9. Memories of a good time and carelessness

11 1 4
                                    

Chamei um médico que estava passando e o perguntei se podiam liberar o Justin para uma caminhada ao ar livre, o médico em questão olhou os prontuários de Justin por algum tempo, e minha filha que não é nada ansiosa ficava brincando com o meu colar e com algumas mechas do meu cabelo que não pareciam em nada com o seu.

                — Médico? — ela perguntou, e pela nossa proximidade com o doutor, Clara conseguiu cutucá-lo, quase fiquei envergonhada por isso — Ele é o meu papai, sabia? — Clara estava mais exibida que nunca pela presença de Justin, o seu papai. É bom para mim dizer que ele é o papai dela, imagina para ela mesma? Ela nunca havia o visto e, mesmo assim, sentia falta da de alguém, da presença dele. Quer dizer, é o papai dela, ela nunca o viu e nem sabíamos se veria – até porque ele havia sido dado como morto.

                — É mesmo? — o médico perguntou, dirigindo toda a sua atenção a ela — E você quer levá-lo para passear? — ele continha um sorriso nos lábios.

                — Aham. Poxo? — minha filha, com toda a sua educação, perguntou para o mesmo que concordou com um leve aceno de cabeça. Ele pediu que ela prometesse que iria alimentá-lo lá fora, e ela concordou ainda mais animada.

                O médico saiu da sala e, rapidamente, pediu que uma enfermeira trouxesse uma cadeira de rodas para esse quarto. Ela assim o fez e nós descemos pela rampa com Justin na cadeira. Clara estava sentada no colo dele e tagarelava bastante com ele, que ria e me deixava ainda mais apaixonada por esse homem.

                — Papai, voxê canta pla mim? — ela balançava sua cabeça de um lado para o outro e brincava com a gola da camiseta que Justin vestia.

                — Que música você quer ouvir, pequena? — ele perguntou acariciando as bochechas da menor. Clara pareceu pensar por um instante, olhando para todos os lados, e parando de balançar a cabeça.

                — A dona alanha! — ela pediu.

                — Ah, essa eu não sei, você me ensina? — ele perguntou com um sorriso brincalhão.

Era óbvio que ele sabia, e eu sabia disso pois, assim que descobrimos a minha gravidez, uma das primeiras coisas que Justin fez, foi comprar uma pilha de CD's infantis e decorou todas as músicas – e cantou para ela, dentro da minha barriga – até o fim da gravidez.

— Enxino. É assim: A dona alanha xubiu pela palede, veio a chuva foite e a delubou. Já paxou a chuva, o xol já vem sugindo e a dona alanha continua a xubir. Ela é teimosa e desobediente, xobe, xobe, xobe e nunca tá contente! — ela cantarolou dançando e movimentando as mãozinhas no ritmo da música.

Justin começou a cantar junto com ela e, pouco tempo, quando decorou os movimentos de Clara, também moveu suas mãos no ritmo da música. As vozes dos dois ecoava por todo o corredor que nós andávamos. Pattie e minha mãe logo começaram a cantar e eu também. Quando a pequena criança ouvia alguma de nós três cantando com ela e seu pai, seu sorriso aumentava e sua voz também, uma das vezes pedi que ela cantasse mais baixo para não incomodar os outros pacientes.

Quando chegamos lá embaixo, Clara desce então do colo de Justin e vai rapidamente para o balanço, levei Justin até um banco e me sentei ao seu lado. Afastei seu cabelo dos olhos, que estava enorme desde o dia que ele saiu da nossa casa para aquela guerra. Seus olhos mel que eu tanto amo não tiravam Clara de foco e ele continha um sorriso nos lábios.

— Ela é tão linda! — ele me olhou após algum tempo. Eu sorri e concordei com a cabeça.

— Nossa filha é realmente a pessoa mais perfeita que podíamos fazer juntos. — segurei as mãos de Justin e o olhei nos olhos — Eu não me lembro de já ter te agradecido você por ela ou por não ter morrido de verdade... — ri fraco — Então quero fazer isso agora. — conclui.

Through Chance [reescrito]Onde histórias criam vida. Descubra agora