Embora o termo imaturidade possa parecer ofensivo ou pejorativo para certas pessoas, sua verdadeira acepção não tem nada a ver com atraso ou estupidez. A imaturidade emocional implica uma perspectiva ingênua e intolerante face a certas situações da vida, geralmente incômodas ou adversas. Uma pessoa que não tenha desenvolvido a maturidade ou a inteligência emocional adequada terá dificuldades frente ao sofrimento, à frustração e à incerteza. Fragilidade, inocência, inexperiência ou imperícia poderiam ser utilizados como sinônimos, mas, tecnicamente falando, o termo "imaturidade" casa melhor com o pouco autocontrole e/ou autodisciplina que costumam demonstrar os indivíduos que não toleram as emoções mencionadas. Dito de outra forma, algumas pessoas estancam seu crescimento emocional em certas áreas, ainda que em outras funcionem maravilhosamente bem.
Assinalarei as três manifestações mais importantes da imaturidade emocional relacionadas à dependência afetiva em particular e aos vícios em geral: a) baixa tolerância ao sofrimento, b) baixa tolerância à frustração e c) a ilusão de permanência.
Apesar de, na prática, esses três esquemas costumarem se entrelaçar, os abordarei separadamente para que sejam mais bem compreendidos. Vejamos cada um em detalhe.
BAIXA TOLERÂNCIA AO SOFRIMENTO OU A LEI DO MÍNIMO ESFORÇO SEGUNDO CERTOS FILÓSOFOS E TEÓLOGOS, A LEI DO MÍNIMO ESFORÇO É VÁLIDA INCLUSIVE PARA DEUS. INDEPENDENTEMENTE DA VERACIDADE DESSA AFIRMAÇÃO, DEVEMOS ADMITIR QUE A COMODIDADE, A BOA VIDA E A AVERSÃO PELOS INCÔMODOS EXERCEM UMA ATRAÇÃO ESPECIAL SOBRE OS HUMANOS. PREVENIR O ESTRESSE É SAUDÁVEL (O TORMENTO PELO TORMENTO NÃO É RECOMENDÁVEL PARA NINGUÉM), MAS SER SUSCETÍVEL, SENTAR-SE E CHORAR ANTE O PRIMEIRO TROPEÇO E QUERER QUE A VIDA SEJA GRATIFICANTE 24 HORAS POR DIA É, DEFINITIVAMENTE, INFANTIL.
A incapacidade para suportar o desagradável varia de um sujeito para o outro. Nem todos têm os mesmos níveis de tolerância à dor. Há pessoas capazes de agüentar uma cirurgia sem anestesia ou de se desvincularem facilmente de quem amam porque não lhes convêm, enquanto outras, é preciso obrigá-las, sedá-las ou empurrá-las, porque são de uma suscetibilidade que beira a um merengue. Essas diferenças individuais parecem ser determinadas não somente pela genética, mas também pela educação. Uma pessoa que tenha sido superprotegida e amparada de todo o mal nos primeiros anos de vida provavelmente não consiga desenvolver a força (coragem, decisão, paciência) para enfrentar a adversidade. Faltará a ela o "calo" que distingue os que perseveram até o final. Sua vida será regida pelo princípio do prazer e pelo rechaço imediato a tudo o que for adverso, por insignificante que seja. Repito: isso não implica fazer apologia do masoquismo e do autoflagelo ou fomentar o suplício como forma de vida, mas reconhecer que qualquer mudança requer um investimento de esforço, um preço que os acomodados não estão dispostos a pagar. O sacrifício os adoenta, e o incômodo os deprime. A conseqüência é terrível: medo do desconhecido e apego ao passado.
Dito de outra forma, se uma pessoa não suporta um sofrimento mínimo, sente-se incapaz de enfrentar qualquer coisa desagradável e procura desesperadamente o prazer, o risco de virar dependente é alto. Não será capaz de renunciar a nada de que goste, apesar das conseqüências danosas, e não saberá sacrificar o gozo imediato pelo bem-estar a médio e a longo prazo; ou seja, carecerá de autocontrole.
Lembro o caso de uma paciente, administradora de empresas de uns quarenta anos e casada pela segunda vez com um homem bem mais jovem. Uma de suas filhas adolescentes vinha se queixando de forma reiterada de que o padrasto a assediava sexualmente. A jovem relatava ter acordado de sobressalto em várias ocasiões porque sentia que estavam lhe tocando, dizia que tinha visto o padrasto se masturbando junto à cama. Quando decidiu contar à mãe, essa decidiu pedir ajuda. Como sempre nesses casos, o acusado negava qualquer participação no caso. Depois de entrevistar várias vezes a menina e o homem, não tive mais dúvidas: o abuso existia, e a perseguição também. Por exemplo, ele costumava tocá-la por debaixo da mesa; ao se despedir com um beijo, seus lábios procuravam os dela; entrava no quarto dela sem bater, fazia comentários sobre seus seios, enfim, a provocação era incontestável.
![](https://img.wattpad.com/cover/302010350-288-k99046.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amar ou depender?
Science Fiction"Amar ou depender?" é um guia para os primeiros passos em direção a uma vida amorosa saudável, plena e feliz. Neste livro, o psicólogo Walter Riso identifica quando uma relação torna-se doentia, conceituando a dependência afetiva e expondo o limite...