1. Prólogo

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"A forma como nos conhecemos, como nossos olhos se cruzaram e um sorriso estonteante surgiu em seus lábios avermelhados me fazia hipnotizar, era como se..." não, como contar quando nos conhecemos? Vamos lá, do início, Louise. "Era dia trinta e um, ele era um dos soldados feridos da guerra, chegará aqui para que eu pudesse examiná-lo. Ver como estava, se estava bem e se poderia ir para a casa. Para o conforto de sua família.

Ele não parecia ruim igual a outros soltados que chegavam aqui, mas tinha fraturado um braço e precisava ficar em repouso, estava um pouco desidratado e fraco pela fome. Seus olhos pareciam assustados, ele não conseguia fixá-los em um ponto específico, ficará procurando por inseguranças. Será que ele sempre foi assim?

- Não se preocupe, olhos lindos, cuidarei de você. E, aqui, não precisa ter medo, estamos protegidos e você está bem. - eu lhe disse, tocando em seu braço bom. Dei-lhe meu melhor sorriso reconfortante, olhando bem dentro daquelas íris carameladas que dão vontade de mergulhar dentro.

Chegavam soltados feridos há todo momento. Alguns carregados em macas, outros em cadeiras de rodas ou bengalas e outros... Nem chegavam. Era sempre uma dor informar o óbito para a família, mas era o nosso dever. Lembro-me de estar exaurida*, assim como todos os outros médicos e enfermeiros e, com toda a certeza, os soldados também estavam.

Não era uma primeira ou segunda Guerra Mundial, mas era uma guerra, existiam pessoas feridas, doentes e mortas. Infelizmente. E isso não planejava ter um fim tão cedo. Os primeiros soldados foram liberados para as suas casas e eu ainda estava com os olhos lindos. Era assim que eu o havia apelidado.

- Olá, olhos lindos! - eu disse com um sorriso, enquanto enfaixava seu braço esquerdo quebrado. - Como se ente hoje? - perguntei.

Eu me preocupava com os meus pacientes, muito mesmo. Não pude ver muito mais do que as barracas estendidas para examinarmos os soldados, mas já sentia a forma como o ar mudava por aqui. O cheiro de fuzil, o eco das bombas caindo sob o solo, só isso já se tornava terrível e desesperador, então, imagina estar realmente lá?

Ele ainda procurava por movimentos na surdina, quando levantava-se para ir ao banheiro, tinha os passos tão lentos e preocupados que me deixava preocupada vê-lo assim, ou a qualquer outro soldado que fazia a mesma tática que ele. Fora isso, novamente, olhos lindos estava bem. Exceto sua aparência magricela. Mas neste dia específico foi tudo diferente. Ele tinha um brilho nos olhos, andava com confiança, ou aparentava ter confiança se era aquilo o que ele queria passar para todos nós. Infelizmente, quando nossos olhos se encontraram, eu entendi, essa confiança toda é medo. Medo por saber que, apenas um braço quebrado, não o faria voltar para a casa.

- Me sinto ótimo, babe! - ele era realmente o que mais se parecia saudável mesmo, mas seu olhar perdido e o medo escancarado em seus olhos brilhantes cheios de confiança ainda me deixavam preocupada. Não com a sua saúde física, mas mental. O que ele tinha visto lá, deve ter sido extremamente ruim para não querer voltar nunca mais.

- Você ainda está com o olhar perdido. Está tudo bem. - afirmei acariciando seus fios dourados e dei-lhe um sorriso reconfortante. - Você está seguro agora, eu prometo.

O soldado Bieber sorriu agradecido para mim, sorri de volta para ele, antes de tacar-lhe um beijo em sua bochecha esquerda. Ele respirará profundamente e fechará os seus olhos. E eu? Bem só tinha uma necessidade crescendo em meu coração, era doce e crescia há cada segundo. Eu queria cuidar dele, para sempre."

