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Três anos haviam se passado desde quando partira com seu irmão para a Corte Crepuscular a fim de colocar uma prótese no lugar do braço devorado, por sorte havia dado certo, o implante fora um sucesso, porém, a recuperação fora extremamente dolorida.

Espasmos musculares na parte de carne que ainda sobrara de seu braço, dores fantasmas e aprender a controlar a prótese mágica fora sem dúvida uma vida, até conseguir pegar uma maçã fora um grande esforço, mas ele conseguiu, e cada vez mais fora aperfeiçoando até que conseguisse pegar um palito de dente entre os dedos de metal e depois disso, ele e Adonis enfim viajaram o mundo.

Escalaram montanhas, navegaram por mares, entraram em batalhas, viveram romances, espiaram o mundo humano. Foram três longos anos de aventuras incontáveis, mas havia chego a hora de voltar e lá estavam eles dois em frente a grande porta de carvalho da casa de seus pais, de sua casa.

Raphael ergueu a mão direita, a mão de carne e osso, e bateu a porta que se abriu alguns segundos depois revelando Gwyn, a mãe dos gêmeos que assim que os viu com os olhos azul oceano abriu um enorme sorriso com lágrimas de felicidade e emoção em seus olhos. Ela os abraçou, os encheu de beijos e mais beijos e então os ajudou a levar a bagagem para dentro de casa.

Exaustos, os gêmeos se jogaram no sofá. Adonis esparramou suas asas pelo móvel até que as pontas tocassem ao chão e depois ele levou as duas mãos aos cabelos ruivos compridos abaixo dos ombros e os prendeu um coque improvisado. Adonis havia mudado durante aqueles três ano, deixou os cabelos crescerem assim como a barba ruiva que embelezava mais seu rosto de feições fortes. Raphael entretanto manteve os cabelos curtos e a barba aparada.

- E o pai? - perguntou Raphael a mãe que levava canecas de chocolate quente para os filhos.

- Está em uma missão - respondeu Gwyn dando uma caneca para Adonis e depois para Raphael que pegou a peça com a mão metálica prateada fazendo sua mãe engolir em seco.

- Uma pena - disse Rapha sorrindo decepcionado. - Queria mostrar a ele a maravilha que a amiga do Lucien fez - levou a caneca a boca e Gwyn se sentou no braço do sofá ao lado do filho que puxara os cabelos negros de Azriel.

- Está se sentindo bem com ela? - perguntou a mãe preocupada e Rapha olhou para ela e depois para Adonis que permanecia em silêncio enquanto tomava o chocolate quente.

- Melhor impossível, não é de carne e osso, mas faz um trabalho semelhante e excelente - disse Raphael levando a mão direita a da mãe e a pegando. - Está tudo bem.

Gwyn sorriu e soltou um suspiro aliviado, claro que estava preocupada, não era natural ter uma prótese daquelas, mas, já que o filho estava bem e seguro com a peça.

- Trouxemos presentes - disse enfim Adonis após terminar de tomar o líquido da caneca com uma rapidez impressionante.

Gwyn bateu palmas e deu um gritinho histérico animado batendo os pés descalços no chão. Os gêmeos haviam comprado diversos presentes para a mãe, vestidos, maquiagens, jóias, livros, até mesmo louças únicas encontradas em apenas um lugar no mundo e ela amarou todos eles. Infelizmente, Azriel apenas receberia os presentes dos filhos quando voltasse da missão secreta em que estava envolvido.

*

Após muita conversa e abrir presentes, os gêmeos foram para seus quartos, tomaram banho e enfim se deitaram e dormiram, bom, pelo menos Adonis dormiu, Raphael se deitou na cama e ficou rolando por horas durante a tarde toda e não conseguiu pregar os olhos uma vez sequer, então quando o sol se pôs ele enfim desistiu de dormir e se levantou. Sabia que Gwyn já deveria ter dito a todos que ele e Adonis voltaram, mas como estavam cansados ela deve ter proibido qualquer um de chegar e atrapalhar o descanso dos filhos, então, não restava outra opção a Raphael naquele momento a não ser se arrumar e ir até a casa do rio... Ir até Nyx e até Hela. Hela que durante todos esses anos não saia de seus pensamentos, não conseguia sequer não sonhar com ela, o que era uma maldição já que ela era parceira de Nyx e eles até mesmo tinham uma filha juntos, mesmo que não fosse se sangue.

Raphael colocou uma camisa azul escura, calças pretas e botas, depois desceu as escadas até a ala de convívio de sua casa e levou um espanto ao ver Nyx ali, parado em pé na frente da lareira assistindo o fogo dançar, mãos nas costas, asas bem fechadas as costas. posição de sentido como um bom guerreiro. Os olhos azuis do melhor amigo de Raphael então se voltaram para ele, Nyx não esboçou um sorriso sequer.

- Eu já ia na sua casa...

- Por que não se despediu? - a voz de Nyx era séria assim como sua feição. - Por que pediu que Hela me contasse apenas quando voltasse nos para casa?

Raphael respirou fundo, ele sabia o que Nyx queria dizer, por que se se despediu apenas dela e não de nós dois?

- Eu não queria atrapalhar, sei que não deixaria que eu partisse e sei que ficaria pensando apenas nisso... Mas pelo menos recebeu meu presente?

Nyx semicerrou os olhos e assentiu, a adaga de lâmina esculpida e cabo de osso fora um achado e tanto e Raphael sabia que o amigo adoraria.

- Então ótimo - concluiu Raphael terminando de descer os degraus e os olhos de Nyx pairaram sobre a prótese do antebraço esquerdo do amigo.

- Fico feliz que tenha conseguido... - a voz de Nyx saiu baixa e calma, mudou assim como a expressão facial que ficou mais suave. - Eu fiquei muito chateado quando soube que você se foi sem se despedir... Pensei que estava mesmo me odiando, mesmo com o presente que deixou.

- Eu jamais odiaria você - disse Raphael se aproximando e Nyx levantou o olhar para sua face. - Eu apenas precisava de um tempo...

- No dia da minha cerimônia de parceria? E durante três anos?

- Era bastante tempo.

Os dois ficaram em silêncio e então Nyx sorriu pequeno.

- Adonis voltou com você?

- Ele está descansando, eu acho, talvez tenha saído para encontrar o namorado, se é que ele ainda o tem - colocou as mãos nos bolsos da calça. - E Hela?

- Está em casa, quando sai ela e meu pai estavam numa discussão sobre ele estar mimando demais Essie - Nyx deu um sorriso e levou a mão a nuca afagando ali.

- Ela deve estar enorme - disse Raphael.

- Sim e aposto que ficaria muito feliz em conhecer o tio Rapha de quem tanto falo sobre - os olhos azuis de ambos se encontraram. - Eu senti sua falta.

Nyx comprimiu a boca numa linha fina e suspirou batendo uma das mãos nas pernas.

- Eu também senti a sua - disse Raphael e Nyx assentiu.

Os dois pareciam garotinhos que haviam brigado, envergonhados quando faziam as pazes com o outro, tímidos como desconhecidos.

Nyx avançou rapidamente dando um forte abraço em Raphael. No começo não fora correspondido, mas logo Raphael levou as mãos aos costas de Nyx e o abraçou ainda mais forte apoiando a boca no ombro do amigo que até mesmo tremia ao abraça-lo. Mesmo após três anos ele ainda se culpava imensamente por Rapha ter pedido metade do braço e as asas, sentia que não merecia perdão, mas ali estava ele, perdoado e amado por Raphael, mesmo que não merecesse.

Corte de Sol e Tempestade. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora