Ao longe, Olívia observava à distância enquanto Nyra colocava uma corda nova em seu arco, as duas criaram um tipo de afinidade depois que a caçadora salvou seu filho Héctor, o próprio menino já havia se apegado a ela. Pensando nisso, era mais que natural que, como amiga, ela quisesse saber um pouco mais sobre a moça que a ajudou.
— Olha Mamãe! A Nyra está me ensinando como colocar a corda no arco! — Disse o menino todo empolgado. — Logo, logo vou poder ser caçador igual a ela.
— Estou vendo. Mas antes disso acontecer, acho que você deveria testar seu arco primeiro, que tal?
— Sim! — O menino levantou-se rapidamente e correu para praticar.
— Fique por perto, Héctor.
— Pode deixar mamãe.
Nyra permanecia em silêncio, apenas deu um leve sorriso com a alegria do menino por estar aprendendo uma coisa nova.
— Prepare-se, Nyra. Ele vai seguir você para todo o lugar agora.
— O Héctor é um bom menino.
Foi então que Olívia entrou no assunto.
— Você nunca fala de si mesma Nyra. Por quê?
— Porque não há o que falar.
— Ah, o que é isso. ... Todos possuem uma história. Qual é a sua? ... Tem família?
— Tive.
— O que aconteceu?
— Morreram quando minha aldeia foi destruída.
— Que terrível. Quantos anos você tinha?
— Oito.
— Você anda por aí sozinha desde os oito anos?! — Espantou-se Olívia.
— Desde que consigo lembrar-me.
— Deve ser muito triste viver assim.
— Com o tempo, acabei me acostumando. E no fundo, foi melhor assim.
— Mas agora você não precisa mais ficar sozinha. — Disse Olívia segurando a mão de Nyra, que correspondeu em agradecimento. Em seguida pegou sua adaga, seu arco e se preparou para sair.
— Aonde vai?
— Até a floresta.
— Tenha cuidado. Essa floresta pertence aos lobos. — Disse Rover surgindo. — Muitos caçadores que se aventuraram por lá não voltaram.
Nyra assentiu com a cabeça concordando, mas ainda assim, seguiu seu caminho para fazer o que ela fazia de melhor.
— Sua amiga é um pouco estranha, não?
— Ela não é estranha, Rover. Ela é solitária. E parece preferir assim.
— O que quer dizer?
— Os olhos dela, Rover. Eles carregam muita tristeza e um fardo que ela se recusa a dividir com mais alguém, mas que parece ser muito pesado para carregar sozinha. — Disse Olívia imaginando todo o sofrimento pelo qual sua amiga já deve ter passado.***
Reino de Tarion
Muito depois da Muralha Verde — floresta densa que separava as fronteiras — ficava Tarion, lar dos elfos governados por Lorde Silfgard.
Chamados de os Primeiros Descendentes, os elfos foram, realmente, a primeira raça a existir no continente que um dia foi um grande dragão. Muito tempo depois, não se sabe como, outra linhagem foi surgindo e se espalhando: a peculiar e problemática raça dos homens.
Houve uma época em que elfos e humanos viviam em harmonia. Os primeiros ensinaram alguns segredos da forja para os homens; em troca, os homens juraram nunca usarem esses segredos uns contra os outros. Porém, como algo recorrente entre os humanos, eles não cumpriram o juramento, dando início ao que, mais tarde ficou conhecido como Guerras Halonianas. Reino contra reino; nação contra nação. Um conflito que manchou de sangue o solo do Continente de Halanor, quase levando a raça dos homens à extinção.
Revoltados e tristes com a falta de palavra, a desonra e a ganância dos humanos, os elfos se isolaram em um território afastado e com magia antiga ergueram a Muralha Verde. Não quiseram mais nenhum contato com os homens, e garantiram que estes nunca invadissem seus domínios.
A partir de então, ficou decretado que os elfos nunca mais tomariam parte em confrontos humanos. Um elfo só poderia lutar para proteger outro elfo. E como essas regras já estavam lá antes de Silfgard tornar-se lorde, era sua obrigação segui-las e respeitá-las. Por essa razão, as fronteiras de Tarion eram muito bem vigiadas.
Entretanto, alguns soldados que pertenciam a uma tropa de reconhecimento relataram uma estranha movimentação próxima aos limites da muralha.
— Lorde Silfgard.
— Fale Comandante.
— Foi detectada a presença de alguns humanos.
— Onde?
— Ruínas de Phienald.
