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Não posso conter minha tristeza. Meu inconsciente me encara em um silêncio atordoado. Sei que meu coração é grande o suficiente para superar esse momento. Lágrimas enchem meu olhos mais uma vez.

— Bom dia, Dul — balbucia Mai enquanto caminha até a minha cama. — Os ferimentos estão bem melhor.
— Bom dia, Mai. Você pode me trazer um café, por favor, Mai?
— Claro.

Sinto falta de Anahi. Faz apenas duas semanas que sai do morro, mas a sensação que tenho é que foram as duas semanas mais longas da minha vida.  Anahi havia deixado algumas mensagens, vez ou outra eu fazia uma ligação. Mas sempre muito breve.

— Vou precisar voltar pra casa Dul! — Ela inclina a cabeça, observando-me.
— Fique tranquila Mai, eu já estou bem. Já se passaram duas semanas, consigo me virar — ela sorri, mas seus lábios se movem numa curva incomoda, em vez de num sorriso de verdade.
Um medo toma meu coração. Começo a respirar depressa. Seguro a respiração, esperando uma resposta dela.
— Eu volto, juro que volto, tenho uns assuntos pra resolver e além do mais vou saber da bonita da Annie o porque do sumiço. Aqui seu café! — balbuciou me estendendo a xícara.
— Claro, ela deve estar precisando!
— E quando eu voltar, você vai cozinhar pra mim?
— Qualquer coisa que você quiser.

Tenho tido dificuldade de comer. Estou sobrevivendo graças ao café e miojo. É a cafeina
que me ajuda seguir em frente, e me deixando também louca de ansiedade.

— Já que vossa excelência ficará bem, eu estou partindo. Vai querer que eu traga algo lá de casa? Ou só vai ficar com as roupas mesmo? Se bem que suas roupas estão tão largas amiga, que é melhor renovar até nisso.

Talvez... talvez eu deveria dizer a ela que mudei de ideia... Não, não... Não posso voltar para um lugar da qual eu me machuquei tanto, e nunca mais eu poderia ficar com uma pessoa que me causou tanta dor, incapaz de me amar.

— Somente a roupa, e tá ótimo, tenho um dinheirinho guardado. Vou comprar algumas coisas que estão faltando e irei dar uma passada na costureira — ela sorriu, nos últimos dias imagino eu que perdi em torno de 5 quilos, ou mais.

O dia se arrastou, e especialmente hoje estou ansiosa. Memórias torturantes invadem minha mente. Sinto falta do Christopher. Choro todas as noites antes de dormir, desejando que Jessica deixasse de existir, desejando que pudéssemos viver tudo diferente. Uma sensação esmagadora. Eu amo ele, sinto falta dele. Simples assim.

Decido que não posso viver pra sempre assim, e resolvo me arrumar e jantar fora. Vinte minutos depois eu estava pronta. Calcei uma rasteirinha brilhante e conferi a hora no celular. Ainda era sete e meia da noite. Pedi o Uber e parti sozinha, completamente sozinha.

O lugar me parecia ótimo. Cadeiras de plástico, toalhas de mesas quadriculadas vermelho com branco. Bem familiar, me remetia muito ao barzinhos que eu gostava de frenquentar com minhas amigas quando morava la no morro. Uma garota me conduziu até a minha mesa, e eu me sento apreensiva. Todos que estavam ali estavam acompanhados. Imaginei Christopher ou até mesmo as meninas ali comigo, eles amam um churrasquinho.

— Eu vou querer um caldo de frango, por favor! — Ela anotou e em seguida se afastou. Aproveitei pra dar uma conferida no banheiro, eu estava insegura com a minha imagem. Mesmo maquiada era possível notar alguns pequenos hematomas principalmente no meu rosto.

Confiro meu reflexo no espelho, vejo uma jovem pálida. Parecendo um fantasma de tão branca e estranhamente vazia.
Assim que saio do banheiro, ouço um rapaz chamar.
— Ei?
— Eu?
— Sim.
— Posso ajudar? — Pergunto. Ele me encara a cerca de dois metros. Olho para ele, paralisada.
— Só queria falar com você — Sua voz sedosa ecoou no meu ouvido. — Era um moreno lindo, com mais ou menos 1,73m, todo tatuado e tinha um sorriso maravilhoso.
— Claro, tenho algumas horas livres — falei, andando até a minha mesa. — Você não se apresentou! Eu conheço você? — Perguntei, curiosa.
— Não, bom eu acho que não! — Ele sorriu de lado. — Prazer meu nome é Lucas, e o seu?
— Dulce, por que será que não gosto de rapazes que tem esse nome? — Seus olhos me avaliaram — vocês não tem um fama muito boa, não é Lucas? — afirmei tranquilamente. — Ele se inclinou sobre a mesa, apoiando os antebraços e me encarou.
— Acho que deveria tirar suas próprias conclusões.
— Não tenho certeza se estou interessada — falei, bebendo um gole de água, sem tirar os olhos de Lucas.
— Olha minha moto está logo ali, se acaso se interessar... — eu o interrompi.
— Está sugerido que sou uma Maria gasolina? É isso?
— Não é isso, ia sugerir que me deixasse leva-la para um passeio. — Ele ficou em pé. — Pode ser outro dia também, vejo que não está nos seus melhores dias. — Ele me estendeu um cartão com seu número. — Fico esperando.

Tentei me lembrar o porque aquele rosto era tão familiar pra mim. Tentei buscar algumas lembranças e falhei, cheguei até duvidar que realmente ja o tivesse visto.

Sai do bar pensando em voltar pra minha casa. Não conseguia lembrar, qual a última vez que flertei com alguém além do Christopher. O ar estava frio e carregado de maresia, a brisa na medida exata de um arrepio, e eu esperava que aquilo esfriasse a minha dor. Eu não queria me entregar como estava fazendo nas últimas semanas. Então eu fiz algo que eu não imaginava que iria conseguir. Um impulso tomou conta de mim e agir sem pensar.

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