Luar Carmesim

Capítulo 49: Luto

Os corpos dos soldados do exército inimigo já haviam sido reunidos em diversas pilhas no exterior de Hei Senlin. Aos poucos, queimavam por um longo tempo e a fumaça fétida viajava por longínquas distâncias. Os feridos já tinham sido recolhidos e recebido o tratamento adequado. Além das casas de saúde existentes na capital, He Xuan havia ordenado que tendas para atendimento emergencial fossem construídas próximas aos portões da cidade, no intuito de que todos pudessem receber os devidos cuidados, sem que ninguém fosse negligenciado.

Com o cair da noite, o almirante diligenciou algumas de suas últimas ordens e partiu para o palácio, finalmente tomando um banho demorado para se livrar de todas as impurezas que cobriam seu corpo. Ao fim, escolheu cuidadosamente um dos cosméticos deixados por Shi Qing Xuan para aplicar em seu rosto. O pequeno pedaço de papel caprichosamente preso ao frasco continha algumas informações deixadas pelo garoto, as quais se referiam à função do cosmético que ele elaborou com as próprias mãos. O cheirinho agradável aliviou parte do estresse de He Xuan, acalmando-o por fazer com que ele lembrasse de seu amante.

No entanto, ele não poderia se demorar ali. Ainda haviam deveres a serem cumpridos e, por isso, o almirante rumou em direção ao escritório da grande construção, pondo-se a escrever uma carta endereçada a Hua Cheng, informando todos os detalhes sobre a batalha. Não muito tempo se passou até que batidas foram ouvidas na porta e, após autorizada sua entrada, um elegante e refinado vice-comandante entrou no recinto. Yin Yu estava impecável.

"Meu senhor, soube que requisitou minha presença."

Após selar a carta com a cera avermelhada, utilizando o selo de almirante para tal ato, He Xuan empurrou o papel dobrado sobre a mesa em direção ao outro: "Preciso que peça a um de seus homens para enviar esta carta a Hua Cheng."

"Sim, meu senhor." Yin Yu pegou a carta com ambas as mãos e a guardou em seus robes negros. "As sentinelas já foram estabelecidas ao redor da capital, por enquanto, nenhum movimento suspeito foi notado. Os corpos de nossos falecidos soldados foram recolhidos e estão sendo preparados para serem apresentados às famílias amanhã na cerimônia fúnebre coletiva."

"Hum." He Xuan assentiu ao ouvir Yin Yu relatar sobre o cumprimento das ordens que havia dado mais cedo. Muitas famílias espalhadas pelo reino já choravam pelas mortes de seus entes queridos, mas, antes que pudessem ter acesso aos corpos, eles seriam devidamente limpos e vestidos com roupas adequadas, visto que, por terem falecido em meio à guerra, certamente não seria agradável para seus familiares vê-los em qualquer estado.

Apesar das baixas não terem sido em grande número, uma quantidade considerável de soldados morreu em batalha. O almirante olhava para a mesa, mas sem mirar qualquer ponto específico. Seu olhar era vago, como se ele estivesse perdido em pensamentos. Yin Yu desvendou o significado do semblante de seu mestre e, aproveitando a oportunidade, continuou a falar.

"Mestre, não tive tempo de agradecer e parabenizá-lo adequadamente. Seu desempenho enquanto comandante principal dessa batalha foi formidável como sempre, as estratégias que planejou foram muito eficazes." O vice-comandante do exército se curvou em respeito, erguendo-se logo em seguida.

"Não há necessidade de tanta formalidade. Além do mais, você e os outros três vice-comandantes enviados por Hua Cheng colaboraram igualmente." He Xuan pontuou, seu semblante estava suave, a seriedade deixada para trás: "Por falar nisso, soube que foi ao campo de batalha para defender Yizhen. Esteve preocupado com seu pupilo?"

Apesar das relações hierarquizadas das forças armadas, He Xuan e Yin Yu já se conheciam há certo tempo. Eles não mantinham uma relação tão estreita quanto a que Hua Cheng possuía com o almirante, mas certamente não eram estranhos um para o outro. Yin Yu era bastante formal, mas isso não impedia He Xuan de provocá-lo sobre certos assuntos. Ao ouvir a provocação do almirante, a expressão de Yin Yu suavizou.