Meus olhos estavam cheios de lágrima e eu continha um sorriso grande nos lábios. Embora os dias lá fossem ruins, eu sentia falta de parte dessa época, de como havíamos nos conhecido, nada por um acaso, e eu sentia falta da forma como eu havia cuidado dele. A guerra havia acabado há alguns anos, ele estava em casa, são e salvo. E eu sabia disso porquê, logo depois disso, saímos algumas vezes e acabamos nos apaixonando. Não víamos a hora de vivermos juntos então, com toda a intensidade do mundo, nós logo nos casamos e hoje temos uma pequena filha de apenas alguns dias de vida. Clara é o seu nome. Porque ela trouxe luz para as nossas vidas.

Olhava para o texto que escrevia no meu notebook e sorri, cliquei no botão de enviar e agora o arquivo carregava nas páginas de milhões de outras pessoas. Eu estava, aos poucos, contando a nossa vida e era uma forma de ela ser eternizada e lembrada por muito, muito tempo.

O telefone, por incrível que pareça, tocou bem alto naquela noite, atendi-o pensando ser minha mãe ou a pediatra da bebê, eu ainda estava com um sorriso fora do comum nos meus lábios.

- Alô? - eu disse.

- Justin Bieber? O soldado Justin Bieber está? - engoli em seco, congelando o corpo por inteiro. Havia muito tempo que eu não ouvia a voz do general, e mais tempo ainda que eu não ouvia a palavra "soldado" seguida de "Justin Bieber". Respirei bem fundo, e ouvi na outra linha o general perguntar se tinha alguém. Eu devia dizer que não conhecia nenhum Justin Bieber. É, eu devia mesmo dizer isso.

- Sim. eu vou chamá-lo. - meu coração palpitava acelerado no meu peito, a preocupação tomava conta de mim, do meu ser. Carreguei o telefone até o banheiro, onde ele se encontrava, e dei três batidas na porta antes que eu pudesse entrar. - É o general, ele quer falar com você! - eu disse e minha voz já saia embargada pelo choro, eu sabia o que isso queria dizer, estava tendo uma nova guerra, a qual ele precisava lutar.

Entreguei o telefone para ele, que se enrolará rapidamente na toalha e o pegará com os dedos molhados de minhas mãos trêmulas. Justin olhou para meus olhos afim de ver algo além de lágrimas, mas eu o desviei sem pestanejar, não queria que o meu amor me visse com lágrimas nos olhos com medo por ele. Eu precisava ser forte, tão forte quanto ele estará sendo nesta guerra. Deixei-o sozinho, mas conseguia ouvir parte da conversa de fora do banheiro.

- Sou eu. - ficou um silêncio por um tempo, provavelmente o general estava falando agora - Mesmo? - seu tom de voz mudou, estava preocupado, talvez até mesmo assustado - Quando eu preciso ir? - novamente, silêncio - Onde devo esperar? - silêncio, mas desta vez foi mais rápido - Ok, tchau.

Minutos depois eu ouvi a porta abrir, ele segurava o telefone em uma das mãos e caminhará até mim, seu olhar estava duro, frio e não parecia o mesmo Justin de todos os outros dias que convivia comigo, mas é claro, Louise, esse é o Justin da guerra. Aquele que sente medo por sua vida, aquele que luta por motivos de outras pessoas.

- Eu preciso ir. Amanhã cedo. - ele disse e eu entendi o que ele quis dizer com "eu preciso ir". Precisa ir para uma guerra. Longe de mim, longe da Clara e longe do conforto e segurança que um lar poderia trazer.

- Você não pode. - disse aos sussurros, com medo e chorosa - Nós temos uma bebê, ela tem alguns dias de vida, você precisa vê-la crescer, meu amor. Precisa estar conosco agora. - eu disse em meio a lágrimas.

Justin segurará as minhas mãos firmemente, entrelaçando-as e as apertando, deixando-as escondida por suas enormes mãos. E então eu senti. Senti-o comigo, ele estava comigo nessa, também sentia medo e conhecia minha preocupação por ele, meus medos com o amanhã.

- Eu vou ficar bem, vai ficar tudo bem. - sua mão subiu nos meus ombros, me acariciando. Ele segurou as maçãs do meu rosto e me deu um selinho delicado e demorado. Aprofundei nossos toques, puxando-o para um beijo. E não, ainda não era nosso beijo de despedida.

Through Chance [reescrito]Onde histórias criam vida. Descubra agora