Capítulo XIX

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     Ainda dentro da mente de Nyra...

     Merrick e Malakai agora andavam por uma floresta densa, onde o xamã sabia que ficariam seguros longe da vista e da influência de Mobak. Naturalmente, o mago estava cheio de perguntas sobre algumas coisas que seu pai havia lhe contado.

     — Mas eu sempre pensei que todas essas histórias não passavam de lendas. Você mesmo dizia que eram quando as contava para mim antes de eu dormir.
    
     — Bom saber que você ainda guarda essas recordações, meu filho. — Disse Malakai com um leve sorriso.
    
     — Não desvie o assunto, está bem?
    
     — Ah, sim, claro. ... Bem, acho que, no fundo, eu também queria que fossem. E passei anos tentando convencer a mim mesmo de que eram. Mas são verdades. Todas elas.
    
     — E como um dos dragões primordiais veio parar dentro do corpo da Nyra?
    
     — Onde foi que paramos com a história...? Ah, lembrei-me:

     Tentamos de tudo, mas não conseguimos evitar que batêssemos nos recifes. O navio ficou em pedaços. No dia seguinte, alguns pescadores estavam passando por uma praia, quando avistaram os destroços. Eles correram na direção deles com esperança de que alguém pudesse estar vivo, porém, apenas alguns poucos de nós e em péssimas condições conseguiram sobreviver à tempestade.

     — A tempestade da noite passada foi bem forte dessa vez. Esses aí tiveram muita sorte.
    
     — Pois é. Venha e me ajude a puxá-los até a areia. Espera... O que é isso?!
    
     — O que foi?
    
     — Olhe pra eles! As orelhas pontudas!... Eles são elfos.

     Os dois nos olharam incrédulos. Já tinham ouvido falar dos elfos, mas, ao que pareciam, eles nunca tinham visto tão de perto. Por precaução, eles nos enviaram a presença dos governantes daquele lugar, e por ordem da própria Rainha fomos levados ao palácio.
     Ela mandou que o seu médico real cuidasse dos nossos ferimentos, em seguida nos deram água, comida e roupas novas. Fomos muito bem tratados, apesar do olhar desconfiado da Rainha Vivian. Só depois é que me dei conta de que havia chegado a Ilha de Elimor, e que, por alguma razão, eu era esperado.

     — Vivian?... Mas esse é o nome da minha...
    
     — Sim, Merrick. A Rainha Vivian de Elimor é a sua avó.
    
     — Ela ainda pode estar viva?
    
     — Talvez esteja. Elimorianos costumam ter uma vida longa. Desde que permaneçam na ilha.
    
     — Então, a minha mãe era...
    
     — Isso mesmo. Sua mãe, minha querida Freya, era uma elimoriana. — Disse Malakai de forma nostálgica ao lembrar-se de sua amada.

     Foi através de sua mãe que descobri que as lendas dos dragões primordiais eram verdadeiras. Também percebi que os elimorianos eram muito mais avançados e evoluídos que os humanos comuns, ao mesmo tempo, que sua ligação com a magia era algo que eu nunca tinha visto, ela parecia ser mais forte ali do que em qualquer outro lugar.
     O tempo em que sua mãe e eu estivemos juntos foi a melhor época da minha vida. Teria ficado com ela, naquele lugar, para sempre. Mas o destino tinha outros planos, e sua avó sabia disso.

     — Eu sei o porquê de você estar aqui, Malakai.
    
     — Majestade?
    
     — Ninguém encontra essa ilha, a menos que a própria permita. Se você está aqui, é porque ela viu verdade em sua busca.
    
     — E como sabe que estou buscando alguma coisa?
    
     — Você é atormentado por sonhos que não compreende. Sonhos que você esconde de todos, até mesmo da Freya.

     Desde que cheguei à ilha, senti que aquele era o lugar que aparecia em meus sonhos. Mas estava tão apaixonado por sua mãe, que havia decidido não dar mais atenção aos sonhos e me dedicar totalmente a ela e a fazê-la feliz. No entanto, os sonhos não pararam, pelo contrário, ficaram ainda mais fortes. Então, Vivian me disse que as minhas sensações estavam corretas, aqueles sonhos eram realmente uma espécie de premonição. E que ela também teve vários sonhos como aquele, inclusive um que anunciava a minha chegada a ilha. Ela me levou a um templo antigo que ficava no sopé da única montanha que havia, e lá descobri que aquele lugar era o berço de toda a magia do lugar. Foram nas gravuras do templo que vi elementos muito parecidos as imagens dos meus sonhos.

CRÔNICAS DE HALANOR (LIVRO I) - A lâmina do dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora