─ Não toca no meu rádio!
Essa é a briga da vez.
Estamos indo para o evento agora. Não é tão longe – uns quarenta minutos de carro, de acordo com o trânsito que, hoje, tá pior que qualquer outro dia.
Desde que entramos no carro de Aaron, ele monopolizou a droga do rádio. Estamos há vinte minutos dentro do carro, e cinco desses vinte estivemos parados no trânsito. E eu fui obrigada a ouvir indie rock o tempo todo.
Não me leve a mal, eu curto também. Mas eu preciso de algo animado. Qualquer coisa.
O que nos leva de volta à nossa briga,
─ Então coloca outra coisa!
─ Não.
─ Por que não?
─ Porque o carro e o rádio são meus, e eu decido o que ouvir.
Me calo depois disso. Aaron está, visivelmente, morrendo de nervoso por ter que confrontar o pai daqui a pouco, mas isso não é desculpa pra descontar nada em mim.
Se bem que ele é sempre um idiota comigo. Não sei se isso foi de propósito ou se foi inconsciente. Ah, foda-se.
Cinco minutos depois, finalmente começa uma música que gosto. Back To Black, da Amy Winehouse. Tento não me sentir muito animada, mas no refrão... é impossível. Começo a cantar baixinho, sentindo um arrepio na minha espinha que vem sempre que escuto uma música que me afeta.
Mas adivinha? O filho da puta ao meu lado passa de música.
─ Eu não acredito que você passou de música só porque eu gostava dessa. ─ falo, indignada. Ele dá de ombros. ─ Pelo amor de Deus, Aaron. Vê se cresce.
Fico emburrada o resto do caminho. Demoramos mais do que quarenta minutos, por causa do trânsito. E, quando chegamos, me surpreendo com a quantidade de carros luxuosos parados do lado de fora. Estou falando de Ferrari, Camaro, Lamborghini... esse tipo de coisa.
─ Preciso te dizer como se comportar? ─ Aaron pergunta, quando nos encontramos na frente do carro dele.
─ Comer com as mãos, falar de boca cheia e...
─ Cassandra.
─ Eu sei como me comportar, Aaron. Sozinha, pelo menos. Nunca tive um namorado falso antes.
─ Correção: você nunca teve um namorado antes.
Me ofendo.
─ E como é que você diz isso com tanta convicção? Não nos falamos depois do ensino médio.
─ Você teve um namorado, Cassie? ─ fico calada. ─ Pois é.
Reviro os olhos.
─ Só... Vamos fingir que amamos um ao outro. Você pode fazer isso?
─ Fingir que amo alguém? É claro! Faço isso todos os dias. ─ ironizo, e ele bufa.
─ Só não me olha como se quisesse me matar, e o resto a gente improvisa.
─ Vai ser meio difícil, mas acho que consigo.
Ele estende a mão, e hesito um segundo antes de pegar. Caminhamos, pela primeira vez, lado a lado, e entramos na mansão.
Demos, sem brincadeira nenhuma, cinco passos adentro. E o pai dele apareceu.
─ Aaron! ─ ele solta a minha mão para dar um meio abraço no pai, mas depois a pega de novo. ─ E você deve ser a minha nora. ─ não perco a ironia na voz dele, mas o cumprimento mesmo assim.
─ Cassie Jackson, senhor. ─ aperto sua mão. Vejo a surpresa em seus olhos.
─ Cassie? Filha do Dr. Jackson? ─ assinto, a contragosto. ─ Que maravilha! Acho que temos uma reunião de família, então.
Não. Porra, não.
Olho para Aaron com pânico, mas ele parece muito bem com a santa paciência.
Ele é melhor nisso do que eu. Deveria ter pedido algumas dicas, no final das contas.
─ Ótimo. ─ ele diz, com um sorriso contido. ─ Podemos? ─ ele aponta para o centro da festa.
─ Claro, claro... Tenho alguns colegas que querem conhecê-lo. ─ o pai de Aaron diz, e depois me olha. ─ Não se preocupe, temos uma mesa para as mulheres também.
Assinto, um pouco desconfortável.
─ Aaron, me acompanha?
Ele parece relutante em nos separar, mas segue o pai mesmo assim. Os observo até ele chegar em um grupo de homens engomadinhos e então tomo o meu rumo para a mesa das mulheres. Quanta babaquice.
Me sento em uma cadeira e me ocupo em contornar os desenhos na toalha de renda bege na mesa. Faço isso de novo e de novo, até que a cadeira ao meu lado é ocupada. Me virei, pronta para reclamar com Aaron, só que... não é ele. É meu pai.
─ Não te vejo por duas semanas, e de repente você está noiva? ─ ele ironiza. ─ Isso diz muito sobre sua personalidade, Cass.
─ Eu não... ─ não posso dizer que é tudo armação. Seria ruim para Aaron. Se eu foder tudo, tá na cara que ele vai me mandar embora sem pensar duas vezes. ─ Pensei que eu não fosse mais uma Jackson. ─ falo isso com o queixo erguido.
Ele não se abala.
─ E não será, de fato. Quanto tempo até substituir o Jackson por Liebregts? Um mês? Dois? ─ não respondo. ─ Cassandra Liebregts, a arquiteta. Não a Dra. Jackson.
─ Nunca a Dra. Jackson. ─ garanto, o olhando nos olhos.
─ Eu já deveria saber.
Fico em silêncio, esperando ele sair. Mas ele não sai. Ao invés disso, ele continua me olhando, com desafio nos olhos.
─ Você tem sangue Jackson, de fato. ─ ele diz com tanta convicção que me faz odiá-lo. ─ Faz qualquer coisa para conseguir o que quer. ─ ele se levanta, sorrindo. ─ Estou orgulhoso apesar da sua traição, Cassie. Você finalmente aprendeu algo.
Acho que eu vou vomitar.
Pressiono uma mão na barriga enquanto cruzo qualquer corredor, procurando por um banheiro.
─ Cass? ─ a voz de Aaron me intercepta, e quase desmaio de alívio. ─ Você tá pálida. O que aconteceu?
─ Banheiro.
Ele passa o braço pela minha cintura e me leva até uma porta branca. Não tenho nem um segundo para admirar o luxo mesmo na porra de um banheiro; caio de joelhos na frente do vaso sanitário e, dois segundos depois, Aaron cai ao meu lado, segurando o meu cabelo para trás.
Nem dez minutos.
Nem dez minutos, e eu já me arrependi de ter vindo.
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pretending ꪵ
FanficOnde Aaron precisa de uma noiva falsa, e Cassie precisa de um lugar para morar. jan. 18th / ap. 10th © magicklaus, 2022