luzes dos vagalumes

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[N/A: Toma logo dois capítulos de uma vez pra compensar]

— Eu gostava de me gabar que eu nunca tinha perdido nenhum jogo de azar, mas, a primeira vez que eu perdi foi logo contra um usuário de habilidade que poderia ver o futuro. — Dazai dizia enquanto terminava de embaralhar o baralho de cartas, depois de mais um mês lá, ele libertou as próprias mãos e propôs poker para Fyodor.

— É irônico, o usuário de habilidade de anulação ser derrotado por um usuário de habilidade com uma habilidade tão sútil. — Fyodor pontua — Mas isso prova que a justiça é eliminar todos os usuários de habilidade. Sem exceções pelo poder, alguém como ele em cassinos seria problemático.

— É verdade que foi humilhante, mas achar que isso conta como razão para extermínio? Daí você teria que exterminar todos os humanos.

— Estou no processo, não se preocupe. — Fyodor ri e Dazai também, como se aquela fosse uma ótima piada. Mas nenhum dos dois achava graça, eles estavam se ameaçando.

A verdade é que tudo que restava para Dazai eram as palavras e as provas de que sua preparação foi boa o bastante, mas Fyodor logo rodearia o que Dazai antecipou e a agência ficaria por conta própria. Apesar de estar sentado com Fyodor, Osamu tinha dificuldade em se manter ereto e consciente, preparar o baralho era ridiculamente difícil e suas mãos quase não o obedeciam. Ele facilmente imagina o quão pior sua aparência deve estar se comparar com como se portava normalmente, isso fora como ele se sentia desconfortável e inútil. Ele estava definhando em uma sala para o entretenimento de Fyodor, o que ainda conseguia ser uma tortura visto os próprios pensamentos que sua mente alimentava… Ele estava sozinho, não queria estar. No fundo ele nunca quis morrer, nem desaparecer. Ele odiava isso, odiava seus pensamentos, odiava sua miséria, odiava o fato de nunca ter aprendido a viver, odiava ter tido sua infância roubada e a vida desperdiçada, ele gastou a vida fingindo e agindo conforme queriam que ele agisse e nunca por ele mesmo. Ele odiava tudo isso! Odiava Mori e o antigo chefe! Odiava seus pais, odiava todas as pessoas que o levaram a esse inferno. Ninguém realmente se importava com ele, só uma pessoa chegou a se importar e ela foi morta. Ninguém ficaria com ele, ele é um desastre para manter as pessoas próximas, ele trás a calamidade para os que tentam, então ele não conseguia mais se relacionar e odiava isso. Ele não queria depender de ninguém para não se sentir como no passado, mas ele se sentia tão distante de todos. Ele não queria estar sozinho. Mas ele está. Ele se fez estar. Ele preparou tudo para que todos ficassem bem, mas nunca para que ele ficasse bem. Ele logo iria morrer mas não se sentia uma boa pessoa nem alguém que teve uma boa vida, ele queria ter tido uma vida que seria feliz lembrando e não que não conseguisse lembrar nada dela.

— Dosz! — Nikolai surge na sala pronto para falar algo, mas vê os decks nas mãos de Dazai e Fyodor e solta apenas um assobio e assiste os dois jogando. Após longos minutos dele percebendo que a partida estaria indefinidamente empatada ele resolve voltar ao que estava falando antes que se esqueça — Bem, o Oguri nos deixou, só queria confirmar se já posso matar ele.

— Uhum, claro. — Fyodor diz indiferente enquanto se mantinha concentrado no jogo e então olha para Dazai — Foi coisa sua?

— Não, acho que não. — Dazai também respondia no piloto automático enquanto calculava as cartas que foram jogadas e as que ele tinha em mãos para saber as que Fyodor ainda tinha.

— Ele estava com um rapaz baixo e um dos antigos integrantes da guilda antes de se deixar ser pego. — Gogol informa e recarrega sua arma — Bem, já vou indo.

— Só tem uma opção para a combinação que ele mencionou. — Dazai comenta conforme o palhaço desaparecia, sabendo quem eram as pessoas que se envolveram com um dos Ratos.

— Ei, Osamu, acho que o jogo já não é mais justo. — Fyodor comenta e Dazai percebe que ele acabou deixando as cartas de uma forma que Fyodor pudesse as ver e o russo levanta — Por mais que seja uma vitória minha, vamos considerar empate.

Dazai tenta retrucar, mas não tem força para isso, sua visão embaça e ele tenta se levantar quando percebe que Fyodor retirava o par de luvas que usava e jogava no lixo junto as cartas.

— Desgraçado… — Dazai consegue dizer antes de cair sobre a mesa e sente seu corpo todo formigar conforme ele escorrega para o chão. Veneno que se adere a pele após tocar por determinado período de tempo. Dazai não deveria estar surpreso, mas se xingava por deixar a guarda baixa. A cada momento que desse a vantagem à Fyodor, mais próximo ele estava da própria morte e isso não era algo que ele queria entregar à alguém.

Dazai não sentia seu corpo, mas via sua consciência ir embora e lutava para impedir isso. Mais da metade do membros principais dos ratos já deve ter caído a essa altura, se tudo foi como Dazai antecipava, restaria apenas Fyodor e o Palhaço agora. Ele notou a ansiedade de Fyodor crescendo e junto a isso sua irritação, quanto mais ele se dedicava a "punir", mais Dazai sabia que estava tendo sucesso. Ele poderia morrer, mas a ADA não estaria mais em perigo. Atsushi continuaria sendo protegido lá e Chuuya continuaria ao lado de Akutagawa. Todos ficariam bem, aquele era o melhor futuro possível. Os cães de caça não serão acionados sem que todas as preliminares sejam concluídas e Dazai felizmente conseguiu destruir elas. Rampo, Fukuzawa ou até Mori, qualquer um deles eventualmente descobrirá sobre isso e eles conseguirão lidar. Acabou para Fyodor, Dazai conhece bem essa sensação de desespero para a reconhecer em alguém.

"Ei, Oda…" — Dazai chega a pensar em seus últimos segundos de consciência, as palavras de Oda ressoavam em sua mente conforme ele aceitava que sua morte chegaria — "Agora eu entendi"

Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora