CORAÇÃO PARTIDO

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Durante todo o caminho até Berk, Soluço parecia anestesiado e nenhum pensamento passava por sua mente. Chegando em casa, ele permanecia mudo e coube a Astrid explicar a Stoico o que havia acontecido;

Já em seu quarto, o jovem abriu a caixa onde guardava seu tabuleiro de Bastões e Garras e tomando a peça favorita de Viggo, a contemplou por um longo e doloroso instante, lembrando dos bons momentos que passaram juntos.

‒ Adeus, meu amigo.... Jamais te esquecerei... ‒ disse amargamente.

Colocando a peça de volta no tabuleiro, Soluço a derrubou gentilmente, como se ela simbolizasse o amigo que se foi. Com um aperto no peito, o rapaz parecia relutante em fechar a caixa, mas quando o fez, se debruçou sobre ela e desabou em pranto.

Astrid e Stoico estiveram na porta o tempo todo, mas não ousaram entrar em respeito à sua dor. Voltando-se para a garota, o chefe sussurrou:

‒ É melhor você ir agora. Eu cuido dele.

Depois que ela se retirou, Stoico se aproximou do filho e pôs a mão em seu ombro, não encontrando palavras para aliviar seu sofrimento. Voltando-se para o pai, Soluço se atirou em seus braços, buscando refúgio.

De repente, o jovem perdeu os sentidos, sendo amparado pelo pai e levado até sua cama. Nesse momento, Banguela entrou no quarto e se postou ao lado do amigo, recebendo um afago de Stoico, que lhe pediu:

‒ Por favor, cuide do meu menino. Ele precisa muito de você.

O chefe se retirou por alguns minutos, para tranquilizar os amigos do filho, mas quando voltou ao quarto, ele já estava ardendo em febre e delirando. Aflito, Stoico mandou chamar Gothi e Perna de Peixe (um dos poucos que conseguiam traduzir os rabiscos que ela fazia com o cajado).

Sabendo da perda que Soluço havia sofrido, ela logo deduziu que aquela febre era emocional. Triste, Perna de Peixe traduziu:

‒ Ela disse que somente o tempo pode curar um coração partido. Lamento muito, chefe.

‒ Eu entendo, mas não podemos fazer nada para diminuir essa temperatura? Ele está queimando!

Usando algumas ervas, a curandeira conseguiu baixar a febre, mas Soluço ainda estava agitado, pois a cena da queda de Viggo no vulcão não parava de se repetir em sua mente, bem como suas palavras de despedidas, que ecoavam a todo momento.

Banguela permaneceu ao lado da cama o tempo todo e preocupado com o amigo, ele o afagou gentilmente com o focinho e para surpresa dos demais, isso o acalmou na hora. Percebendo que o jovem precisava descansar, Gothi e Perna de Peixe se retiraram, deixando-o sob os cuidados de Stoico, que rezava por sua cura.

Quando a febre cedeu, Soluço abriu os olhos de súbito e encontrando o olhar atento do pai, foi logo dizendo:

‒ Ele não nos traiu.

‒ Acalme-se, filho. Você precisa descansar.

‒ O Viggo se entregou ao irmão para nos proteger.

‒ Fique calmo, Soluço. Depois você me explica.

‒ Não, pai. Você precisa dizer a verdade ao povo. O Ryker só veio se livrar do irmão e se o Viggo não tivesse ido com ele, Berk seria destruída e nossos dragões capturados. Ele já amava nossa ilha tanto quanto nós. Eu o encontrei em uma cela em chamas! Ele caiu dentro de um vulcão só para me salvar..., mas eu não consegui salvá-lo...

‒ Filho...

‒ Ele era nosso amigo! ‒ ele disse aos prantos.

‒ Calma, Soluço. Eu vou contar a verdade para o pessoal, mas agora você precisa descansar. Vai ficar tudo bem.

Quando o jovem se acalmou, enfim conseguiu adormecer, sendo velado por Banguela. No dia seguinte, Soluço permanecia de cama e recebeu a visita de seus amigos, que tentaram alegrá-lo, mas nada surtiu efeito.

Ele parecia em transe: seu corpo estava rígido como pedra e o único sinal de vida que ele apresentava eram os movimentos sutis de seus lindos olhos verdes, que abriam e fechavam de vez em quando. Todos lamentavam seu triste estado, pois ele já não lembrava em nada aquele rapaz alegre e cheio de vida de antes e se perguntavam se ele conseguiria superar a perda de Viggo algum dia.

ASAS DA AMIZADEOnde histórias criam vida. Descubra agora