Capítulo VIII

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Era noite. Merrick estava deitado na cama improvisada em sua cela. A mesma era dotada de um bloqueio mágico, ou seja, ele não poderia usar os seus poderes para escapar. E por serem hóspedes de Lorde Silfgard, ele também pensou que aquilo não seria uma boa ideia, pelo menos não naquele momento.
Ele estava pensativo. Recordando as últimas palavras que ouviu de seu pai antes do mesmo partir, fugindo de Tarion e carregando alguma coisa consigo.

- Sei que parece que eu estou sendo cruel com você, meu filho, e acredite, eu sinto muito. Mas é preciso. Eu tenho uma tarefa muito importante para realizar. E tudo o que quero é proteger você, e para que isso aconteça, precisamos seguir caminhos separados.

"Você era cheio de mistérios, Pai."

Foi então que ele teve seus pensamentos interrompidos por uma visita.

- A estalagem em Ainst parece mais aconchegante agora, não é?

- Katherine!... O que faz aqui?

- Vim saber como você está.

- Bom... O aposento é espaçoso, a cama é ligeiramente confortável... Só o serviço de quarto que é péssimo. - Brincou Merrick.

- Imaginei. - Ela sorriu. - Por isso, te trouxe algo descente pra comer. - Disse ela lhe entregando uma cesta com algumas coisas para que ele pudesse se alimentar.

- Não precisava ter se incomodado com isso, Katherine. - Ele aceitou a boa ação, mas ficou sem jeito.

- Não é incômodo algum. ... Éldar nos disse o motivo de você estar aqui atrás das grades.

- Sim. Eu disse que ele poderia contar. Não é bom que haja desconfianças no grupo.

- Parece injusto pra mim.

- Estamos nas terras deles, Katherine. São suas leis. E eles possuem certa razão.

- Era o seu pai, Merrick. Você só quis ajuda-lo. Qualquer um teria feito o mesmo.

- Sabe, às vezes fico pensando e me pergunto se realmente fiz a coisa certa naquela época.

- Você não é uma má pessoa, pelo contrário, é o homem mais corajoso e honrado que já conheci.

A preocupação de Katherine por Merrick era genuína. Eles haviam se conhecido há pouquíssimo tempo, mas ela sentia que não estava errada sobre ele. Todas as vezes que seu falecido avô falava sobre o mago, o descrevia como um homem sério, com um leve senso de humor, mas com um grande coração. E aos poucos, ela estava comprovando que Nolan estava certo.

- Não sou tão virtuoso quanto pareço, Katherine. Também tenho os meus pesos na balança da vida.

- Merrick, eu não conheço o seu passado. Para mim, o que importa é quem você tem demonstrado ser até agora. Um homem que, mesmo tentando disfarçar, se importa com os outros, principalmente com os amigos. Um mago que acreditou em uma Mestra de Forja atrevida que mal sabia o que estava fazendo quando o desafiou dizendo que construiria aquela bússola. E que depois salvou a vida dela. Algo que ela nunca esquecerá. Você é uma boa pessoa, Merrick. E o fato de ter cometido ou não um erro em ajudar o seu pai naquela época, não vai mudar isso.

Merrick já tinha vivido alguns séculos. Passou por muitas experiências. Mas nunca sentiu seu coração ser tocado pelas palavras de alguém como naquele momento. Katherine possuía um temperamento forte, como ele mesmo já comprovara outras vezes, mas também sabia ser doce e gentil. E aquilo o estava cativando, mesmo que não quisesse admitir.

***

Proximidades da Muralha Verde.

Por ordem do Rei Salazar, Seleny criou um portal que conseguiu levar o exército liacaniano para o mais próximo que conseguiram sem levantar suspeitas do Reino Élfico. A partir daquele ponto eles deveriam seguir a pé, o que não era nenhum problema para os Cães de Caça do Rei de Liacar, já que os mesmos estavam acostumados às longas marchas. Eles não reclamavam do frio, ou do calor, ou da chuva. Não eram soldados comuns. Nasceram para o combate, eram a elite do exército. A Guarda Pessoal do próprio Rei, seu exército particular.
Muitos diziam que quando o Rei Salazar usava os seus Cães de Caça, podia-se ouvir os gritos de homens, mulheres e crianças por todos os lugares por onde passavam. Eram como demônios espalhando caos e destruição.
No campo de batalha eram habilidosos, rápidos e ferozes. Liderados pelo Rei em pessoa, seus ataques eram altamente letais com poucas possibilidades de sobreviventes, a não ser que Salazar assim desejasse. E como o alvo, dessa vez, era Tarion, a qual o soberano de Liacar ansiava em conquistar a muito tempo, e ele sabia da fama dos elfos de serem grandes guerreiros, ele viu aí uma chance de colocar essa fama à prova. E ao mesmo tempo ter uma batalha gloriosa.

CRÔNICAS DE HALANOR (LIVRO I) - A lâmina do dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora