chuuya nunca viria. Chuuya não é mais o mesmo, Chuuya o odeia com razão e a culpa é completamente dele. Dazai remoeria aquele arrependimento até o fim.

— Estou de volta, Dosz! — A voz do palhaço anuncia a própria chegada conforme surgia na sala. Gogol olha para Dazai e então ao redor — Que cara é essa, Daz? Perdeu no xadrez?

— Não ainda. — Fyodor responde e se espreguiça conforme anda para dentro do cômodo — Empatamos umas 48 vezes.

— Vamos jogar o que agora? — Dazai muda a expressão e afasta seus pensamentos para longe, se levantando.

— Algum pedido?

— Pode soltar minhas mãos? — Ele arqueia a sobrancelha e mostra os pulsos algemados — Vai dizer onde estava, bobo da corte?

— Oh? Será que devo dizer? — Gogol ri e roda pela sala, ressurgindo atrás de Dazai e começa a rodar Dazai para dançar — Será?

— Eu fiquei entediado e falei para ele da Decadência do Anjo, acho que não tem problema falar o que você foi fazer. — Fyodor dá de ombros.

— Página, decadência do anjo, corrupção dos Cães de caça, não vamos esquecer das preliminares com o "Canibalismo" — Dazai listava sem esboçar grandes reações. Se tudo que Fyodor disse era verdade, Dazai se sentia aliviado por ter preparado com antecedência aquele documento para Kunikida e ter antecipado a maior parte daquelas situações durante seus últimos dias. O único problema real ali seria A Página.

— Eu estava com o Seu Nakahara. — Gogol diz e inclina Dazai, como se a música inaudível tivesse acabado.

— E está mexendo com ele por quê, seu estúpido? Eu já estou aqui! — Dazai pisa no pé de Nikolai com força, o que faz o palhaço choramingar e soltar Dazai, quem cai de costas no chão e se levanta com alguma dificuldade.

— Ah! É engraçado saber que estão te procurando! Aí! — Nikolai choramingava — Não se faz isso com os pés dos outros!

— Ah, Dazai. Vai mesmo se irritar por uma brincadeira inocente? — Fyodor abraça Dazai por trás, o prendendo enquanto abre um grande sorriso, a intenção assassina maçante de Fyodor quase faz Dazai agir — Você já está aqui, eles não. Deixe as brincadeiras de Gogol e vamos discutir estratégias até que eu me canse, sim?

— Bem, Bastardo Russo, você já me disse tanta coisa que se eu tivesse chance de sair daqui, seria um combate interessante. — Dazai dizia tranquilamente até Nikolai surgir na sua frente e lhe socar. Fyodor o solta, deixando Dazai cair de joelhos e o assiste tossir pelo fôlego perdido.



— Não xingue meu melhor amigo, somente eu posso inferir qualquer tipo de mal a ele! — Gogol bate o pé e vira para Fyodor, fazendo um joinha.

— Não me soca, palhaço estúpido! — Dazai ofega.

Em retrospectiva, só restava Dazai agradecer a sorte de sua forma de montar estratégias ser semelhante a de Fyodor. Assim, isso possibilitou a ele preparar todo um terreno para que a Agência tome o controle da situação e evite os desastres que estão por vir. Eles ficariam bem. Mesmo que os preparativos de Dazai não fossem o suficiente, ainda assim, eles dariam um jeito sem ele. Dazai lutou para ser insubstituível, mas é o primeiro a mostrar o quão descartável ele era. De uma forma racional ou não, descartar Dazai era algo fácil. A Agência não deveria ter se importado tanto com ele, era estupidez, não foi a opção mais lógica… Mas ele se sentiu feliz ao ver que tantas pessoas ficaram felizes ao vê-lo de novo. Foi algo novo, a primeira vez que alguém que não queria ele ali pelo que ele podia fazer e sim por ele. O lembrou do sentimento de pertencimento, algo que ele já havia perdido há muito tempo. A ideia de pertencer a alguém ou a algum lugar de forma positiva...

Chuuya disse que tudo que Dazai faz é abandonar todo mundo, mas ao menos dessa vez, quando ele abandonou a agência, foi melhor do que se ele tivesse tido uma semana para dar adeus. A agência poderia sentir raiva, poderiam achar Dazai estúpido, amaldiçoar o nome dele… Seria melhor. Se todos apenas odiarem ele, ninguém deve sentir sua falta. Chuuya o odiava, eles nunca seriam como antes. Akutagawa também o odiava? Dazai não culparia Akutagawa por isso, só precisava de uma forma de lançar seu último desejo, de alguma forma, ele precisava que a Agência levasse Akutagawa para o mundo da luz. O mundo da luz sem a interferência de Dazai, talvez assim Akutagawa pudesse ser feliz.

No fim, Dazai desejava apenas falar. Não precisava ser perdoado, mas queria que todos eles soubessem o que ele realmente pensava e que ele reconhecia o valor de cada um deles… Mas não saberiam, era uma questão de tempo até Dazai morrer e o tempo seria o bastante para esquecerem que Dazai sequer existiu. Ele estremecia por saber que seu fim seria sozinho, mas ao menos ele deu um último adeus à uma pessoa querida, só é uma pena que essa pessoa o odiasse.

— Eu tenho um último desejo, será que você me deixa cumprir quando chegar a hora? — Dazai pergunta, erguendo a cabeça para o russo. Fyodor indica que ele continue e assim Dazai faz — Meu desejo é te balear e te assistir nos piores e últimos cinco minutos da sua vida.

— Que doce! — Fyodor ri da afirmação de Dazai. Gogol chuta o rosto do japonês, quem não chega a se arrepender do que disse.

Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora