Paz, até quando

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A noite congelante do norte sufocava mesmo os mais resistentes dos guerreiros, rasgava seus pulmões e ceifava suas vidas

Mas num acampamento montado dentro das ruínas de uma cidade destruída, o frio era afastado pelo fogo dos braseiros, os soldados comemoravam, ignorando o massacre feito apenas algumas horas antes

-Viva nossa marechal! Viva Lillya Madsen!

Gritou um soldado, erguendo seu copo de cerveja, derramando o líquido sobre o chão, e sobre seus companheiros, que o acompanhavam no gesto, todos carregados pelo álcool

A marechal estava sentada num banco um pouco afastada da multidão, seu copo subia e descia, e de vez em quando era reabastecido por um soldado que estava servindo como barman, após idas e vindas, em certo momento o barman chamou atenção de Lillya

-Por que a anfitriã não faz parte da festa?

A elfa se demorou no silêncio antes da resposta, bebeu pelo menos mais dois goles antes de olhar na direção do homem

Era um eterino de cerca de trinta anos, bonito e que exalava boa índole

-Você é de Eterium, não?

O homem olhou ao redor, riu silenciosamente, e voltou sua visão para a rainha de northand

-Eu nasci lá, hoje, já não sei.

Seu olhar parecia distante, fitando seus colegas como se estivessem á quilômetros de distância, Lillya olhava atentamente para ele

-Espere essa guerra acabar, e você voltará para Eterium como um soldado condecorado

O homem parecia perdido, o sorriso que existia em seu rosto se desfez rapidamente, Lillya virou o resto da bebida que havia em seu copo, e se levantou da mesa

-Obrigada pela conversa

Ela então andou até uma área mais central da tenda, afastando alguns soldados bêbados que estavam no caminho

-Soldados! Hoje lutamos bravamente, conquistamos a vitória com sangue e determinação! Como eu disse para vocês mais ao sul, levaremos a chama da civilização para o norte, levaremos a união para toda a ilha, e Northand se tornará poderosa como nunca foi!

Os soldados gritavam e levantavam seus copos e garrafas, em êxtase pelas palavras de sua marechal, os nortanamitas eram um povo muito supersticioso, e uma mulher estrangeira, que encantava seu rei, comandava com habilidade, e era extremamente vitoriosa em batalha, atiçava o lado místico dos guerreiros do norte

Sob aplausos, Lillya se afastou da tenda, e entrou em sua cabana pessoal, que apesar de ser para uma rainha, não tinha os luxos do palácio

Ao entrar na privacidade do que basicamente era seu quarto temporário, as memórias da batalha, que até então pareciam distantes e ofuscadas, vinham como flechas, Lillya podia sentir a dor de seus inimigos caídos em seu próprio coração, podia sentir suas mãos cadavéricas aperta-lhe a garganta, seus laços de couro que prendiam seu cabelo em sua característica maria-chiquinha pareciam puxar seus cabelos, e antes que se desse conta, Lillya estava parando de respirar

Foram poucos segundos, ela caiu de joelhos, fechando os olhos e se concentrando para devolver ar para seus pulmões

Enfim ela estava em sua cama, olhando para o teto cônico de sua tenda, apoiado por uma gaiola de madeira

Ela sentou-se na cama, fitando o nada por alguns minutos, e então se dirigiu até um canto, colocou um pote de madeira redondo no chão, e ao redor do mesmo dispôs duas velas apagadas

A garota então vasculhou suas posses por alguns minutos, e achou uma maçã já envelhecida, que ela cortou em dois e colocou no pote, acendendo as velas logo depois

A Coroa de CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora