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Lalisa

"- Oi, meu nome é Lalisa, hoje é dia.. quinze de março e eu estou aqui esperando a minha namorada se arrumar, iremos ao cinema, a sessão começa às sete e já são seis horas, e ela ainda está arrumando o cabelo.

- Hey, isso demora está bem? Sempre demora.

- Você é enrolada demais, morena. Isso sim. Vamos assistir uma baboseira romântica, porque quando você está apaixonada por alguém, você faz tudo para vê-la feliz.

- Não é um sacrifício tão grande assim, Lili, é só um filme.

- Poderíamos ver um filme de terror, o que acha?

- Não! Você sabe que eu não gosto!

- Estão vendo? Sacrifícios são feitos quando você ama alguém, vou me lembrar desse vídeo quando estivermos casadas, Nini. Vou poder falar que sempre fiz sacrifícios por você!

- Você é muito boba, me ajude a secar o meu cabelo, se não iremos sair daqui só amanhã!

- Você, Jennie do futuro que provavelmente será a minha esposa, ainda é mandona assim? Provavelmente, mas vou te amar também, sempre vou te amar. Câmbio desligo!"

Desliguei o celular após olhar o vídeo pela terceira vez, meus olhos encontraram com o branco da parede e o universo do passado reinou em minha mente, me fazendo negar e ir logo para o banho, demorando mais do que eu queria, ou deveria, ali esfregando os pensamentos para fora de mim, as lembranças e os sorrisos, ela tinha alguém agora, e eu não a amava mais.

Não amava mais o seu sorriso gengival, nem a covinha que se criava quando ela sorria, não amava mais a sua risada, muito menos o fato dos seus olhos ficarem pequenos quando ria, não amava mais o seu cabelo, que agora estava na altura do ombro e com um corte perfeitamente lindo que havia combinado com a mulher que ela se tornava, não amava nada vindo dela.

Eu não a amava mais.

Cai na cama exausta, tão cansada, mas não conseguindo desligar o meu cérebro pra nada, me limitei em pegar o celular, eu não poderia.. eu não deveria ver mais daquilo.. me mataria um pouco mais se.. o aparelho já estava em minhas mãos conforme eu procurava, o que havia sido o meu antidepressivo durante aqueles treze anos.

"- Oi! Eu sou a Jennie, namorada da Lisa, hoje é dia vinte e quatro de abril, um domingo, e ela está aqui jogando futebol com os amigos. Olha.. ela é aquela ali.. espera, deixa a câmera focar.. ali! Aquela ali! Bonita ela não é? LILI!

[Risadas ao fundo conforme Lisa faz um coração com as mãos e manda um beijo para Jennie]

- Bom, espero que a Lisa veja esse vídeo, e espero que ela ganhe também, sempre venho torcer por ela aos domingos, e estou aqui! Será que quando nos casarmos você continuará jogando, Lili? Eu espero que sim, porque eu sei que você adora futebol, e eu tenho certeza que irá ensinar os nossos filhos a amarem também. Te amo, Lili!"

Engoli seco, assim que a sua imagem congelou na tela, ela fazendo um biquinho para poder beijar a câmera, os olhos pequenos e eu lembro da sua reclamação sobre o sol naquele dia. Observei, ela quase não havia mudado dês daquela época, só havia crescido e ganhado um pouco mais de seriedade, de fato ganhado belas curvas e uma voz mais potente do que antes.

Não, chega, eu vou dormir agora.

Desliguei e joguei o celular mais para o lado, fechando os olhos e me forçando a tentar dormir, mas foi difícil realmente.

...

- Bom, vamos ver os nossos recursos. Laila e Lohan são seus filhos biológicos, temos um ponto, você foi embora quando Laila tinha um ano e Lohan dois meses e só voltou depois de treze anos, perdemos aquele ponto. É, Lisa.. será difícil ganhar qualquer coisa assim.

- E a parte que a Jennie nunca falou de mim pra eles, não conta?

- Não, ela ficou com eles, cuidou deles sozinha, ela tem que essa opção então não é nenhum crime.

- E sobre o cara ter colocado o sobrenome dele nos dois, sem o meu consentimento, isso pode ser trocado, não é?

- Sim, pode, mas levará um tempo para justificar. O que temos que entender aqui é que o juiz não irá ceder, nem mesmo uma guarda compartilhada, se ele ouvir a história, ele vai ficar do lado da Jennie, e ela tem vantagens, Lisa, você sabe que ela tem.

- E se.. não contarmos a história para o juiz?

- E como você irá querer ganhar algo assim?

- Talvez.. - levantei um pouco os olhos para a minha advogada, tirando de dentro do meu casaco um talão de cheque, o assinando com um valor considerável, empurrando sobre a mesa até ela - Ele possa rever o resultado.

- Você quer comprar o juiz?

- Não, não estou fazendo isso, estou ajudando ele a pensar de uma forma mais.. clara e paternal.

- Ah.. - ela olhou para o cheque - Acho que isso ainda é muito pouco.

- Avise a ele que tem muito mais da onde saiu esse, e que se ele aceitar me ajudar, quem sabe esse valor possa triplicar, não é? Vá, Halsey, faça o seu trabalho, eu sei que você irá conseguir isso para mim. Não é atoa que eu te pago.

- As suas ordens, senhorita Manoban.

Digitei uma rápida mensagem para Jennie, avisando que e em pouco tempo estaria lá, com os documentos para serem assinados, não esperando por sua resposta em seguida.

Eu tinha certeza que ele seria comprado, e foi o que aconteceu, não demorou tanto para que Halsey retornasse com os papéis apropriados, anulando qualquer chamativa ao tribunal para um caso "padrão", o que era mais fácil para mim. Assinei mais um cheque e mandei entregar a ele mais uma vez, seguindo caminho até o escritório de Jennie.

Abri a porta e não esperei por sua reação, coloquei os papéis em sua frente e a encarei durante um bom tempo, esperando por seu escândalo, por sua reclusão e negação em assinar, mas ela não fez isso, leu cada folha em silêncio, não me encarando em momento algum, alcançou a sua caneta e assinou cada lugar que deveria, aquilo me deixou surpresa.

Jennie não iria lutar contra aquilo?!

- E sobre a mensalidade? Como irá ficar? - perguntou - Porque se você quer ser uma mãe presente, separada, terá que contribuir com algo.

- Dois mil pra cada, está bom pra você?

Ela deu de ombros e entregou os papéis de volta pra mim e por alguns segundos.. senti vontade de perguntar se ela estava bem, porque.. aquela não era a Jennie que eu conhecia, a Jennie real, lutaria para bater o seu ponto de vista e provar que ela era a única com direitos ali, mas ela não fez isso..

- Então você irá buscar eles nas sextas à noite e o trará de volta no domingo a tarde?

- Exato.

- Você comprou o juiz, não é, Lalisa? - me olhou fixamente, mas ela estava cansada de algo, a sua voz me mostrava cansaço - Esse caso no mínimo levaria três meses para ser executado, teria uma assistente social para Laila e Lohan, uma primeira chamada ao tribunal para só depois darem o veredito final. Eu sei o que você fez.

- Que bom que sabe então. Vejo você na sexta à noite.

Fechei a porta e parei.. meus olhos se abaixaram para o papel e.. eu senti uma vontade de voltar e.. conversar com ela, sobre qualquer coisa, até mesmo estaria disposta a ouvi-la me xingar mas.. não. Ela tem o Zachary agora.

Ela era feliz com ele agora.

All these years (Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora