A batalha de Erismé

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Os nortanamitas desembarcaram na costa, e logo marcharam, tomando prédios pelas cidades litorâneas no ducado ao norte de Agris, a chuva caindo contra as costas dos nortanamitas cegavam a pouca resistência que havia, que rapidamente era cercada e morta, pois os bárbaros do norte não faziam prisioneiros

Em três dias, as tropas estavam já no centro do ducado, serpenteando pelas zonas de influência dos castelos, que os nortanamitas não conseguiam tomar

Foi quando o horizonte ardeu em chamas

As fazendas estavam abandonadas, os vilarejos incendiados, o campo lembrava um pasto, e tudo que havia eram os malditos castelos agririnos

Á noite, quando os soldados paravam para descansar na beira dos lagos, chuvas de flechas perturbavam a paz, eliminando centenas de soldados sem que tivessem qualquer chance de responder, quando se mobilizavam para reagir ao ataque, o inimigo misterioso desaparecia nas sombras, deixando para trás apenas nortanamitas cansados, feridos e abalados

E por fim, quando os guerreiros recuavam, encontravam os campos também queimados e saqueados

Os soldados agririnos marchavam em silêncio, usando trilhas florestais para cobrir seu movimento, camponeses descalços guiavam as tropas, em troca de pouco mais de trezentas coroas agririnas

Embaixo de uma grande arvore, ao redor de uma fogueira, se reunia Lillya e seus generais

-Comandante, as forças inimigas estão enfraquecidas pelo cansaço e pela fome, quando vamos expulsá-los?

A elfa analisava o mapa repousado sobre um caixote, marcando as movimentações do inimigo, seu cabelo amarrado para os lados como a juba de um leão, sua armadura refletindo o brilho das chamas da fogueira, criando um ponto de luz em meio á escuridão da floresta

-Acalme-se general, ataremos quando for a hora

-E quando saberemos a hora?

Inquiriu o general, Lillya olhou para todos, suspirou, tomou um gole de seu café, fitou o copo de metal, e então se voltou novamente para seus oficiais

-Iremos reunir as tropas de Agris para uma investida, vamos destruir suas reservas e priva-los de mais comida

Disse a comandante, apontando em seu mapa as movimentações indicadas, para o agrado de seus generais

-Se querem vencer essa batalha, devemos enfraquecer o inimigo como formigas atacando um cão, aos poucos, arrancando nacos antes de dar o golpe final, devemos ser furtivos e não pular na jugular enquanto o sangue ainda não encharca o solo.

Continuou Lillya, sabiamente. Um dos generais tomou a frente, como se questionando sua fala

-Comandante, reconheço a sobriedade em seu discurso, mas temos o braço mais forte neste momento, porquê não atacamos diretamente?

perguntou o homem, também protegido em sua armadura brilhante, com sua espada embainhada. A elfa olha no fundo de seus olhos, com suas próprias orbes azuis, como se olhasse para um jovem apressado, é claro, ela própria o encarava do alto de seu próprio ego, vendo suas poucas batalhas de experiência como de mais valor que o antigo general.

-Não vá com sede ao pote, general, pois até o lobo rebelde sabe quem conduz a matilha

O general se reduziu em sua significância, uma pontada de raiva lhe atingiu a cabeça, mas seu instinto de militar falou mas alto, ele assentiu, e obedeceu.

Neste ponto, os nortanamitas estavam desesperados, amanheceu o quinto dia da invasão, e mesmo racionando, a comida era pouca e de baixa qualidade, a agua estragava e se amarelava, os feridos se acumulavam, os mortos eram incontáveis, e para piorar, começavam á surgir focos de febre dentro das tropas, as feridas, antes cicatrizando, se abriam expelindo rios de um liquido negro, e os guerreiros, antes gritando de fúria, agora gritavam de dor

O general que comandava a invasão era um homem insistente, que não se rendia perante as dificuldades, e ao ver levantar os estandartes de Agris, convocou seus soldados para o combate

Os nortanamitas, pelo que parecia a milionésima vez, marcharam furiosamente em direção aos estandartes

Com a aproximação dos bárbaros, os agririnos recuaram abandonando os estandartes, desaparecendo em meio á floresta

Com esse sinal, dezenas de cavaleiros de Agris, surgindo do canto oposto do acampamento nortanamita, passaram cavalgando por entre as tendas, com tochas e espadas em mãos

Os soldados quebravam os postes de sustentação, queimavam as cabanas, destruíam as caixas, e degolavam os poucos soldados que ficaram para trás á espada

Os nortanamitas recuaram, tentando capturar os cavaleiros, mas os agririnos escaparam por uma rota estreita em meio á floresta, com a exceção do ultimo, atingido por uma flecha em seu pescoço

Quando a poeira baixou, os bárbaros contaram suas perdas, e, vendo que nada lhes sobrara, exceto por si mesmos, choraram, deixando escapar por suas grossas camadas de brutalidade, núcleos macios de impotência e fraqueza, expostos como veias abertas, estavam em fome, sem uma única migalha de pão, mas seu general era inflexível, ele berrava e rugia para seus soldados, tentando os forçar á lutar

-Covardes! Choram diante do inimigo como crianças! Não veem que o plano do inimigo é nos quebrar?!

Gritava o comandante, mas sua tropa havia colapsado, e apenas chorava em desespero

Sem alimentos, rapidamente houve a fome, e em três dias o primeiro cadáver foi desenterrado

Moral e fisicamente enfraquecidos, o grande exercito invasor se tornou completamente impotente, e mesmo que pudessem atacar, todos os vilarejos num raio de um dia de viagem foram esvaziados, despidos de seus recursos, e alguns até incendiados

após sete dias de cerco, o acampamento foi pesadamente bombardeado com canhões e flechas por um total de duas horas, tornando oque antes parecia um grande hospital de campanha num campo de morte

Quando Lillya e seus cavaleiros se aproximaram, haviam menos de trinta por cento dos guerreiros nortanamitas vivos para se render

-Bárbaros! Vocês vêm às terras do Reino de Agris, nos saqueiam e tentam nos conquistar, se esperavam por ouro e joias, encontraram apenas o rico metal de nossas espadas! Agora eu, Lillya de Madsen, o martelo dos domovanos, o leão do norte, suprema comandante das forças armadas de Agris, vos mostro seus possíveis caminhos! A completa destruição, ou a imediata rendição! Caso escolham a rendição, serão tratados como Agririnos até que sejam devolvidos á Northand, mas caso escolham a destruição, irão adubar o solo que alimenta nosso exercito!

Não havia opção, não havia discussão, ninguém tinha qualquer força de vontade para lutar, e quem ainda tinha força física não representava números o bastante para fazer diferença

O exercito de invasão se rendeu


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