Capítulo 25

4.9K 500 90
                                    

Pov Jennie

Eu sei que não é a melhor coisa do mundo chorar e se encher de gordura hidrogenada, mas é exatamente isso o que faço. Cada lágrima é compensada com uma generosa colher de sorvete de baunilha.

E não ajuda em nada o fato de eu ficar vasculhando os perfis das redes sociais de Natalie e descobrir que ela está solteira. Há exatos oito dias.
Por que algumas mulheres nascem com a bunda virada para a lua?

Eu sei que me afundar em doces não é a melhor forma de lidar com a situação e que eu estive ciente desde o começo sobre os termos daquelas aulas, mas isso não impede meu coração de doer e muda a lista de filmes românticos a que fico assistindo para matar tempo.

Se fosse em qualquer outro dia e eu estivesse entediada, poderia contar com Lisa para conversar e me fazer rir. Ela tem a mania de ficar cuidando do jardim nos sábados e fica muito sexy com a camiseta suja de terra e aquelas mãos enormes mexendo em coisas tão delicadas quanto flores.

Quando foi que comecei a achar tudo em Lisa adorável e sexy?
Eu deveria saber que fazer um acordo com uma mulher  bonita era um pedido para as coisas darem errado, mas a questão é que eu não a achava bonita antes, não da forma como acho agora.

Continuo a assistir comédias românticas dos anos noventa e termino o pote de dois litros de sorvete, estranhando a consistência meio esverdeada do fundo, mas do que tenho que reclamar? Era uma queima de estoque boa do mercadinho aqui do bairro.

Termino de assistir ao filme e coloco o próximo da lista, mas deixo em pausa porque minha barriga começa a doer e tenho de correr para o banheiro. Vomito tudo o que comi, sentindo minha testa ficar úmida do suor frio e pegajoso. Será que ainda estou de ressaca?

Pego um remédio para o estômago e dissolvo em um copo de água, voltando para a frente da televisão e tornando a assistir o começo de Como perder um homem em dez dias.

Adoro essas comédias românticas em que as protagonistas são jornalistas em Nova York, acho que veio daí o meu desejo de seguir na profissão. O auge do sucesso é estar com um casaco longo e bonito, esperando por um táxi amarelo e segurando um copo de café em pleno inverno.

Sou obrigada a deixar de lado Kate Hudson e correr para o banheiro quando uma nova onda de náuseas me atinge, fazendo minha barriga doer muito. Sento ao lado do vaso, me sentindo fraca e trêmula.

Consigo me levantar alguns minutos depois, sentindo minha cabeça latejar e a barriga continuar a doer. Pego meu celular dentro da bolsa em cima do sofá e encontro o número de Rosé.

— Rosie — falo com uma voz péssima assim que ela me atende. — Será que pode me ajudar? Não estou me sentindo bem.

— Estou com uma ressaca horrível. Imagino que também esteja.
Estou prestes a responder, mas volto ao banheiro e faço força para vomitar, mesmo que não tenha mais nada em meu estômago.

— Acho que é um pouco pior — digo a ela. — Minha cabeça está doendo muito e a barriga também. Nunca fiquei assim de ressaca antes.

— Estou indo aí.
Ela desliga e eu me levanto, me afirmando nas paredes para chegar até a sala e verificar se meus documentos estão na bolsa. Ao encontrar tudo, desligo a televisão e calço meus chinelos, saindo de casa e fechando a porta.

Acabo vomitando no vaso de flores do começo da escada e me obrigo a sentar, minha cabeça pulsando tanto que a minha visão fica turva, a dor na barriga fazendo eu acreditar que tem algo de muito errado comigo.

Tento afastar os cabelos empapados de suor do rosto, mas acabo vomitando na pobre da plantinha de novo, meu estômago se contraindo de um jeito muito doloroso e que me faz gemer.
Encosto a testa no corrimão de ferro, testando respirar sem voltar a sentir náuseas.

— Jennie!
Abro os olhos ao ouvir o grito esganiçado de Rosé.
— Você está péssima — ela continua a gritar, alheia ao fato de eu estar quase morrendo de dor de cabeça. — O portão está fechado. Consegue descer?

Apenas ergo o polegar e me levanto, vendo tudo girar e ficando bem parada até tudo se normalizar. Tapo a boca com uma mão e com a outra me afirmo, tentando descer, mas fica meio difícil porque preciso olhar aonde piso e se fizer isso torno a sentir vontade de colocar o que não tenho para fora.

— Você está verde, amiga — Rosé diz de uma forma apavorada. — Mas que droga de portão que não abre nem com um chute bem dado.

— O que está acontecendo?
Até mesmo quando estou morrendo sinto meu coração acelerar ao ouvir a voz dela

— A Jennie está passando mal. Quero ajudá-la, mas esse portão idiota não deixa.

— O que houve?
A pergunta dela é feita enquanto sobe os degraus apressados até parar na minha frente. Tento forçar um sorriso e me esqueço de continuar mantendo a boca fechada. Abaixo a cabeça e vomito nos pés de Lisa, bem em cima dos sapatos brilhantes dela.

— Sinto muito — consigo falar no intervalo das ânsias. — Não sei o que está acontecendo.
Tudo gira e eu só não caio porque Lisa me pega no colo.

— O que está havendo?
Vejo Natalie me olhando apavorada enquanto Lisa desce as escadas comigo em seus braços, quase como um daqueles heróis dos filmes que amo assistir.

— Agora não — ela a responde secamente. — Destranque o portão. A chave está em cima da mesinha da sala.

— Jen, você está bem?
Tento sorrir para Rosé na tentativa de tranquilizá-la, mas minha aparência deve estar mesmo assustadora porque minha amiga me olha com pena e nem faz piadinhas sobre eu estar nos braços de Lisa.

Natalie abre o portão e Lisa anda comigo até o carro de Rosé, que abre a porta de trás. Ela entra comigo em seus braços, para grande espanto das duas que estão nos olhando.

— Acho que ela está com febre — diz olhando para Rosé. — Vamos de uma vez.

— E eu?
Ela olha para Natalie e apenas faz um gesto para que minha amiga feche a porta.

— Deveria me colocar no banco — digo com voz rouca, a garganta doendo do esforço que andei fazendo nos últimos minutos. — Pode acontecer outro acidente.

— Não me importo. Só quero te levar para o hospital. Está com uma aparência péssima.
Rosé entra no carro e me olha pelo espelho retrovisor.

— Acho que isso pede o jeito Rosé de dirigir.

— Que Deus nos ajude.
É tudo o que consigo dizer antes de fechar os olhos e me agarrar em Lisa, rezando para não vomitar nela durante o caminho.

𝘼 𝙫𝙞𝙧𝙜𝙞𝙣 𝙞𝙣 𝙩𝙧𝙤𝙪𝙗𝙡𝙚 •Jenlisa G!POnde histórias criam vida. Descubra agora