almas mortas

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Tudo estava escuro quando Dazai abriu os olhos, não ouvia nada também. Ele tenta se mover, mas também não sente resultado. Ele se esforçava para sentir qualquer coisa com qualquer um dos seus sentidos, para entender o que estava acontecendo, mas ele não conseguia. Isso começava ao assustar. Ele queria chamar por ajuda, mas não tinha voz e de toda forma ninguém viria.

"Talvez eu tenha sido pego pela máfia? Afinal, eu os ameacei, então não seria surpreendente. Que chato lidar com isso agora" — Ele pensa consigo mesmo, era mais reconfortante saber que seria preso do que se sentir desnorteado naquela escuridão.

Mas se esse era o caso, ele não entendia o motivo de estar tão consciente. Os segundos pareciam horas, ele estava inquieto. Era uma tortura maior que qualquer coisa física. Sua mente estava sobrecarregada e então tudo só parou. Tudo parou. Ele começou a se sentir mais físico aos poucos.

— As pessoas vivem para poderem se salvar, mas só percebem isso na hora da morte. Você já consegue perceber, Dazai? — Uma voz familiar pergunta, vindo de trás de Dazai.

Ele estremeceu por completo, mas não ousa olhar.

— Eu tentei. — É o que ele consegue responder depois de muito tempo e então respira fundo e vira para o dono da voz — Mas eu preciso de instruções para continuar sendo útil, não para me salvar!

A imagem de Oda continuava lá, parada de frente para Dazai. Aquela mesma sensação que sentiu ao segurar Odasaku em seus braços volta a aflorar; o desejo de saber algo.

— Odasaku, o que devo fazer? — Ele perguntava, sequer conseguia respirar. Seus olhos se moviam sem parar esperando o mínimo dos sinais de resposta, abria e fechava a boca tentado a adicionar algo mais no que tinha a dizer. Dazai lutava com algo muito maior que ele ou Fyodor, era uma luta interna emocional que ele estava perdendo e uma luta racional que estava o matando.

Oda deu um passo, então outro e mais um. Ele andava firmemente na direção de Dazai e apenas o abraça. Dazai não sabia reagir a aquilo nos primeiros segundos, mas logo que vê a situação que está ele afunda a cabeça e começa a chorar ali. Aquilo soava como estar em casa.

— Você não é um santo, nem um salvador. Não adianta ficar lendo as entrelinhas e agindo como um deus, você não precisa mais fazer um teatro, Dazai. — Oda dizia e Dazai se sentia cada vez menos no escuro, como se houvesse uma luz qual Oda poderia o levar. Aquilo era um sonho de morte? Dazai não se preocupou em saber. Ele se sentia tão bem — Eu só queria sua felicidade, mas agora que você pode descansar…

— Você me fez um pedido, eu não posso não o cumprir. — Dazai responde, cortando a fala de Oda.

— É sua forma de dizer que você ainda quer viver? — Oda sorria de forma brilhante e dá um passo para trás.

— Sabe, tem alguém que precisa de mim e eu não posso só deixar ele lá. Não seria uma atitude de uma pessoa boa melhor que você. — Dazai dizia provocando — Eu ajudei órfãos, protegi os fracos e não vou deixar quem mais precisa de mim para trás.

— Eu vou te compensar na próxima vida. — Oda diz suspirando e pondo as mãos na cintura, deu um sorriso orgulhoso e andou para sua luz sozinho. Dazai começou a cair...

E então ele sentia pressão em seus ouvidos vinda aos poucos até estourar e se traduzir aos poucos no som ao seu redor. Ele ainda não conseguia abrir os olhos, mas sentia a luminosidade o alcançar e recobrava os sentidos do próprio corpo, finalmente percebendo o ambiente por completo. Sentia o calor e o local em que estava. Escutava uma respiração irregular acompanhada de soluços e mãos sobre seu peito que vacilaram em fazer força.

Osamu Dazai: Um Homem Em Declínio? (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora