Capítulo XVII

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     Tudo estava sendo preparado para o ritual que Merrick e Nyra fariam. Eles precisariam estar em um lugar tranquilo onde não pudessem ser incomodados em hipótese alguma. E não apenas isso, o local também deveria possuir uma aura especial para que o feitiço desse certo. Com todas as características que o mago descreveu, só havia um lugar que se encaixava no perfil: as Catacumbas de Dufals, o lugar mais sagrado para os anões, onde os seus guerreiros do passado foram sepultados com todas as honras. Mesmo um pouco receoso, o Rei Thorgrak concordou e permitiu que o ritual se realizasse no mausoléu de descanso dos anões.
     Além de Merrick e Nyra, a pedido do próprio mago, Éldar e Katherine os acompanharam.

     — Tanto lugar pra fazer esse ritual, Merrick... Por que tinha que ser uma catacumba? — Disse Éldar. — Lugar mais sombrio.
    
     — Está com medo, cavaleiro? — Brincou o mago. — Justo você, que já enfrentou perigos incontáveis, está com medo de um mausoléu?
    
     — Muito engraçado. ... Pelo que me lembro, da última vez que você fez esse feitiço, não precisou que estivéssemos em uma catacumba.
    
     — As circunstâncias eram diferentes, você bem sabe.
    
     — Espera... — Disse Katherine. — Vocês já fizeram isso antes?
    
     — Sim. — Respondeu o cavaleiro. — Foi necessário para que Merrick e eu estabelecêssemos o nosso elo mental.
    
     — Vocês conseguem saber o que um ou outro está pensando?
    
     — Não funciona assim, Katherine. — Disse o mago. — Não podemos entrar na mente um do outro sem permissão.
    
     — Privacidade é fundamental em uma boa amizade. — Completou Éldar sorrindo.

     Apenas Nyra permanecia em silêncio por todo o caminho, o que não significava que não estava apreensiva pelo que ia acontecer.
     Os quatro foram passando pelas galerias de túneis que as catacumbas possuíam, somente com suas tochas iluminando aquele caminho escuro. Ao chegarem ao ponto onde o feitiço seria realizado eles encontraram duas lápides, uma ao lado da outra, como se fossem duas mesas de pedra.
     A caçadora sentiu um arrepio em sua espinha. Um medo antigo que a acometeu repentinamente.

     — Você está bem? — Perguntou Éldar amparando-a.
    
     — Estou... Apenas recordações ruins vieram em minha mente por um momento.
    
     — Ainda está em tempo de mudar de ideia.
    
     — Não. Está tudo bem. Eu preciso fazer isso.

     Do outro lado, Merrick e Katherine também conversavam. A forjadora parecia preocupada com aquele ritual.

     — O Capitão parece muito preocupado com esse feitiço.
    
     — Ele tem suas razões.
    
     — Como assim?
    
     — Alguns efeitos colaterais. — Disse o mago.
    
     — Tipo?
    
     — Ele ficou inconsciente por três dias, e eu sem os meus poderes por um mês.
    
     — O quê?!... Isso quer dizer que esse feitiço é perigoso?!
    
     — Existe um risco considerável.
    
     — Maravilha... — Disse ela ironicamente. — Mais alguma coisa que eu precise saber?
    
     — Para tentar diminuir os riscos é que você e o Éldar estão aqui. ... Éldar, sua runa ainda está visível?
    
     — Sim. — Disse ele levantando a manga de sua camisa e mostrando o desenho gravado de uma runa em sua pele.
    
     — Ótimo. ... Katherine me dê seu braço, por favor.

     Ela estendeu o braço e Merrick começou a passar o seu dedo sobre a pele dela usando magia para gravar uma runa. Mesmo sendo uma forjadora acostumada com o calor intenso, Katherine sentiu um pouco de desconforto.

     — Desculpe-me. Prometo que a dor vai passar logo.
    
     — Tudo bem. Se isso for ajudar em alguma coisa... Ai!

     Logo em seguida, o mago iniciou os procedimentos do feitiço.

CRÔNICAS DE HALANOR (LIVRO I) - A lâmina do dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora