"Eclipse em um Lampejo de Luz" *XueXiao*

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O amanhecer gélido de Chenlu, apenas parece ter aumentado a melancolia no peito de Xiao Xingchen ao se despedir dos cavalos, ambos permaneceram na propriedade de Xue Yang, com a promessa de que seriam devidamente cuidados, só assim que o mesmo pode deixar o local e então se juntar ao grupo que partiria em direção à estrada.

Por boa parte do caminho todos andaram lado a lado, sendo que A-Qing permanecia um passo à frente para assim observar tudo ao seu redor, com os mesmos olhos brilhantes de sempre.

Era no mínimo uma situação peculiar, pois Xiao Xingchen sempre a observava com cuidado, Xue Yang frequentemente tinha o olhar preso no monge daoísta, enquanto Meing Yin observava os três com certo divertimento.

A cidade mais próxima fica a cerca de um dia de viagem, mas usando as espadas o tempo poderia facilmente ser reduzido, porém tal prática utiliza muita energia interna, e por isso Xue Yang achou melhor apenas realizar tal método após sair dos limites da cidade, assim a energia de seu discípulo seria poupada.

Eles acabam de deixar o núcleo de Chenlu se aproximando cada vez mais de seu fim, Meng Zhaoyin joga um pequeno galho em A-Qing e logo ambos correm de um lado para o outro tentando se acertarem. Xiao Xingchen solta um riso com a cena "Parece que estamos viajando com duas crianças."

Xue Yang olha para o mesmo e sorri "Tem razão, Meng Zhaoyin sempre foi assim e duvido muito que algum dia mudará esse lado um tanto quanto infantil que gosta de provocar as pessoas."

"Se não fosse assim não seria ele" o riso de Xiao se torna lentamente um mero curvar "Xue Yang, sinto que estamos lidando com algo mais sério do que pensávamos."

"O que quer dizer?"

"Eu não sei... apenas acredito que muitas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. As confusões de alguns anos atrás com as grandes seitas, foram as provas reais de como não sabemos de nada, mesmo nas vezes em que pensamos saber de tudo. E agora a agulha dourada em seu quase formato original está outra vez circulando pelo Jianghu, e alguém está usando a Fortaleza como escudo... Isso tudo me faz pensar que pode existir muita escuridão por detrás das cortinas."

A mão de Xue Yang pousa no ombro esquerdo de Xiao, fazendo os olhos negros se conectarem aos seus quase que instantaneamente "Certamente existe muitas coisas que não sabemos, mas não se ocupe tanto com isso... mesmo se for algo mais grave do que julgavamos no início, eu te garanto que não deixarei que nada te aconteça."

"Como você pode dizer isso com tanta firmeza?"

Um sorriso leve toma os lábios de Xue Yang "Pois eu sei que posso derrotar qualquer um que o colocar em risco."

Os olhos do mestre demoníaco brilham em seu interior, e mesmo que para todos os demais a negritude permanece impassível, Xiao Xingchen sente cada detalhe em sua pele e permite que os sentimentos escorram por sua pele e passem para o outro, no momento que as mãos quentes seguram a luva negra pousada em seu ombro.

"Mestre Xue Yang parece tão confiável."

O mesmo abre um sorriso com as palavras de Xiao, as mãos juntas se soltam com certa lentidão, os olhos de Xue Yang passam pelo corpo do outro "O anel interespacial lhe cai bem melhor do que a bolsa qiankun que ficava em sua cintura."

A pele clara levemente é pigmentada em tons rosados, pelas simples palavras de Xue Yang. De longe, A-Qing observa a cena com Meng Zhaoyin e ambos se entreolham por alguns segundos como se partilhassem palavras secretas.

■ ■ ■

Sobrevoar inúmeros territórios em Shuanghua, sempre fazia Xiao Xingchen sentir a paz enebriante percorrer suas veias, nestes raros momentos a própria noção de tempo parece distante demais, quase que irrelevante. Mas desta vez, a mente de Xiao parece tão caótica quanto a própria destruição que o vento pode causar, e todas as vezes que seu olhar pousava em Xue Yang sobre a Cimitarra, algo crescia em seu peito e criava um poderoso furacão em seus sentidos, nem mesmo a voz de A-Qing parecia ser capaz de o trazer de volta tão facilmente.

Desde de que deixou a segurança da Montanha Celestial, Xiao Xingchen havia estado frequentemente exposto à inúmeros tipos de sentimentos novos e emoções intensas. Podendo experimentar pela primeira vez o calor de uma amizade e de um abraço gentil e não maternal, através de Zichen, por vezes provando o medo quando se encontrava em situações desesperadoras, explodindo em raiva diante de uma injustiça, tomando culpa por não poder evitar algo, abraçando a felicidade a cada dia, sentindo a profunda tristeza e desamparo através da perda, mas dentre todas as emoções que já foram provadas nenhuma se assemelha aos traços desta que domina seu corpo sempre que Xue Yang está perto. A situação estranha de sentir o arrepio percorrer seu corpo com tanta facilidade, e um calor incomum arder por sua pele sempre que a luva gélida a tocava.

Quase como se seu próprio corpo já não o pertencesse, e decidisse por puro desejo ou estranheza que seria facilmente influenciado por Xue Yang, que se abalaria com os profundos olhos negros, que se sentiria aguçado por cada toque e se estremeceria sempre que a voz do mesmo estivesse perto demais... É quase cômico a forma com que Xiao Xingchen ignora com tanta inocência a crescente sensação de que o outro lhe conta apenas meias verdades e nunca algo pleno.

A razão e a emoção são conflitantes em sua mente, pois a imagem de Xue Yang é acompanhada de boas emoções e memórias agradáveis, pois o mesmo sempre está disposto a cuidar de Xiao Xingchen e zelar por sua segurança, da mesma forma que zela por Meng Zhaoyin mesmo que de forma mascarada.

Eles provaram de perigos juntos e algumas situações que poderiam levar a morte, e por muitos e muitos dias seguem lado a lado por estradas incomuns e agora caminham em direção à um perigo desconhecido. É natural que Xiao se sinta confortável na presença do outro, mas o afeto que cresce parece único demais para ser ignorado e perigoso demais para não ser real.

Alguns dos grandes romancistas espalhados pelos reinos mortais, acreditam que para se entender a beleza da primavera deve-se passar por dias intensos de frios e galhos secos, só assim a beleza de cada pétala será sentida e compreendida de forma pura... Xue Yang teve muitos dias de inverno e solidão em sua vida, sempre atormentado pela lembrança amarelada de uma brisa primaveril que lhe acompanhou na outra vida e o deixou cedo demais. Assim como um enfermo, seu coração deseja pelo calor e cor da primavera... sem saber que a mesma almeja sua presença e seu calor em um claro silêncio...

Pois enquanto Xiao Xingchen não entende o que são os primeiros indícios do que chamam de amor, Xue Yang não se sente digno para tal e por vezes é ignorante em amar...

Ambos não sabem que para muito além das montanhas isoladas, sobre a neve fria e cortante, belas flores crescem no caminho esbranquiçado e essa é a visão mais linda que poderia existir.