Desde que meu marido saiu de casa para aquela guerra a qual está lutando agora, pensei em diversas maneiras de continuar o relato do nosso amor. Mas não tinha maneira mais fácil do que dizer a verdade. E eu sentia o peso do medo e da culpa caindo em meus ombros. Medo de acontecer algo com ele e culpa por tê-lo deixado ir, quando eu podia ter impedido. Não sei o que eu poderia falar que o impediria de sair da cidade, mas eu poderia usar a criança, a nossa criança, como um meio de fazê-lo ficar. Afinal, Clara só tem apenas alguns dias de vida, ainda é uma bebê recém-nascida, mas, mesmo para ela e seu tamanho minúsculo, ainda é difícil não conviver com o papai. Aquela pessoa caridosa e de coração enorme que a faz pular e meu coração fraquejar com o medo de ela cair de seus braços, mesmo sabendo o quão forte eles são para segurá-la e sabendo que ele nunca deixaria sua pequena recém-nascida cair ao chão.
“Desde que você foi para a guerra, o meu coração tem estado apertado. A dor é enorme, o medo e a frustração de nunca mais poder o ver somente crescem em meu peito. Passei várias noites em claro, não consigo mais ver meu puerpério da mesma maneira, não consigo mais cuidar da nossa filha da mesma forma. Ainda a amo, mas sinto a sua falta, e isso tem estragado minha relação com a nossa filha. Não o culpo por isso, não se preocupe. Acho que, desde que você foi, e eu tenho estado em meus piores dias, usando o mesmo pijama surrado que você tanto odeia, eu me tornei depressiva. É uma maneira de me proteger caso receba notícias ruins suas, eu acho.
Todas as vezes que o telefone toca, desde que recebi uma ligação sua no último mês, desço as escadas correndo para atendê-lo. Imagino que sejam notícias sobre como você está novamente. Não temos nos falado desde aquela noite, quando me ligou. Por que o permiti que fosse? Eu deveria ter insistido mais que ficasse. Mas eu também o amo demais para não o permitir fazer o que gosta. Você nasceu para isso, meu amor.
Sinto que vou receber notícias suas em breve, portanto, Clara e eu não saímos de perto dos telefones. Ela mama, dorme, chora pelas fraldas, é trocada tudo comigo presa aos fios dos telefones, esperando. Não aguento mais só esperar, mas é o que eu posso fazer por enquanto, certo? Como é difícil ser esposa de soldado.
Certo dia, não me lembro quando, mas, assim, logo que você se foi para o outro lado do continente, vi uma frase bem assim: “Amar é te desejar sempre. Amar é sonhar contigo. Amar é sempre esperar que a ligação seja a sua”, não sei quem escreveu, mas acalmou meu coração um pouco, pelo simples fato de que eu senti como se tivesse sido para mim. Quando você vai me ligar? Quando vão me dar notícias suas? Eu sinto sua falta.
Tenho estado diariamente na frente da televisão, aguardando ansiosa notícias sobre a guerra. Ao que tudo indica está calmo, e todos os soldados serão mandados embora em breve. Estou radiante quanto a isso, a sua espera. As trincheiras estão destruídas. Vi, pela televisão, que vários soldados estão sendo feridos e sendo socorridos às pressas. Espero que você não seja um deles, é egoísmo pensar dessa forma, outras esposas podem estar passando pelo que eu passo e vendo seus respectivos maridos chegarem sem um braço ou uma perna, mas eu realmente espero que você não seja um desses soldados. E, se for, vou amá-lo igualmente o amo hoje.
Não fui chamada para cuidar de vocês das barracas. Deve ser porque eu tive a bebê pouco tempo e preciso cuidar dela, mas eu prometo, assim que eu tiver notícias suas, eu vou correndo para você. Onde quer que você esteja, eu sempre vou para você. Eu te amo.”
Terminei o meu texto e publiquei em meu blog. Decidi que hoje eu me arrumaria. Se não para ele, para mim mesma, para que eu voltasse a me sentir bem. As notícias da guerra haviam cessado, o que quer dizer que os soltados estavam voltando para as suas casas e que novas ordens lhes seriam dadas. O que quer dizer que logo Justin estaria em meus braços novamente e eu o apertaria tanto. E isso me deixava contente.
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Through Chance [reescrito]
FanficDois anos se passaram e ela ainda sentia o pesar e a falta de seu marido, e, com uma nova jornada, Louise deixa a filha aos cuidados das avós para embarcar para uma ilha deserta, onde tenta ajudar soldados feridos. É então que seu coração dispara. E...