Cada vez que toco no tema da espiritualidade, alguns de meus colegas ultracientificistas se olham de canto de olho com desconfiança, levantam a sobrancelha e ajeitam o colarinho da camisa. Não aceitam esse tema facilmente, porque ele se afasta dos padrões tradicionais de pesquisa. Mas tampouco podem rechaçá-lo totalmente, porque as pessoas que conseguem ter um sentido especial de transcendência demonstram uma série de vantagens para a sobrevivência se comparadas a outras pessoas que não o têm. Vivem mais tempo, melhoram substancialmente a qualidade de vida, ficam menos doentes, enfrentam doenças terminais com maior integridade, criam imunidade a muitos males mentais, perdem o medo da morte e, o que é mais importante, são extremamente resistentes a criar dependências de todos os tipos.
As pessoas que encontraram o caminho da auto-realização ou que possuem robustez espiritual são duras de morrer. Movem-se com maior fluidez e não costumam ficar ligadas em bobagens. Não andam procurando alguma coisa para se apegar e se sentirem protegidas. Incorporaram a segurança ao seu disco rígido. Amar uma pessoa assim é maravilhoso, mas assustador, porque ela pode dar a impressão de ser "muito" independente. Um companheiro sem temores assusta os inseguros. A frase: "Amo você, mas posso prescindir de você" pode provocar um infarto fulminante em mais de um apaixonado. Os condicionamentos sociais instituíram uma falsa premissa: amor sem medo não é amor. Quando um indivíduo encontrou sua auto-realização vocacional ou transcendental, ama com uma paz especial. Não é perfeição, mas tranqüilidade interior. E ainda que possa parecer suspeito de desamor, não é assim. Simplesmente, deixou que os apegos caíssem com o próprio peso: existe desejo, mas não dependência.
Para entender melhor qual é o motivo da vida, o dividiremos em duas dimensões básicas:
auto-realização e transcendência.
A AUTO-REALIZAÇÃO ESTE PRINCÍPIO SE REFERE À CAPACIDADE DE RECONHECER OS TALENTOS NATURAIS QUE POSSUÍMOS. AQUELAS HABILIDADES SINGULARES QUE SURGEM ESPONTANEAMENTE DE NÓS MESMOS SEM TANTO ALARDE NEM ESPECIALIZAÇÕES. SIMPLESMENTE ESTIVERAM AÍ O TEMPO TODO E AINDA PERSISTEM. VIVEMOS DE COSTAS PARA NOSSOS TALENTOS E SEQUER PERCEBEMOS.
A pergunta fundamental é: como saber se estamos desenvolvendo esses talentos? Se as respostas às três perguntas seguintes forem positivas, você está no caminho certo. Caso contrário, você tem alguma coisa a rever:
a. Você pagaria para fazer o que está fazendo?
b. As coisas que você faz bem e gosta de fazer surgiram naturalmente mais do que por aprendizagem?
c. Quando está fazendo o que ama, as pessoas se aproximam de você em vez de se afastarem?
Esse é o talento natural: uma capacidade guiada pela paixão, que vem de dentro e reúne os demais quando aparece. Todos a possuímos, todos podemos alcançá-la, todos estamos destinados a desenvolver nossa capacidade criativa se nos deixarem e se tivermos coragem.
Uma pessoa que encontrou a vocação e sente paixão pelo que faz se torna imune à dependência afetiva porque sua energia vital se abre a outras experiências. E isso não significa incompatibilidade, mas amor a quatro mãos. Desenvolver os talentos naturais é se abrir a outros prazeres sem descuidar do vínculo afetivo. Não se abandona o companheiro, mas nos integramos a ele, amamos com plenitude.
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Amar ou depender?
Fiksi Ilmiah"Amar ou depender?" é um guia para os primeiros passos em direção a uma vida amorosa saudável, plena e feliz. Neste livro, o psicólogo Walter Riso identifica quando uma relação torna-se doentia, conceituando a dependência afetiva e expondo o limite...