chapter 2 | don't be afraid

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Era meu segundo dia na escola, e eu já havia levado minha primeira advertência, por brincadeira em sala de aula, junto com meus novos amigos. Bem, eu não me importava, consegui vários amigos em muito pouco tempo, e já havíamos marcado de se encontrar numa lanchonete fast-food para se conhecermos melhor. Seokjin - por mais que me parecesse arrogante no início, ao ter tratado se forma rude com o garoto que se senta ao meu lado - foi um dos que eu mais me aproximei e o mais engraçado para mim.

Seokjin era o cuidador de Namjoon, ainda não tinha o visto pois ele havia faltado nas primeiras semanas de aula com uma gripe pesada, onde Seokjin todos os dias ia para a sua casa para cuidar do pequeno, inclusive saia mais cedo da escola, antes de todos, para ir cuidar do neném. Namjoon e Yoongi por serem pequenos, me lembravam somente uma pessoa.

Jung Hoseok.

Ele era extremamente fofo e adorável em pequeno espaço, eu não conhecia muito bem sobre o assunto na época e tenho certeza que magoei ele diversas vezes, o bom foi que eu consegui recompensar o tempo ruim e constrangedor com carinho e amor que eu o dava.

Até que seus pais descobriram tudo, tudo o que acontecia, até nossa amizade. Desde então, tudo virou um pesadelo para Hoseok, da pior forma possível. Ele sentia medo em me ver, sentia medo de entrar no próprio quarto, sentia medo de olhar a televisão, sentia medo até mesmo de ir tomar banho, pois tudo lembrava seu pequeno espaço.

Eu o fazia entrar em pequeno espaço, ele se sentia extremamente confortável sendo um bebê dentro do seu quarto, seu cantinho mágico, seu "castelo encantado" que era como ele chamava. Ele gostava de assistir bastante desenhos e filmes infantis, principalmente "A pequena sereia", e amava tomar banho na banheira cheia de patinhos e bichinhos de diversas cores.

Tudo isso havia se tornado um pesadelo, as coisas que ele mais amava, e a culpa era dos pais, que sempre encontravam uma forma de puni-lo por agir como uma "criança idiota para um adolescente sem noção", como eles frequentemente xingavam o mais velho.

Eu odiava tudo aquilo, todo aquele tratamento com ele, era somente uma terapia e não fazia mal á ninguém. Ver o sorriso brilhante dele ir perdendo a cor e o brilho ao longo dos meses me fez sentir medo de protegê-lo, medo dos pais dele fazerem algo pior até a mim.

Nossa última conversa foi á seis meses atrás. Ele me implorava para eu nunca mais cruzar seu caminho, lembrar ou trocar uma palavra, sequer um olhar com ele. Que eu esquecesse de tudo o que a gente já viveu ou passou juntos.

Como eu irei me esquecer tão facilmente assim, Hoseok? — perguntei, vendo ele começar a chorar. — Eu sei que você não quer isso, são seus pais que te obrigaram.

E-eu sinto muito... — ele respondeu, limpando o nariz. Eu limpei suas lágrimas e acariciei sua bochecha, saindo de lá.

Eu estava disposto a protegê-lo depois daquele dia, independente do que seus pais fizessem comigo e com ele. Porém não sabia que aquela era nossa última visita.

Hoseok foi mandado para o hospício, longe de Seoul, longe de todos, longe de mim. Eu levava uma caixinha de chocolates de menta, os seus favoritos, até ver que a casa que ele morava estava em venda. Falei com todos os vizinhos, e somente uma senhora me informou que havia ouvido a conversa dos Jung sem querer, me falando que o filho fora enviado para um hospital psiquiátrico e largado lá, enquanto os pais foram para outro país.

Naquele momento meu mundo desabou, e eu não pude protegê-lo. Até hoje eu me culpo por ter o deixado ir, eu poderia ter evitado tudo aquilo. Apesar disso, junto bastante dinheiro para ir visitá-lo, ver como ele está.

E por algum motivo, eu via a necessidade de saber um pouco mais sobre o garotinho da cabine do banheiro.

Por esse motivo eu não gostei do tom de Seokjin ao falar com Yoongi, eu sabia que ele não tinha nada de errado, e que aqueles pré-julgamentos eram algo suspeito. Eu sentia a necessidade de cuidar de Yoongi da mesma forma que eu deveria ter cuidado de Hoseok. Então depois da aula, eu mesmo marquei de conversar com o Min sem ao menos falar com ele.

— Oi. — sentei ao seu lado de surpresa enquanto ele terminava de escrever alguma coisa no seu caderno.

— Oi Kim. — respondeu com uma voz rouca e grossa, não parecia o mesmo garoto do primeiro dia.

— O que está fazendo? — perguntei, tentando ver o que ele tanto escrevia.

— Ah... Um t-trabalho de escola. — respondeu, trazendo o caderno mais para perto de si, me impedindo de ver.

Sorri, percebi que ele estava com vergonha. Suas bochechas adquiriram uma coloração vermelhinha e um biquinho fofo estava em seus lábios. Querendo ou não, eu já tinha visto que era um desenho de um gatinho num campo florido, pintado com várias cores vibrantes e frias, um desenho fofo feito por ele.

— Seu gatinho está fofo, eu gostei do desenho do "trabalho de escola". — respondi fazendo aspas com as mãos. Ele realmente se esqueceu que estávamos na mesma sala.

— V-você! — deixou um tapa no meu ombro, me fazendo rir. Me aproximei dele e vi ele terminar de desenhar. — Para de olhar, eu tenho vergonha seu idiota.

— Ei! Eu estou gostando de ver seu desenho, e também de te ver desenhar. — respondi, me defendendo e me explicando.

— Tá! Mas não faz perguntas nem caras. — pediu e eu assenti com um pequeno sorriso.

Ele realmente estava desenhando bem, não eram rabiscos qualquer pelo papel que geralmente crianças faziam, era um gatinho cinza e fofo, com flores atrás do mesmo. Os olhinhos do gatinho eram pequenos como os de Yoongi, isso me fez olhar para ele sorrindo pequeno.

Seu narizinho foi a coisa que mais me chamou a atenção. Era rechonchudinho, realçava sua fofura, e ainda era vermelhinho. Involuntariamente, minha mão foi até seus cabelinhos, tirando mechinhas para ver melhor o rostinho de bebê que ele tinha. E logo seus olhinhos subiram para a direção dos meus.

Eu percebi ali uma galáxia inteirinha nos olhinhos pequenos do Min.

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