7. Hey, my love

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Estávamos em um hospital, Justin e eu, tinha pedido para que o general me liberasse antes que eu começasse a fazer qualquer serviço, para que eu pudesse cuidar do meu marido e ele aceitou. É claro que aceitou. Ele me roubou dois anos de vida do meu marido e eu merecia mais que qualquer outra pessoa.

Fomos de avião até nossa cidade e lá pudemos cuidar melhor do homem que tanto amo. Cuidamos dos ferimentos de bala que ele tinha, de sua desidratação e fome e qualquer outro problema que ele viesse a ter. Mas a memória ainda não tinha voltado e ele estava assustado.

— Eu conheço você? — ele me perguntou enquanto eu penteava seu cabelo que havia crescido muito nesses dois anos.

Olhei para o médico que cuidava dele, receosa por dizer que sim, e que ele é meu marido, mas o médico apenas concordou levemente com a cabeça. Sorri gentilmente para o médico e olhei para Justin.

— Somos casados. — eu disse simplesmente, mas Justin arregalou os olhos e depois sua face transformou-se de espanto para confusão.

— Eu não me lembro de você. Nem de sermos casados... — ele respondeu e eu dei uma risadinha. Terminei de pentear seu cabelo e me sentei aí seu lado na cama onde ele dormia no hospital.

— Você perdeu a sua memória. Se quiser posso te mostrar um pouco da nossa história. — eu disse já imaginando que eu poderia mostrar-lhe o blog onde narrei a nossa vida.

— Mostrar? — ele perguntou curioso.

Apanhei meu celular na mesa e voltei a me sentar ao seu lado. Pesquisei o meu blog no pesquisar do Google e logo entrei na primeira publicação. Respirei fundo lendo o primeiro parágrafo e entreguei o meu celular para ele, seus braços estavam fracos e quase não aguentaram o peso do celular, mas o meu homem era forte para qualquer coisa e segurou firmemente o telefone entre seus dedos.

— Antes de você viajar, escrevi, em um blog, um pouco da nossa vida e postei. Depois que você sumiu, eu sumi dali também, mas tem um pouco do que vivemos. — eu disse. — Posso ler com você? — perguntei me aproximando.

— Claro que pode. — ele sorriu sincero para mim, como senti falta desse sorriso.

Me aproximei mais dele e me sentei mais próxima de si. Meu queixo quase encostando em seu ombro. E nós dois começamos a ler o texto do blog.

"Era dia trinta e um, ele era um dos soldados feridos da guerra, chegará aqui para que eu pudesse examiná-lo. Ver como estava, se estava bem e se poderia ir para a casa. Para o conforto de sua família.

Ele não parecia ruim igual a outros soltados que chegavam aqui, mas tinha fraturado um braço e precisava ficar em repouso, estava um pouco desidratado e fraco pela fome. Seus olhos pareciam assustados, ele não conseguia fixá-los em um ponto específico, ficará procurando por inseguranças. Será que ele sempre foi assim?

— Não se preocupe, olhos lindos, cuidarei de você. E, aqui, não precisa ter medo, estamos protegidos e você está bem. — eu lhe disse, tocando em seu braço bom. Dei-lhe meu melhor sorriso reconfortante, olhando bem dentro daquelas íris carameladas que dão vontade de mergulhar dentro.

Chegavam soltados feridos há todo momento. Alguns carregados em macas, outros em cadeiras de rodas ou bengalas e outros... Nem chegavam. Era sempre uma dor informar o óbito para a família, mas era o nosso dever. Lembro-me de estar exaurida*, assim como todos os outros médicos e enfermeiros e, com toda a certeza, os soldados também estavam.

Não era uma primeira ou segunda Guerra Mundial, mas era uma guerra, existiam pessoas feridas, doentes e mortas. Infelizmente. E isso não planejava ter um fim tão cedo. Os primeiros soldados foram liberados para as suas casas e eu ainda estava com os olhos lindos. Era assim que eu o havia apelidado.

Through Chance [reescrito]Onde histórias criam vida. Descubra agora