"Eclipse em um Lampejo de Luz" *XueXiao*

~6~

O sol aparecia timidamente no horizonte, despertando a cidade antes mergulhada na mais pura escuridão.

O incensario trazia uma leve fragrância primaveril para o quarto, e esse aroma foi a primeira coisa que Xiao Xingchen sentiu ao despertar.

Logo lhe veio a sensação da maciez do tecido, de textura diferente a que lhe cobria o corpo quando desperto. Sua cabeça doi como se tivesse sido acertado em batalha, mesmo que não se lembre de nada além do cerco e de todos sendo mortos por alguém...

"Em que lugar estou?" Xiao Xingchen tem plena certeza que seus olhos estão abertos, mas nada além da sensação da luz pode ser visto ou sentido. Então é verdade... ele está cego devido ao veneno da agulha.

Xiao Xingchen nunca foi provido de muita sorte, órfão e por algum tempo precisou se virar como pode, até ser levado por Baoshan Sanren para a Montanha Celeste, e desde que saiu da segurança das terras de sua Shizun, muitos perigos o afligiram. Seus primeiros anos vagando foram os piores, fome era comum e ferimentos colecionados também, claro que foi antes de fazer fama no Jianghu, tão estrondosamente que mesmo sendo pobre, é respeitado pelos grandes líderes das principais Seitas, e todos reconhecem sua força, sendo considerado um verdadeiro talento inato.

Para qualquer um, ficar cego tão repentinamente era motivo de desgraça e sofrimento. Mas Xiao Xingchen está acostumado as adversidades, e não se deixa cair em ódio ou tristeza tão rapidamente. Um coração puro de fato.

Como ele poderia se torturar por isso, quando muitas pessoas sequer tiveram a graça de ver a beleza das flores ou a paz dos rios que cortam as montanhas? Xiao ainda manterá as belas paisagens  em mente, como um acalento, mas sem olhar para trás com um sentimento frio, afinal ele ainda tem sua própria percepção espiritual e sentidos mais aguçados devido a seu nível de cultivo, é mais do que precisa para sobreviver.

Enquanto pensa sobre isso, Xiao Xingchen tenta identificar o lugar em que está. Ele se senta na cama e escuta os sons ao seu redor, passos leves acompanhados de rangido de uma madeira gasta pode ser ouvido, vozes baixas quase que sussurradas, o sotaque das pessoas deixam em evidência que ele ainda está na Vila Cayen, em uma estalagem ou uma grande casa talvez, os ventos demoram a chegar em seu rosto, ele está nos andares altos.

Sabendo que os passos ficam cada vez mais próximos, Xiao Xingchen busca a energia de Shuanghua, que parece ávida em encontrar as mãos familiares de seu portador. "Eu terei que o alimentar de novo, sinto que estou cuidando de uma criança..." o som da porta surge, tudo ocorre em segundos.

Meing Yin sequer tem tempo para reagir antes de sentir a ponta fria da lâmina que pressiona sua garganta.

"Quem é você?"

"Meng Zhaoyin, eu te salvei." Ele tenta  se manter calmo, o que não é tão simples estando tão próximo da morte assim "Não é um jeito muito cortês de me agradecer, ainda mais quando estou com o seu desjejum em mãos."

Xiao Xingchen aos poucos abaixa Shuanghua.

"Peço perdão ao jovem mestre." Ele se abaixa com as mãos unidas em concha "Imagino que foi você que cuidou de meus ferimentos."

"Se levante, é embaraçoso me chamar de jovem mestre... estou longe disso."

"Então, como devo chamá-lo?"

Meng Zhaoyin sorri levemente ao caminhar até a mesa de centro, Xiao Xingchen com Shuanghua já guardada se aproxima do jovem.

"Seja informal comigo, eu não sou ninguém. Não precisa de muita educação, pode me chamar pelo nome que já me dou por satisfeito."