21:34
Ver os meus pais orgulhosos da nossa conquista deixava-me de coração cheio. Álvaro, que apesar de não ser o nosso pai biológico, foi uma peça fundamental ao longo da minha vida, assim como de Mafalda.
Estava casado com a nossa mãe desde os nossos sete anos e jamais se separaram. Nunca conheci um casal mais apaixonado e unido que eles, mesmo após tantos anos juntos. O humor, o amor e o companheirismo entre ambos fazia qualquer pessoa invejar.
Viviam numa quinta em Penafiel, rodeados por animais, campo e um requinto discreto. Ambos cresceram juntos pelo ramo da advocacia e não deixaram de partilhar os mesmos objetivos. Foi muito difícil.
A estabilidade financeira existia de momento, mas foram longos anos a batalhar. O meu pai saiu um dia para trabalhar, sem nunca mais voltar. Sabíamos apenas que vivia algures em Espanha e que nos primeiros anos enviava, por correio, dinheiro para nós.
Dona Constança lutou muito para não usufruir do dinheiro, mas criar duas filhas, solteira, sem o apoio da família, não foi tarefa fácil. Escola, a alimentação, a despesa indispensável que eram os médicos e hospitais.
Porém, ao fim de vinte e três anos, olhava para a primeira casa comprada pelas filhas, bastante orgulhosa do nosso percurso.
- Quem é que cozinhou?
Apontei de imediato para a Mafalda, pois tinha saído primeiro que do trabalho.
Álvaro elogiava o seu cozinhado.
Entretanto, a minha atenção foi para o bolso das calças que usava, onde tinha o telemóvel no seu interior. Este que peguei, procurando saber o porquê de ter vibrado.
Uma notificação do WhatsApp surgiu aos meus olhos, o que me levou a abri-la.
desconhecido
Madalena, tentei enviar-te mensagem pelo instagram, mas percebi rapidamente que me tinhas bloqueado. Só te quero agradecer pelo que disseste ao Afonso e por teres protegido e salvo a minha pele de certa forma. Há muita coisa que gostava que soubesses, mas sei que a minha oportunidade já passou. Tirei o número do telemóvel do Afonso sem ele saber. Queria que tivesse sido diferente. Desculpa mais uma vez e obrigado.
André Silva
O meu coração falhou as seguintes batidas, pela mensagem inesperada que havia recebido, deixando-me ligeiramente nervosa. Tentei não passar essa reação para a minha irmã e menos ainda para a minha mãe e padrasto. Estava um ambiente demasiado bom.
Terminei a água que tinha no copo, levantando a cabeça para perceber se estavam a olhar para mim ou se estavam abstraídos.
Mafalda falava sobre a sua experiência nestes últimos meses, levando a atenção do casal mais velho para si. Felizmente. Voltei a desbloquear o meu telemóvel, relendo a mensagem enviada há meros minutos por André.
André Silva
Não menti por ti, mas sim pelo Afonso.
Guardei rapidamente o telemóvel, começando a levantar os pratos vazios da mesa. Antes de ir para casa, comprei duas caixas de gelado largas e de diferentes sabores.

VOCÊ ESTÁ LENDO
HURRICANE ➛ ANDRE SILVA
Fanfiction"Nunca quis ser o dedo que aponta, nem mesmo quando estendias o dedo da afronta, eu era louco por ti, tu eras louca, qual de nós a cabeça, qual a forca?"