A HISTÓRIA DE VIGGO

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Comovido, Soluço ajudou o desconhecido a se levantar e o levou até uma cadeira, onde o sentou com cuidado e lhe ofereceu um pouco de sua comida. Depois de satisfazer sua fome e sede, ele agradeceu pela humilde refeição e quis saber:

‒ Quem é você, rapazinho?

‒ Eu sou Soluço e esse é o Banguela.

‒ Ele é um Fúria da Noite!

‒ Exatamente. Foi ele quem te farejou.

‒ Então, também sou muito grato a ele. ‒ disse afagando a cabeça do dragão, que parecia já ter se afeiçoado a ele.

‒ E quem é você afinal?

‒ Meu nome é Viggo Grimborn. Foi meu próprio irmão quem me prendeu daquele jeito.

‒ O seu irmão? Mas por quê?

‒ Ryker e eu nunca nos demos bem. Nós somos de uma tribo de caçadores de dragões, mas enquanto ele quer seguir a tradição da família (tentando exterminar todos os dragões da face da Terra), eu só quero protegê-los de gente como ele.

‒ Quer dizer que seu irmão te odeia porque você não quer caçar dragões?

‒ Isso mesmo. Sempre fui fascinado por eles e meu maior sonho era encontrar um Fúria da Noite, mas eu achava que estivessem extintos.

‒ Eu sei. O Banguela deve ser o último da espécie.

‒ Quando criança, aprendi a caçar e a lutar e todas as noites, era obrigado a ouvir nosso pai contar histórias sobre suas caçadas e ele não esquecia de mencionar nenhum detalhe sórdido. O Ryker adorava essas histórias, mas eu tentava evitá-las ao máximo, sendo chamado de covarde. Apesar de meu comportamento diferente do resto dos homens da tribo, papai tinha fé que eu mudaria quando ficasse mais velho, mas isso não aconteceu. Anos mais tarde, meu irmão se tornou o novo líder dos caçadores e como já tinha idade, fui obrigado a me juntar ao grupo também.

‒ E o que você fez?

‒ Fiquei encarregado de fazer as redes e armadilhas para os dragões, mas sempre dava um jeitinho de sabotá-las, para que arrebentassem pouco depois da captura. Ryker ficava furioso comigo, mas eu alegava problemas com o material e pedia perdão, prometendo fazer melhor da próxima vez. Usei esse truque por quase dois anos.

‒ Você foi muito esperto. Mas e depois?

‒ Tornei-me responsável pelas armas e logo dei meu jeitinho de torná-las menos letais, cegando as espadas e machados e arredondando as pontas das flechas e lanças. Quando capturavam algum dragão, eu chegava às escondidas e quebrava os cadeados das jaulas, para que eles pudessem escapar.

‒ Seu irmão e os outros caçadores nunca desconfiaram de nada?

‒ Caçadores podem ser ferozes em combate e leais aos seus superiores, mas não são muito inteligentes. Com o passar do tempo, o Ryker finalmente deduziu que eu estava por trás de tudo e tentou me matar com um machado, mas por algum motivo, alguns de seus homens me defenderam e ele me deixou em paz por alguns meses, desde que eu não interferisse mais em seus negócios. Então, tive que ficar quieto e deixar que capturassem dezenas de dragões inocentes. Eu fui um covarde...

‒ Mas se você já não era uma ameaça aos negócios dele, por que o Ryker te prendeu aqui?

‒ Há uma semana, encontramos alguns ovos de Transformasa em uma ilha não muito longe daqui e o Ryker pretendia vendê-los nos Mercados do Norte. Eu tentei impedi-lo, mas fui ignorado como sempre. Viemos para essa ilha e na calada da noite, saí escondido para devolver os ovos, mas quando estava prestes a partir em um bote, aquele louco me surpreendeu e me atacou. Nesse momento, os Transformasas apareceram por todos os lados, fazendo os caçadores fugirem em pânico, nos deixando para trás.

‒ Isso explica a bagunça lá fora.

‒ Furioso, o Ryker me culpou pela fuga de seus homens e me arrastou pra cá, onde nos atracamos feito duas feras. No final, ele me prendeu naquele buraco e deve ter escapado no bote que eu tinha pegado. Sempre soube que ele era meio doido, mas naquela noite, acho que meu caro irmão perdeu o pouco de juízo que ainda lhe restava.

‒ O que pretende fazer agora?

‒ Sou bem mais esperto que o Ryker e sei muito bem como me defender, mas tenho medo que ele volte e me mate com as próprias mãos, já que não conseguiu das outras vezes. Ele me odeia com todas as suas forças...

Soluço observou Viggo por um instante e ficou encantado com o laço que havia criado com Banguela, pois não parava de acaricia-lo desde que começara a contar sua história. Ele realmente era um grande amigo dos dragões e precisava ser protegido.

‒ Eu vou te levar para Berk. Lá você estará seguro. ‒ disse gentilmente.

Emocionado, Viggo se levantou e tornou a abraçá-lo.

‒ Nunca pensei que alguém seria tão gentil comigo. Eu te devo a minha vida, Soluço.

‒ Eu só cumpri o meu dever. Além do mais, um amigo dos dragões, com certeza é amigo meu.

Como já estava ficando tarde, os dois tiveram que passar a noite ali mesmo, mas antes de dormir, trataram de se proteger e recolher o necessário para a viagem. Enquanto Soluço cuidava dos suprimentos, Viggo recolhia seus pertences que estavam espalhados pela tenda que dividia com o irmão, entre os quais um tabuleiro de Bastões e Garras, seu jogo favorito.

Enquanto isso em Berk, os amigos de Soluço se arrependiam por terem recusado seu convite para ir em busca de aventura e se perguntavam quais descobertas incríveis ele teria feito até aquele momento.

ASAS DA AMIZADEOnde histórias criam vida. Descubra agora