Capítulo 11 - Aquele porra do seu Amigo!

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Não dá para prever o que vai nos fazer lembrar das coisas ruins da nossa vida

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Não dá para prever o que vai nos fazer lembrar das coisas ruins da nossa vida. Às vezes elas vem com aviso de gatilho, mas é raro.

Aquele babaca me oferecer dinheiro para me comer foi uma das situações sem aviso, que entrou a seco, arrombando tudo e me deixando uma semana na fossa e sem conseguir escrever.

(Sei que não devia dar tanto poder a ele, mas, se fosse possível controlar isso, acha que não teria dado um jeito?).

A coisa mais assombrosa que existe, para mim, é ser controlada de novo. A maioria das vezes que fui, não percebi. Autorizei, sem dúvidas, mas não... percebi, entende?

Quando a carreira do meu ex decolou, perdi espaço. Antes, quando não tínhamos um puto na carteira, eu era sua produtora, sua backing vocal, a tecladista, maquiadora, cabeleireira. Eu fazia tudo na carreira dele, até sua agenda de shows era minha responsabilidade.

Depois que decolou, perdi essas funções. Uma grande agência ficou responsável por tudo, cada mês ele estava num estado, cada dia uma maquiadora e uma cabeleireira diferente, uma banda, um técnico de som.

E eu? Primeiro achei o máximo. As viagens de primeira classe e jatinho encantam, mesmo. As roupas, as comidas, os acessos que a gente ganha. Tudo isso é muito legal.

Depois a gente vira aquele rico esnobe que só reclama da vida e se recusa a viver com uma mala de viagem nas costas.

Aos poucos, a menina alegre e muito ativa, que aprendeu a tocar teclado para economizar no cachê de músicos, ia ficando para trás, em casa, comandando governanta e faxineira, sabendo do marido pelos tabloides de fofoca e escândalos na televisão.

Virei esposa troféu. Virei parte da mobília. Ele nem fazia mais questão de aparecer em casa e, quando chegava, depois de meses de viagem, me olhava, a mocinha que fez das tripas coração para vê-lo prosperar, e não queria nada comigo.

Passei a frequentar spas e salões de beleza, emagreci muito, tomei reguladores de apetite, alisei o cabelo, fiquei loira. Tudo para chamar atenção, nem sempre só a dele, mas das outras pessoas ao redor, também.

Quando aparecia em eventos e era apresentada como "esposa do fulano", eu via como as pessoas me olhavam. Ele era a grande estrela e eu era essa... essa coisinha comum?

Nunca mais coisinha comum, pensei eu no fundo do poço depois de mais um escândalo de traição de meu marido. Entendi cuidados com o corpo como autoestima, gastava rios de dinheiro para ser o que eu não era.

E tudo isso... para quê? Dinheiro não era problema, mas todo o resto era. De reguladores de apetite para remédios tarja preta. De quarenta e quatro, meu manequim, para trinta e seis. Depois, trinta e dois.

Cheguei a pesar quarenta e nove quilos, e eu nem sou tão baixinha assim. Minhas olheiras eram tão grandes que as maquiadoras enchiam minha cara de corretivo laranja, depois base, depois mais corretivo. Era tanta coisa na cara, todos os dias em que meu marido estava em casa, que eu negava beijos e abraços para não me sujar.

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