5. My destruction and my rebuilding

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                “Carta aberta ao grande amor da minha vida.

                Havia um mês que a carta que dizia que você está morto tinha vindo para mim pelo correio. Havia um mês que eu perdi você para Deus. E, hoje, um mês depois, estamos enterrando um caixão com nada menos do que alguns pertences que fizeram parte da sua vida. Você, um homem tão bom, tão alegre e tão feliz com a vida, sendo enterrado com nada menos do que um urso de pelúcia bobo que você deu para a Clara, nossa filha, assim que ela nasceu, alguns broches que você colecionava, sua camisa do time de hockey favorito e suas medalhas dadas pelo general que o matou. Canalha. Eu sei que você o admira, mas eu o odeio. Você está sendo “enterrado”, enquanto ele deve estar festejando por aí.

                A única coisa que nos faz acreditar que é mesmo o seu caixão, é a foto na lápide, seu nome e a bandeira por serviços prestados a comunidade. Grande merda. Você merecia mais. Merecia viver. Merecia estar comigo.

                De meus olhos não paravam de escorrer lágrimas, minha boca clama por você em silêncio, os lábios estavam secos e as minhas bochechas inchadas. Eu só queria que tudo isso fosse uma grande mentira. Que você surgisse no horizonte com um sorriso enorme e nos contasse que foi tudo uma piada. Uma piada sem graça.

                Sua mãe, pobrezinha, está fraca, precisou ser dopada, não aguentou velar o seu caixão, mesmo que ele estivesse vazio. Nossa filha olha para o chão sem entender o que está acontecendo. Como eu explicaria, futuramente, quando ela perguntar sobre você – e ela vai perguntar – que você foi um nobre herói de guerra que morreu lutando para salvar o seu país, sem deixar que as lágrimas escorram? Como eu serei forte sem você aqui para me ajudar?

                Hoje foi um dia negro, o mês inteiro teve chuva na cidade onde moramos. Onde eu moro e você deveria estar. Tiveram fortes tempestades e algumas partes da cidade ficaram alagadas. Malditos humanos que entulham os bueiros! Eu não consigo mais sentir pena. Não sem você aqui. Era você quem iluminava os meus dias, era você quem me dava outro ponto de vista e me fazia entender os problemas, mesmo que você também os culpasse por alguns alagamentos na cidade.

                Ah, amor. Como sinto a sua falta, e parece que, agora que eu sei que você nunca vai voltar, ela aumenta a cada dia. Eu olho as nossas fotos todas as noites, sonho com você chegando em seu belo Porsche – comprado sem o meu consentimento – e me beijando até eu despertar. Malditos sonhos que só me iludem.

                Queria contar como foram os meus dias, mas eles têm sido tão pretos no branco que seria sem graça para você ouvir de onde está me vendo e, para dizer a verdade, daí de cima você deve estar acompanhando tudo, tomando sua tão inseparável Coca-Cola e comendo pipoca divina. Talvez até esteja sentindo pena desta pobre moribunda e nossa pequena filha.

                Queria, também, saber com terminar esta carta, não faço a mínima. Então queria dizer para, por fim, não se preocupar com a nossa filha. Clara será bem cuidada pelas avós, aliás, já está sendo, e, por mim, talvez, quando eu conseguir me levantar da cama para amamentá-la, mas posso lhe dizer, ela está crescendo linda, saudável e muito esperta. Já sabe segurar seus próprios brinquedos e dar altas gargalhadas com as avós e de mim quando me estresso com algo, como agora.

                Toda, eterna, completa e somente sua,

                Lou.”

                Terminei o texto e as lágrimas voltaram aos meus olhos, está deveria ser minha última mensagem no blog, pois já não fazia sentido escrever se ele não estava mais presente aqui comigo. Nada mais fazia sentido sem ele.

Through Chance [reescrito]Onde histórias criam vida. Descubra agora