Capítulo 23

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Pov Jennie

Tive uma péssima noite de sono e meu mau-humor deve estar emanando porque ninguém se atreve a falar comigo quando chego segurando meu copo gigante de café e usando óculos escuros para esconder meus olhos vermelhos do choro e da noite mal dormida.

— Problema com o PA?
Megan se arrisca a falar comigo próximo da hora do almoço e eu sinto muita vontade de mandar ela catar coquinhos.

— Não tenho mais um PA. Acabou tudo.

— Pobrezinha. Eu falei para não se apaixonar. Mulheres muito inteligentes não sacam nada de romance.
Ela tem o bom senso de se afastar depois disso e eu fico esmurrando as teclas do computador, tentando escrever algo que preste e me frustrando de forma considerável. Tudo o que quero é tomar um porre e me livrar dessa sensação ruim no peito e é por isso que eu ligo para a Rosé na hora em que estou saindo.
A encontro no nosso bar favorito e me jogo na cadeira estofada de um jeito bem largado, deixando a bolsa no chão e erguendo meus óculos para cima da cabeça.

— O que está acontecendo com você? — ela pergunta sem entender todo meu mau-humor.

— Estou frustrada. Carente. Revoltada e querendo muito chorar.
Rosé acena para o garçom e pede duas cervejas.

— Eu quero vinho.
Ela estranha meu pedido, mas pede para o rapaz anotar.

— O que está dando para querer tomar vinho em dia de semana?
Olho para ela e resolvo abrir o jogo.

— Ontem pedi para a Lisa transar comigo, ela deu um discurso enorme e praticamente me deu o pé na bunda e eu não sei direito como estou me sentindo sobre isso.
Nossas bebidas chegam e eu ataco o vinho de pêssego. Rosé toma um gole da cerveja e parece me analisar.

— Você está brava por não ter transado, ou...

— Estou chateada.

— Por quê?
Penso na pergunta. Seria esperado esse acordo chegar ao fim, mas...
— Você gosta dela — ela responde por mim.

— O quê? Gostar dela? Claro que não!

— Jennie, você está quase chorando ao me contar o que aconteceu.

— É por vergonha, amiga. Eu estava morrendo de tesão e aí pedi para ela me fazer mulher. Tem coisa mais brega?

— É sério isso? Você não pediria algo assim se não confiasse nela, não é?
Ela tem razão. Eu confio muito em Lisa. Ela faz com que eu me sinta segura e ousada e também linda porque a forma como me olhou com aquela lingerie e pediu para eu sair porque não queria fazer besteira... ela me respeita acima de tudo e sempre se certifica de fazer com que eu fique confortável e eu achei que alguém que te coloca para cima fosse uma espécie de lenda.

E nunca ninguém se importou comigo o suficiente para me fazer um chá, ou me abraçar até que eu dormisse como aquele dia em que reencontrei Mino. Eu estava apavorada, mas ainda assim Lisa foi a primeira pessoa que procurei, pois, de algum jeito, quando ela me abraça faz com que os problemas se tornem menores.

— Jennie?
Olho para Rosé e sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

— Aquele dia em que vi o Mino, eu corri para os braços dela, sabe.

— Sei.

— Rosie, você acha que eu posso estar gostando dela de um jeito diferente?
Minha amiga sorri e balança a cabeça em sinal afirmativo. Eu viro o restante da taça de vinho e peço por mais.

— Eu não quero me apaixonar — digo a ela. — Essas coisas só atrapalham e eu só dou azar no amor.

— Já tem idade o suficiente para saber que a gente não escolhe se apaixonar. Simplesmente acontece.
Penso em Lisa, na nerd e chata Lisa, e não consigo mais associá-la a chatice. Eu penso na forma como ela adora chá, filmes antiquados e passa um tempão cuidando do jardim e na maneira como sempre tem algo de bom para dizer, tipo a Dona Neusa que queria um empréstimo e ela a mandou procurá-lo. É difícil ver alguém com paciência de falar com velhinhas tagarelas e fofoqueiras.

𝘼 𝙫𝙞𝙧𝙜𝙞𝙣 𝙞𝙣 𝙩𝙧𝙤𝙪𝙗𝙡𝙚 •Jenlisa G!POnde histórias criam vida. Descubra agora