chapter 6 | yoonie's draw

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— Tae, você viu o meu estojinho? — perguntou Yoongi, mexendo em um baú cheio de brinquedos, enquanto eu ajeitava os papéis brancos para ele desenhar.

— Não está no guarda-roupa, Yoonie? — perguntei, lembrando-me do dia anterior onde ele também desenhou.

Yoongi seguiu para o guarda-roupa, abrindo e vendo de cara o estojo preto e azul, porém este estava muito alto para sua altura, estava na ultima prateleira do guarda-roupa. Quando eu vi que ele estava com dificuldade de pegar o estojinho, ficando na pontinha do pé, saí e peguei o estojo para ele, o entregando em suas mãos.

— Obrigado. — respondeu somente, sem me olhar nos olhos.

Uma coisa que eu percebi era que o grande Yoongi não gostava de me olhar, em momento algum. Enquanto o pequeno Yoongi vivia com os olhinhos pidões e inocentes olhando com curiosidade para cada parte do meu rosto, o grande Yoongi parecia nunca querer olhar para mim. De algum jeito era estranho, acho que eu estava acostumado com Hoseok, que tinha praticamente as mesmas personalidades fora e dentro do pequeno espaço.

Ele se sentou na escrivaninha e começou a desenhar. Não me aproximei dele de primeira, acabei por arrumar alguns brinquedos que ele tinha deixado cair por estar procurando o estojo. Quando voltei meu olhar á ele, parecia que estava super concentrado, desligado de tudo e todos, como se estivesse surdo e mudo, apenas a mão e os olhos se moviam.

Ele era talentoso demais.

Dessa vez não era um desenho de gatos como da última vez, era um tigre bastante feroz e assustador. Cobria todo o desenho, se aquele fosse um tigre realista, eu me surpreenderia cada vez mais.

— Toma. — disse no mesmo instante que me estendeu uma pasta azul com um gatinho no meio. — Não me sinto confortável quando me veem desenhar, então se ocupa com isso aí.

— Tudo bem, desculpe. — respondi, me sentando em sua cama e abrindo a pasta, dando de cara com um lindo desenho de uma cidade.

Parecia ser Daegu, algum canto da cidade. As casas e a rua que fora desenhada estavam retas e sem nenhum erro. Yoongi era um ótimo desenhista, isso era fato. Logo fui passando as páginas, vendo vários animais com traços fofos e alguns com traços bastante realistas. Minutos depois, ele me entrega o seu desenho, era um tigre fofo, com um laço roxo no meio.

— Esse é o Dada, um tigre. — Yoongi disse apontando para o desenho recente. — E esse é o Yoonie, um gatinho.

O desenho pelo qual ele apontou era o desenho que ele estava fazendo na escola, o gatinho fofo e preto, com um lacinho azul no meio. Era fofo, e eu não consegui deixar de rir ao ver ele me explicar o porquê das cores, e porquê eu era o tigre.

(...)

No dia seguinte, estávamos na escola. Yoongi pedia que por lá, eu não falasse muito com ele, só para chamá-lo para ir para casa ou para qualquer outra coisa que fosse importante. Eu queria saber o motivo, por que eu não podia ficar com ele? Ele apenas me respondeu que por algum motivo que ele também não sabia, ele entrava em pequeno espaço muito facilmente comigo, e aquilo na escola não era tão fácil de lidar.

Isso era verdade, então acabei aceitando.

Estava conversando com Seokjin, a aula já havia terminado e eu esperava Yoongi sair do banheiro para irmos para casa. Enquanto eu esperava, Seokjin apareceu e comversamos um pouco, antes de Namjoon o chamar e ele sair acenando.

Achei que Yoongi não havia aparecido por que eu estava com Seokjin, mas até agora nenhum sinal do Min. Foi quando Yoongi veio correndo e se abraçou à mim rapidamente, com o peito respirando forte e rápido, e eu preocupado fui tentar entender o que estava acontecendo para tanto desespero.

— Dada, me leva pra casa, me leva pra casa...

— O que aconteceu? — perguntei, vendo o menininho negar. — Vem, entra na sala de ciências comigo.

Entrei na primeira porta que dava á sala de ciências e tranquei com a chave que estava por dentro. Carreguei Yoongi em meu colo e deixei um abraço forte no mesmo, vendo sua respiração acalmar aos poucos, e ele então começar a chorar.

— Yoonie... O que houve amor? — perguntei novamente, fazendo carinho em seus cabelos. Eu não gostava de vê-lo chorar, doía bastante em mim. — Shh... Não chore, está tudo bem, dada está aqui.

— Dada, eu quero a casa... — respondeu somente, se agarrando ao meu corpo. — Por favor Dada...

— Tudo bem, vamos logo para casa. — respondi, deixando ele no chão e limpando o rostinho molhado pelas lágrimas. — Respira fundo, isso... Vai ficar tudo bem, eu estou te protegendo.

Peguei minha sacola e sua mochila, para disfarçar o seu rostinho, peguei uma máscara descartável e coloquei em seu rostinho, ele ficava fofo numa máscara. Segurei firme em sua mão e saímos da sala devagar para que nenhum professor visse a gente.

Conseguimos pegar o primeiro ônibus do ponto, e da saída até o ponto, Yoongi parecia nervoso e adiantava os passos, praticamente correndo, consequentemente eu corria junto á ele. Vi ele se aliviar no ônibus e apoiar a cabeça em meu ombro, e então levei minha mão aos seus cabelos, fazendo um leve cafuné.

— Quer me contar o que aconteceu? — perguntei.

— Era o meu pai... — respondeu baixinho, brincando com os dedinhos. — Dada, o papai do Yoonie é mau, muito mau.

— Ele estava na escola? — perguntei, vendo ele assentir enquanto me olhava. — Então você correu até mim por quê viu ele?

— Sim, teve uma vez que o papai do Yoonie pegou ele sem a mamãe deixar, aí o Yoonie ficou numa casa feia, e ele não cuidava do Yoonie direito... — respondeu com uma carinha triste, enquanto eu o encarava com um rosto triste e assustado. — Eu fiquei com medo Dada, ele é mau, Yoonie não gosta dele.

— Tudo bem amor, tá tudo bem agora. — respondi, abraçando ele á mim e acariciando seus cabelos. — Ele não vai fazer nenhum mal com você, por que eu estou aqui, te protegendo.

— Tá bom Dada, eu amo o Dada... — respondeu, colocando o dedinho na boca.

Para ninguém do ônibus estranhar seu tão repentino, troquei de lugar com ele e deixei ele olhar pela janela, assim ele se distraía e deixaria de chupar o dedinho. Era estranho o fato de todos tentarem fazer algum mal á Yoongi, ele era como uma pessoa qualquer, por que tinha que ser ele justamente a pessoa que sofria na mão das pessoas? Se for daquele jeito, aquilo iria mudar, agora nas minhas mãos.

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