"Eclipse em um Lampejo de Luz" *XueXiao*

~54~

O mundo desapareceu e apenas a luz branca imortal se fez presente no céu escuro, as nuvens já não existiam, embora as próprias estrelas pareciam ter ido embora para bem longe, como uma promessa que já fora esquecida.

Uma fogueira era a responsável pelo frio não chegar até a comitiva já não mais tão pequena... uma cabana servia de abrigo para Xue Yang que estava sendo examinado por Wen Qing e o jovem Meng Zhaoyin, que se mostrava promissor através de seu vasto conhecimento que havia sido passado por Mian Mian.

Sons de instrumentos doces se eram ouvidos e a voz de um jovem discípulo de Jiang cantava cantigas sobre épocas esquecidas, quando a própria relva era mais verde e a magia se mostrava em lagos encantados que forjavam poderosas armas espirituais talhadas por deuses. Todos estavam encantados pelo pequeno show, Jiang Cheng tomava uma xícara de chá sobre um tronco de carvalho e observava a comoção com um disfarçado interesse.

Xiao Xingchen se mantinha afastado do grupo, uma pequena tocha trazia luz para seus pensamentos. A chama tremeluzia nas vestes antes límpidas que agora trazia o sangue mais temido do jianghu, mas para o monge daoista era apenas o vislumbre de uma memória recente e dolorosa. Com um suspiro leve ele fecha os olhos, sentindo a brisa da noite bater em seus fios negros os fazendo voar com ternura.

O mundo estava calmo, mas sua mente se encontrava aos gritos. Por Xue Yang, por Zichen e por Jiang Cheng que ainda achava um insulto ir até os domínios da Lâmina Escarlate... que já fazia sua presença através da poderosa fênix, que descansava ao lado da cabana, como se estivesse protegendo seu Mestre, e A-Qing que dormia sobre as penas do animal, como se fosse a cama mais confortável possível.

"Existe um rio sem correnteza por perto, acho que você precisa tirar o sangue de seu corpo e colocar a cabeça no lugar" Xiao Xingchen olha para cima em direção à voz, parando no sorriso gentil de Lan Xichen "Enquanto se banha eu irei preparar algo sem carne para que possa comer."

Xiao abre um pequeno sorriso "Muito obrigado" Ele olha para as mãos do outro que estendia um dos próprios robes azuis, esse era azul celeste e possuía detalhes mais escuros em algumas partes "Não se incomode, devo ter algo comigo ainda."

"Irá te proteger dos poderosos ventos quando o sol nascer, será um longo caminho para ser percorrido em poucos dias."

Se dando por vencido Xiao pega o robe com murmuros de agradecimento, Xichen apenas assente antes de se sentar ao lado do belo cultivador.

Por algum tempo nenhum dos dois abre os lábios, e apenas o sussurro do vento sobre as folhas das grandes árvores se é ouvido, até que a voz em melodia delicada soa "Acha que ele ficará bem?"

Lan Xichen pensa um pouco "Ele estará bem se conseguirmos chegar à tempo até a verdadeira ajuda, o jovem e Wen Qing estão fazendo o possível para o manter estável até lá."

Xiao assente "Eu deixei Zichen para trás... porque tive medo de perdê-lo" Ele sussurra baixo demais, sua voz parecia trêmula "Eu sei que tudo que Jiang Cheng disse é verdade, sobre os crimes que Duas Faces em Sangue cometeu, mas eu ainda não posso me imaginar o perdendo, eu não quero voltar para os dias sem ele, mesmo sabendo que eu não deveria estar ao seu lado..."

O poderoso Ze-Wu-Jun vê a lágrima brilhar sobre a luz da lua, e apenas movido por seus instintos, ele trás Xiao Xingchen para seu peito... O inigualável monge daoísta se encolhe e respira fundo, as lágrimas descendo uma após a outra, seus ombros caem e apenas o calor de Lan Xichen o envolve. Nesta dobra de tempo, ele não é mais o justiceiro que porta Shuanghua, aquele que saiu da Montanha Celestial em busca de ajudar as pessoas, aquele que sempre parece querer carregar a dor do mundo em seus ombros... Xiao Xingchen é apenas um pobre homem que ainda carece de amor, que entende a mirabolosa perda e teme senti-la.

"Lan Huan..." este sorri ao ouvir seu nome sair dos lábios solitários e logo faz carinho nos longos cabelos de Xiao.

"Não tema suas lágrimas, eu sempre lhe disse que não deveria ser forte o tempo todo... iremos curar Xue Yang e traremos Song Lan outra vez."

Xiao apenas permanece ali por um tempo, como se chorasse por todas as vezes que evitou sentir demais.

■ ■ ■

O silêncio permeava pela montanha, a maioria dos discípulos já estavam em seus respectivos quartos dormindo, e tudo parecia calmo demais, mesmo nos arredores do pavilhão de Xue Yang onde Mian Mian estava sentada com as bestas demoníacas, acariciando seus pelos enquanto observava a lua.

Um sorriso desenha seus lábios ao lembrar de como os animais gostavam de implicar com Meng Zhaoyin, e logo a seriedade retorna para seu rosto, ao se recordar de que o talismã para chamar a fênix fora usado e a algum tempo uma pequena ave demoníaca para recados trouxe notícias não muito boas enviadas por Meing.

Xue Yang estava ferido, e cultivadores justos viriam com ele até a montanha... a pior parte seria para Mian Mian explicar a situação para os demais senhores dos altos picos, que não aceitariam tão facilmente os intrusos. Mas não lhe restava escolhas, já que apenas um dos grandes Mestres seria capaz de poder ajudar Xue Yang em sua totalidade, pois em tempos perdidos antes mesmo dela se aliar à Duas Faces em Sangue, este havia ajudado na absorção das forças do Primeiro Grande Rei Demônio. Ela teria que falar com este de toda forma.

Um suspiro sai de seis lábios e logo um dos grandes tigres albinos deitam em sua perna, como pequenos gatos e rolam de um lado para o outro fazendo o doce som de sua risada preencher o ambiente "Sem Meing vocês não estão tendo com quem brincar não é?"

Seus dedos acariciam as orelhas do animal que fecha os olhos em contentamento. Mian Mian se recorda de quando este chegou à Seita, trazido por Xue Yang enquanto ela estava cuidando de Meng Zhaoyin, que precisava ser segurado com afinco para não seguir seu Mestre por aí.

De uma forma estranha e desajeitada eles formavam uma família, de todo modo, o apreço que ela tem pelo jovem é forte demais para ser contido e a simples ideia dele estar em perigo a mantém acordada desde que ele partiu da Cidade Yi, e por longas noites ela se encontrou neste mesmo lugar, entre as bestas demoníacas que a faziam rir e de certa forma aliviar seus temores.