𝖲𝖨𝖷 | 𝖺𝖺𝗋𝗈𝗇

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Nunca significa boa coisa quando meu pai me liga

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Nunca significa boa coisa quando meu pai me liga. Nunca mesmo.

Então eu não atendo. Apenas porque, se for urgente, ele vai me ligar uma segunda vez – se isso acontecer, eu atendo; se não, eu sigo a minha vida.

Mas ele liga. É claro que liga.

─ Pai.

Aaron, você não sabe atender o maldito telefone?

─ Eu atendi. ─ me faço de idiota. ─ O que você quer?

Preciso que você me acompanhe em um evento neste sábado. E no próximo.

─ O quê? Não! Nós temos um combinado.

O combinado é você fazer o que quiser da vida até seu dever como meu filho o reclamar. Mas você me pediu um favor, e agora estou retornando.

─ Porra nenhuma! Eu vou fazer os malditos cursos no verão, essa foi a sua condição.

Você faria os cursos de um jeito ou de outro. Minha condição agora é essa. Apareça, ou eu peço gentilmente à Nate Hacker para que ele reconsidere a necessidade de uma milésima secretária naquela empresa. ─ quase posso vê-lo sorrindo. ─ Então? Estamos entendidos?

─ Estamos.

Estou prestes a desligar quando sua voz retorna.

Ah, Aaron!

─ O quê?

Venha acompanhado, sim? ─ franzi o cenho.

─ Como assim?

Talvez eu tenha deixado escapar para um colega ou outro que você ficou noivo recentemente.

Só. Pode. Ser. Brincadeira.

─ E por que caralhos você fez isso?

Porque você já tem quase vinte e dois anos, e deve assumir o meu lugar no futuro. Não é bom para outros olhos que pensem que você é apenas um idiota largado sem nenhum compromisso com nada. ─ ouço o triunfo em sua voz. ─ Então venha acompanhado.

Sem nem mais uma palavra, encerro a maldita ligação.

Talvez Raven aceite ir comigo. Ou Riley, apesar da nossa aversão um ao outro.

Ren ainda está sem celular, e Riley provavelmente está na aula agora. Eu preciso de um tempo para... digerir, então dirigir até lá não é uma má ideia.

Pego a chave do carro e desço de elevador até o térreo.

Estou prestes a entrar no meu Audi A3 preto quando um carro me chama atenção, pela familiaridade. O mesmo carro que estava estacionado ao lado do hotel, há alguns dias.

É o carro de Cassie, um Tesla cinza.

Não preciso forçar a visão para vê-la dentro dele. Mas o que me surpreende é que ela está com as duas mãos no volante e o rosto entre elas. O tremor em seus ombros me diz que ela pode estar rindo ou chorando – e, devido a sua posição, a primeira opção não parece muito possível.

Antes que eu perceba, estou andando até lá. Paro perto da porta e dou duas batidinhas na janela. Ela se assusta um pouco, mas se recompõe, secando o rosto, e aperta o botão que faz o vidro descer.

─ Aaron. De novo. ─ ela tenta brincar, mas não funciona muito.

─ Você prefere me contar o que tá rolando aqui embaixo ou lá em cima? ─ penso se fui muito... direto? Mas Cassie funga uma vez, tira a chave da ignição e abre a porta.

─ É bom que você me faça um chocolate quente.

Quase sorrio com o seu jeito mandão de sempre, mas ainda estou mal humorado por causa do meu pai.

Cassie sobe comigo até o meu apartamento, e não tem restrição alguma quando chegamos. Ela se senta no sofá, quase deitada na vertical, e me observa pelo balcão aberto enquanto eu vou fazer o chocolate quente que ela, tão carinhosamente, me pediu.

─ Só pra deixar claro, isso não significa que eu gosto de você. Porque eu não gosto. ─ ela diz, enquanto eu ainda estou na cozinha.

Isso o que, coração? 

─ Isso. Eu, na sua casa. ─ olho de relance e pego o seu dar de ombros.

─ Ok. ─ despejo o chocolate em uma xícara e vou até ela. ─ Seu chocolate quente.

Ela parece ligeiramente surpresa, mas assopra o chocolate e toma um gole.

─ Há quanto tempo nos conhecemos, Cassie? ─ pergunto, mesmo que saiba a resposta.

─ Desde os dezesseis, o que nos dá cinco anos. ─ ela responde.

─ Cinco anos. Muito tempo, certo? ─ ela acena com a cabeça. ─ E, acredite em mim, eu sei muita merda que você já fez na adolescência. Mas você não me viu por aí espalhando, viu? ─ ela balança a cabeça. ─ Então você não precisa se preocupar em me contar o que tá rolando.

Ela toma um grande gole do chocolate quente e suspira profundamente. Depois disso, ela coloca a xícara na minha mesa de centro, e então me olha.

─ Você sabe da história da minha família na medicina, certo? ─ concordo com a cabeça. ─ Eu decidi pular fora, e comecei a estudar arquitetura no começo do ano. ─ ergo as sobrancelhas. ─ Eu consegui esconder isso do meu pai, e minha mãe mora em Boston com a minha irmã, então... não foi tão difícil. Mas há alguns dias, onze, para ser exata, ele descobriu e... É, ele me deu um ultimato: desisto do meu sonho e vou estudar medicina, ou saio de casa.

Uau.

─ Então... Eu acho que sou uma sem-teto agora.

Solto uma risada fraca e sem humor.

─ Parece que a maioria das crianças ricas têm problemas com o pai, não é? ─ ela ri também, mas não responde. ─ Se a minha melhor amiga não tivesse quebrado o nariz do seu pai, eu mesmo teria feito isso. O seu pai é um babaca, sempre foi.

─ É, eu sei dis... Espera aí, o que você disse? ─ ela franze a testa.

─ Há umas duas semanas atrás, a Raven, minha amiga, foi demitida porque bateu com a bandeja na cara de um idiota que passou a mão no corpo dela duas vezes; eu fui mexer uns pauzinhos pra ver se conseguia ajudar ela a arrumar outro emprego, e acabei descobrindo que o idiota era o Dr. Jackson. Seu papai.

Ela leva cinco segundos para raciocinar, então dá de ombros.

─ Foi merecido.

De fato, foi mesmo.

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