— Estão se aproximando das muralhas. — Disse Silfgard. — Descreva-os Comandante.
— Até o momento, é um grupo composto por quatro membros. Três homens e um rapaz. Um deles possui o brasão do Reino de Varlos. Possivelmente um cavaleiro. Os outros, por não possuírem brasões deduzimos que podem ser mercenários.
— Um cavaleiro não estaria andando com mercenários à toa. O que o Rei de Varlos pretende mandando um de seus cavaleiros para tão longe de seus domínios?... Não podemos arriscar. Comandante?
— Milorde?
— Prepare os trolls. E fique de sobre aviso. Se eles conseguirem passar pela Muralha Verde e adentrarem nosso território, terão muito que explicar.
Enquanto isso, os conselheiros de Tarion se reuniram no templo sagrado dos elfos, onde apenas eles, e o próprio Lorde Silfgard tinham permissão para entrar.
— Parece que, finalmente, Malakai conseguiu o que queria quando fugiu daqui levando a sua cria mestiça e aquele objeto amaldiçoado. — Disse Coran, um dos conselheiros.
— Não adianta nos lamentarmos por algo que aconteceu há séculos, Coran. — Retrucou Oberon. – O erro foi nosso em não termos desconfiado das verdadeiras intenções de Malakai.
— E agora toda a Halanor pode estar em perigo, inclusive nós. — falou Razin. — Não devíamos alertar Lorde Silfgard quanto a isso?
— Nosso Rei possui outras preocupações, no momento. — Continuou Oberon. — Tomei a liberdade de mandar espiões com o intuito de rastrear o nosso objetivo.
Do outro lado, além do Palácio Prateado, uma figura estava no jardim. Seu vestido arrastava pela grama fofa que possuía um verde exuberante. A jovem parecia procurar por algo. Incessantemente, ela olhava de um lado para o outro e coçava a sua cabeça, tentava de toda a forma lembrar-se em que lugar tinha visto o objeto de sua insistente procura. Seu nome era Tari, sobrinha de Silfgard. E ela era vigiada de perto por seu grande e fiel guardião, o elfo Erahndiel.
Os Elfos Guardiões eram fisicamente diferentes dos elfos comuns. Eram mais altos e possuíam grande força física, além de uma grande percepção de combate, ou seja, sua maça muscular não atrapalhava sua agilidade. A função desses elfos, como o nome já diz, era proteger os tesouros de Tarion. E para Silfgard, não havia tesouro maior que sua sobrinha.
— Mas onde será que essa Flor de Fogo se escondeu?... Eu a vi por aqui ontem mesmo. — Dizia ela enquanto procurava.
— A sua esquerda Princesa. — Falando Erahndiel surgindo de repente.
— Ai, que susto!
— Perdão.
— Está tudo bem. Em algum momento vou ter que me acostumar com isso, não é?... Olha só! Está aqui. — disse ela olhando na direção indicada pelo Guardião e encontrando a flor. — Obrigada Erahndiel. Esqueceria da minha cabeça se a mesma não estivesse sobre os ombros. — O elfo deu um leve sorriso quase imperceptível, pois sabia que aquilo tinha um fundo de verdade. — Erahndiel?
— Princesa?
— Você já viu um humano alguma vez?
— Sim. Quando eu era mais jovem. Já faz alguns séculos.
— E como eles são?
— Tolos, imprudentes, egoístas, mesquinhos, gananciosos e com um tempo de vida ridiculamente curto. — Respondeu o Guardião com desdém. — Mas por que esse interesse nos humanos agora, se me permite a pergunta?
— Nada demais. Leve curiosidade. — Desconversou Tari.
Se havia uma coisa que Erahndiel sabia era que, quando se tratava da Princesa, as palavras “leve” e “curiosidade” não se encaixavam na mesma frase.
A verdade era que a elfa tinha ouvido a conversa de seu tio com o Comandante da tropa de reconhecimento. E por mais que seu amigo e Guardião tenha lhe falado e muito mal — dos humanos, aquilo não diminuiu em nada o seu interesse em querer saber mais sobre aqueles seres.
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CRÔNICAS DE HALANOR (LIVRO I) - A lâmina do dragão
FantasyNyra é portadora de um poder gigantesco, do qual ela pouco sabe e tenta manter sob controle. Em sua jornada ela conhecerá o melhor e o pior das pessoas. Ela terá que fazer uma escolha, e desta pode resultar a salvação ou destruição de tudo. ...