Capítulo 18 - Não diga que seu nome É Daniel!

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Não contei para ninguém o que aconteceu depois que fechei o Stage mais cedo naquele dia

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Não contei para ninguém o que aconteceu depois que fechei o Stage mais cedo naquele dia. Sequer contei que deixei Valéria com a chave do bar. Sabia que Natália viria com um discurso que não me interessava ouvir, e Daniel faria piadinhas.

Sem paciência, não contei a ninguém. Só Leandro que me perguntou, por mensagem, o por que ofereci dinheiro para estar com uma mulher.

Consegui ignorá-lo por um dia inteiro antes que me ligasse, preocupado pelo meu silêncio, e fui obrigado a lhe contar do ocorrido.

Ele, que tem seus defeitos, me ouviu e não me julgou. Esse seu lado católico era bom, embora o resto não fosse.

— Fico feliz por você, man. — Me disse, no fim da conversa. — 'Tava na hora de achar alguém para te tirar do pedestal.

Desligou antes que eu respondesse. Droga de submisso iludido. Só faltou querer me ensinar sobre o amor.

Cocei a cabeça, descontente por não ter a última palavra, e continuei ocupado com meu relatório.

Levei trabalho para casa, mesmo contra as regras de Ana. Ela era a rainha da casa, a mim, restava o papel de banco. Quando chegou, mudando toda a minha vida e meus planos, ela e seus irmãos, me disse que levar trabalho para a casa era o mesmo que nunca parar.

Trabalho, porém, era a única função que me impedia de ligar para Valéria e de marcar eu mesmo o próximo encontro. Queria sentir a adrenalina, a raiva misturada, de foder com ódio. Sempre gostei de tensão e desacordo, mas nunca achei quem correspondesse.

Sinto que falei demais com aquela coisa, mas foi bom. Devia ter ficado mais quieto. Talvez isso a tivesse assustado. Tem mulher que bate de frente comigo, por orgulho, mas sou velho o bastante para identificar teatro.

Valéria ficou três dias sem falar comigo depois de ter lhe dado o melhor sexo de sua vida. Não apareci no Stage, tanto pelo excesso de trabalho pelo lançamento próximo, quanto por não querer encontrá-la.

Era a vez dela, foi isso o que me disse quando saímos do quarto nos primeiros raios do dia, então seria sua função me ligar, também.

Não estava pronto para entregar minha submissão, nunca estive. Se ela o quisesse, que a arrancasse de mim. Era essa a minha única vontade. Queria saber o quanto sua boca suja e língua esperta seriam capazes de fazer com o meu gênio.

Criado como fui, trabalhando como trabalho, pai de três crianças e o mundo se desdobrando ao meu sabor, se ela quisesse me ter de joelhos, teria que trabalhar por isso. Teria de fazer por merecer a honra.

E só por isso que esperei três dias, ao lado do telefone, relendo relatórios em PowerPoints e ouvindo diretores que empertigavam suas colunas na hora de me cumprimentar.

Não lhe daria nada a ela de mão beijada. Se me quisesse, como Leandro bem disse, teria que me arrancar do pedestal, me arrastar pelo asfalto quente, amarrar meus pulsos com lava. Menos que isso não me fariam cócegas.

Quando me ligou, entretanto, não atendi no primeiro toque. Deixei tocar, deixei a ligação cair. Dispensei o chef e fiz eu mesmo o jantar, sem carne, como minha Ana preferia.

Esperei que me ligasse outra vez, mas não ligou. Deixou mensagem que li pelas notificações do celular bloqueado: "Me liga quando puder, tá?".

Não liguei.

Virou o quarto dia, quatro dias sem comunicação e não fiquei desesperado pelo contato, isso era parte do jogo, ela sabia jogar e eu sempre fui dono da bola.

Almocei na empresa, na mesa do escritório, entre uma reunião e outra. Os outdoors estavam montados pelo mundo inteiro, cada modelo e cultura com sua própria campanha de marketing, a nova coleção finalmente tinha chegado a Dublin.

A diretora do financeiro rompeu a porta com o computador na mão, de meia fina sem saltos, os olhos protegidos com óculos para ler de perto.

Mari. A minha submissa por excelência, mãe de três filhos e que amava servir. Com suas trancinhas arrumadas no coque, sabíamos que não estávamos no Stage e que nossa relação tinha outro teor.

— Antônio, ...

Soltei o tablet e dei uma garfada na salada, evitando que o molho sujasse minha camisa. Calcei os sapatos por baixo na mesa e não pude fazê-lo sem lembrar de John Lobb.

Valéria criando safeword por medo de se apaixonar.

— Antônio!

Ergui o dedo, pedindo um segundo, e engoli o conteúdo da boca. Me levantei ajeitando a gravata, sabendo qual sua demanda, e procurei o celular.

Bank of London está na call.

Senti o aparelho vibrando no bolso de trás e parei de procurá-lo. Olhei o remetente da ligação, para a Mari que esperava por mim.

— Um segundo. — Pedi, avançando até a porta de meu escritório, não para segui-la, mas para deixá-la para fora.

Avisei, conforme atendia a ligação, que precisava de cinco minutos. Mari tinha a testa vincada enquanto me olhava pela porta de vidro, sabendo da importância da reunião com o banco, mas sem entender a minha demora.

— Oiê! — Valéria. Com a voz mais cínica do mundo, como se não tivesse me deixado não três, mas quatro dias de molho. — Tá com tempo para mim?

— Não. — Respondi. Precisava ser rápido, se quisesse dar conta de tudo.

— Ligo outra hora?

— Já estou na linha com você. — Coisinha desaforada. Meu dia não tinha tantas horas quanto necessárias, e ela me deixou esperando por quatro dias inteiros.

— Então eu vou ser rapidinha, prometo. — Raspou o telefone em alguma coisa, ouvi um chiado esquisito e, sabendo o quanto sua vida era caótica e desorganizada, não me interessei em perguntar do que se tratava. — Tá com tempo livre hoje, Toninho?

— Depois das nove.

— Tá, então vem aqui para casa quando ficar livre, tá bom? E não diga ao porteiro que seu nome é Daniel!

— Por que não no Stage?

— Eu não vou rasgar sua autoridade dentro do seu bar, fofinho. — Gostei do que ouvi e não pude controlar o sorriso — Vai ser legal te ter de submisso para mim, mas se eu tiver que pastar como sei que você vai me obrigar, ninguém que não pastou comigo vai ter a honra de testemunhar!

Gostei tanto do que ouvi, que relaxei os ombros. Afrouxei a gravata.

— Diga alguma coisa! — Ela pediu — Eu não tô onde você tá para saber como tá reagindo!

— Gostei do que ouvi, Valéria.

— É claro que gostou, fui eu quem disse.

Mari, ainda me esperando depois da porta de vidro, ouviu minha gargalhada. Vincou ainda mais a testa, confusa com a minha leveza, e me virei de costas para ter alguma privacidade dentro de meu próprio escritório.

— Tá combinado, Toninho?

— Nove horas. — Repeti — Levo alguma coisa?

— Vem de harness por cima da camisa, tá? E traga toda a paciência que tiver, também, mas deixa o dominador por aí, que aqui em casa ele não vai entrar.

Desliguei o celular com o humor diferente, e Mari percebeu. Pelo menos, serviu para lidar com o resto dos problemas e da ansiedade da minha equipe em vésperas de lançamento.

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