Luar Carmesim

Capítulo 52: Suspeita

Qi Rong fechou lentamente a porta de seu quarto, intencionando não fazer barulho. Guzi adormeceu pouco depois de jantarem e ele logo levou o garotinho para seu quarto, acomodando-o na grande cama.

Assim que saiu dali, rumou para o quarto de sua mãe, onde ela o esperava. Durante o jantar, ele mencionou brevemente que gostaria de conversar com ela e, agora que chegou aos aposentos da Senhora Qi, preparava-se para pôr o assunto que vinha rondando sua mente há dias em pauta.

"Guzi continuou dormindo?" A bela mulher indagou. Ela estava sentada em uma poltrona confortável, já vestida em trajes apropriados para dormir. Qi Rong assentiu e sentou em uma poltrona ao lado, praticamente se jogando desleixadamente no móvel. "Sobre o que você quer conversar, meu filho?"

O vice-comandante ponderou por um tempo antes de respondê-la. Ele encarou o teto pensativamente, respirando fundo enquanto parecia organizar sua mente. Virando seu rosto para sua mãe, ele começou a falar: "Eu vi uma pessoa no campo de batalha, era um guerreiro de Hei Senlin..."

Qi Rong interrompeu sua frase, sem saber como explicar ao certo. A Senhora Qi endireitou sua postura, mostrando-se interessada no assunto, como se o encorajasse a falar.

"O rosto dele estava sujo por causa das pinturas de guerra e pelo sangue, mas eu olhei com cuidado quando tive a chance." Qi Rong voltou seu olhar para suas próprias mãos e entrelaçou seus dedos, movendo-os aleatoriamente em um sinal de nervosismo: "Acontece que... acontece que eu percebi que o rosto dele era muito parecido com o meu, eu..."

As palavras pareciam ter ficado presas na garganta do jovem e mais uma vez ele interrompeu sua própria fala. A mãe de Qi Rong tinha seu cenho franzido, como se tentasse compreender antecipadamente o que seu filho desejava lhe contar.

"Mamãe, eu não tenho dúvidas, ele era muito parecido comigo. Exceto pelos olhos..." Qi Rong mudou seu modo de sentar e virou todo o seu corpo em direção à sua mãe, olhando-a seriamente: "Eu tenho os olhos verdes do meu pai, mas você... você tem olhos castanhos, assim como os da sua família."

A Senhora Qi parecia atordoada, seus lábios se entreabriram, mas nenhuma palavra foi dita. Qi Rong suspirou e continuou a falar: "Entende o que quero dizer?"

Após ouvir a pergunta de seu filho, a mulher pensou por alguns segundos antes de responder. O tom de sua voz estava diferente do usual, como se acompanhasse suas fortes emoções: "Quer dizer que ele é um familiar nosso? Como poderia haver alguém da nossa família em Hei Senlin? Qi Rong, isso não faz sentido."

"Eu sei que não faz! E-eu também fiquei confuso, mas eu tenho certeza de que ele era muito parecido comigo!" Qi Rong falou em um tom de voz um pouco mais elevado e, ao ter consciência disso, tentou se acalmar antes de continuar: "Parece loucura, mas se você estivesse lá, teria se espantado tanto quanto eu... Eu não sei quem ele é, mas eu fiquei pensando que, para existir alguém tão parecido comigo e que provavelmente tem uma idade próxima a minha, já que ele parecia ser muito jovem também, e-então..."

"Qi Rong, tudo aconteceu há tanto tempo..." A mãe do vice-comandante balançou sua cabeça, como se negasse aquela possibilidade. Ela resistia em aceitar que aquilo poderia ser verdade: "Todos faleceram... Meu filho, pense um pouco, como isso tudo poderia fazer sentido?"

"Eu não sei..." Qi Rong encolheu seus ombros e abaixou seu rosto, caindo em pensamentos mais uma vez. Por um longo tempo, ele permaneceu em silêncio e sua mãe foi quem falou novamente.

"Deixe esse assunto de lado por enquanto. Se suas suspeitas estiverem certas, então a verdade aparecerá em algum momento." A Senhora Qi suspirou e se levantou, indo em direção ao seu filho para acariciar o topo da cabeça do jovem: "Não fale a ninguém sobre isso. Fica tudo entre nós. Se tiver a oportunidade de enviar espiões a Hei Senlin no futuro, peça que um homem de confiança investigue sobre isso, mas, por hora, finja que não viu nada."