Capítulo 21: O amadurecer de uma mente turbulenta

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Os olhos cansados observavam o teto amadeirado acima de si. Deitado em sua cama, Feng Xin perdia-se em pensamentos ao longo de uma extensa madrugada, apenas divagando sobre seus sentimentos confusos. Uma certa preocupação genuína ocupava a superfície da maré de seus pensamentos: onde estavam os sentimentos ardentes que antes nutria por Jian Lan?

Após negar e evitar pensar sobre tal assunto, Feng Xin deu-se conta de que não poderia mais adiar este encontro com si mesmo. Ele precisava descobrir o que acontecia em seu âmago e, sem que tivesse planejado, aquela noite foi ocupada por suposições e mais suposições. A saudade quase adoecedora que costumava sentir por sua namorada se esvaiu pouco a pouco ao longo dos últimos tempos e a idealização de uma vida em família que antes possuía não lhe parecia mais tão atrativa. Estaria sua mente tentando fugir das futuras responsabilidades que teria ao tornar-se um 'pai de família'?

Não, certamente tal hipótese era descabida. Feng Xin nunca fugiu de suas obrigações, na verdade, muito pelo contrário, ele costumava assumir papéis que nem mesmo lhe cabiam apenas para garantir a proteção e a segurança daqueles que amava. Então, qual era a resposta certa?

"Não consegue dormir?" Em meio ao silêncio noturno, a voz de Mu Qing soou calmamente, como se estivesse banhada em suavidade. Feng Xin imediatamente voltou seu rosto para o amigo, surpreso por ele ainda não ter adormecido.

Mu Qing estava deitado de bruços, como muitas vezes gostava de se posicionar para dormir. Seus fios prateados cobriam seu corpo, brilhando levemente ao serem atingidos pelo luar. O rosto bonito e esbelto estava entre seus braços, os quais se apoiavam no travesseiro, portanto, apenas os olhos profundamente negros podiam ser vistos por Feng Xin. De certo, Mu Qing era uma obra de arte cuja beleza não esmaecia em momento algum.

"Não, eu estou com um pouco de fome..." Feng Xin deixou as palavras saírem por entre seus lábios, mantendo o tom de sua voz baixo, alinhado à atmosfera tranquila que pairava entre os dois soldados. Ele estava, de fato, com fome, mas não era isso que o impedia de dormir.

Mu Qing o observou por mais alguns segundos e logo levantou-se vagarosamente, recolhendo uma faixa em cima da cômoda e adiantando-se para a porta do quarto: "Venha, eu irei fazer algo para nós comermos."

Os olhos de Feng Xin se arregalaram diante de tal frase e ele rapidamente pôs-se de pé para seguir o amigo. Observando-o caminhar à sua frente, Feng Xin notou os fios prateados balançarem em meio aos movimentos de Mu Qing. O cabelo brilhante e sedoso escorria livremente, emanando um cheiro delicioso que enfeitiçava o arqueiro. Dessa vez, no entanto, pouco podia ser visto do corpo de Mu Qing, já que ele utilizava uma blusa de mangas longas e uma calça, ambas igualmente brancas. Contudo, Feng Xin realmente acreditava que aquelas vestes não diminuíam a beleza do amigo. Na verdade, tal vestimenta folgada apenas o deixava mais... adorável.

Os dois amigos desceram as escadas do alojamento e rumaram em direção à cozinha do extenso prédio. Ao longo do dia, as refeições eram preparadas pelas servas e servos que eram responsáveis pela alimentação do exército, mas, em meio a madrugada, aquele cômodo permanecia desocupado. No local, uma mesa de madeira ocupava o espaço próximo à parede e Feng Xin acomodou-se em uma das cadeiras ali, apoiando o cotovelo na mesa enquanto observava os passos de Mu Qing.

O soldado de cabelos prateados pôs-se diante da bancada onde em alguns minutos estaria cortando os legumes. Ele ergueu seus fios até o topo de sua cabeça, utilizando a faixa que trouxe consigo para amarrá-los em um rabo de cavalo firme. A franja longa foi posta atrás das orelhas e em instantes ele buscou água para lavar as mãos e começar o preparo de uma refeição simples.

Feng Xin observava os movimentos do amigo em seus mínimos detalhes e, sem que percebesse, suspirava incontáveis vezes. Ter alguém cozinhando e direcionando-lhe cuidados parecia até mesmo irreal e o calor que irradiava em seu peito lhe mostrava o quanto sentia-se satisfeito com tais ações. Por um momento, uma dúvida lhe ocorreu: a vida de casado seria assim? Um cuidando do outro enquanto este clima de paz pairava sobre uma relação amorosa?

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