O rei dos selvagens

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Erich era o governante de sua região, um rei tribal de um povo que aos olhos dos reinos ao sul era bruto, grosseiro e violento, acostumados á pilhagem e destruição, e que muitas vezes serviam de mercenários cruéis e baratos

Mas Erich não estava ali para pilhar, afinal era seu palácio, e ele estava em seu trono

Diante dele havia uma elfa de grande estatura, acompanhada de um pequeno grupo de oficiais uniformizados e apreensivos que tremiam, tanto de frio quanto de medo

-Oque vem fazer em minhas terras, elfa?

Disse Erich, ele parecia ter uns trinta anos, sua barba volumosa castanha o fazia parecer ainda mais bárbaro aos olhos dos soldados, ao contrário de nobres do arquipélago, ele usava um manto verde sobre os ombros e roupas remendadas de lã, sem nenhuma coroa á vista, ele falava com um leve sotaque local, quase imperceptível

-Lorde Erich de Sigermyrf, sou a rainha Lillya de Eterium, e venho contratar os serviços de seus homens para retomar o meu trono usurpado

Disse Lillya, fazendo uma curta reverência, o lorde cuspiu no chão ao seu lado, em sinal de desgosto

-Muitos vem á mim querendo usurpar algum trono ou resolver alguma briga pessoal, nunca ouvi falar de você, elfa, mas sei dizer que você é uma usurpadora como muitos outros

Vociferou o homem, Lillya se encolheu entre seus ombros, sentindo a pressão exercida por aquele indivíduo

-Não, Lorde! Eu não sou uma usurpadora qualquer, eu sou o martelo dos domovanos  Marechal Lillya Mads...

A elfa tentou se defender, Erich simplesmente riu

-Há! Não tem ideia de quantas vezes já ouvi essa mesma merda! Oque você é não importa para mim, você precisa de mim muito mais do que eu de você, no final o acordo é nos meus termos

A marechal estava numa posição complicada, num reino estrangeiro sem ligações com o povo local. Ela buscou no fundo de sua mente um trunfo, ela sabia que tinha dez mil soldados de uma divisão completa do lado de fora da cidade, mas e daí? Se o lorde quisesse mataria ela e seus oficiais mais próximos ali mesmo, sem que seus soldados pudessem fazer nada

Um guarda falou algo no ouvido do lorde, e seus olhos pareceram brilhar

-Felizmente pra você, elfa, você tem algo que eu quero acima de tudo

A garota estava confusa, ela se esforçava para não transparecer que estava intimidada, mas estando num palácio de um rei bárbaro, cercada por mercenários armados, não é exatamente o tipo de lugar onde se possa dar ao luxo de ficar confortável

-E o que seria?

Disse Lillya, engolindo em seco, o lorde passou a mão em sua barba e então gesticulou para seu subordinado, que lhe trouxe um rolo de pergaminho

O lorde entregou o pergaminho para a elfa, que o abriu imediatamente, era um mapa, indicando diferentes cidades pela ilha de northand, que se estendia bastante para o norte, ao oeste podia ser visto também a costa oriental de denebra, uma ilha bastante avançada que fazia parte do que se entendia como "O Arquipélago"

-Eu quero que treine meus guerreiros como treina seus soldados, e me ajude á levar meu estandarte para o resto da ilha

Disse o bárbaro, Lillya levou seus olhos pelo mapa por alguns segundos, até que decidiu fazer uma pergunta

-E porquê eu te ajudaria?

Perguntou a elfa, ela dobrou o pergaminho e manteve o olhar fixo no lorde

Erich apontou a mão para o mapa á distancia e respondeu

-Você quer o apoio de um lorde, Porquê não o de um rei? Me ajude á unir a ilha, e você terá todos os soldados que precisar

A elfa lembrava de como tudo começou, a criança em sua barriga estava á semanas de nascer, e ela estava prestes á trair um reino e declarar uma guerra pelo trono

Lillya sabia que precisaria de uma garantia maior do que a mera palavra de um bárbaro do norte, e sua experiência passada com o rei Tiago a deram uma ideia

-Nesse caso vamos unir o útil ao agradável, selando nossa aliança com um casamento, um rei vai precisar de uma rainha, e uma rainha vai precisar de um rei

Disse a garota, se curvando em frente ao lorde, e um pequeno sorriso se formou no rosto de Erich, a possibilidade de ter uma união por casamento com um reino do arquipélago era uma oportunidade inacreditável para um simples chefe tribal do norte, ele se ergueu de seu trono e um silêncio intimidados tomou conta da sala, enquanto o bárbaro considerava suas próximas palavras

-Você tinha meus guerreiros, agora tem meu exercito

Lillya sorriu levemente, e se levantou de sua posição curvada, Erich ergueu os braços para todos os presentes ali, e sua voz animada soou como um trovão que anunciava uma tempestade

-Irmãos e irmãs! Esta elfa trás o inicio de uma nova era para nosso povo! Uma era de união e grandeza nunca antes vista, eu anuncio á todos que aqui nasce o reino de Northand, e que eu, Erich de Sigermyrf, serei conhecido como Erich von Vingerdarsen, e vocês, povo de minhas terras, serão senhores de muitas terras!

Aplausos vieram de muitas centenas de pessoas que estavam pelo palácio, o rei bárbaro aproveitou esse momento para saborear sua glória prematuramente, erguendo os braços para aqueles que gritavam seu nome

Algumas horas se passaram, a noite começava á cair, e os locais começaram á acender grandes braseiros para aquecer o palácio, Erich e Lillya se reuniram numa sala, as paredes frias de tijolos irregulares de pedra eram toscas e sem acabamento, sem afrescos, quadros ou pinturas, os móveis eram de madeira bruta também, mais parecia uma caverna ou a casa de um camponês gigante que um palácio

-Eu quero que você treine meus guerreiros

Disse o lorde, a elfa se surpreendeu

-Mas eles não são experientes!?

Disse a elfa, arregalando os olhos em surpresa, O nortanamita afastou aquele sentimento com um gesto de sua mão, ele agarrou uma garrafa que estava sobre a mesa, dando um longo gole no conteúdo

-São, mas não são treinados, eu quero que você traga as técnicas de um exercito profissional para cá

Lillya pensou por um momento, ela havia estudado tudo em que pôde colocar as mãos enquanto estava no exercito, certamente ela seria capacitada para instruir um grande grupo como os guerreiros nortanamitas, afinal, esse é justamente um trabalho para um marechal que se preze

A garota levantou com dificuldade, batendo uma continência, Erich riu do gesto

-Hahaha, Elfa, vamos nos casar em alguns dias, você não faz continências para mim

Lillya desfez a continência lentamente, contorcendo os cantos da boca em desconforto, é verdade que ela propôs se casar com este homem, mas a elfa era uma aristocrata do arquipélago, e tinha dificuldade em ver Erich como algo além de um selvagem

Naquela noite, uma pesada nevasca caiu sobre a ilha


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