1. Apresentação.

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Era fim de tarde e o brilho do sol ainda atravessava a janela e iluminava o canto da mesa de trabalho a minha frente, as vezes eu estendia a mão para tocá-lo e confirmar se ainda conseguia sentir o calor na minha pele. Fazia meses, anos, que era como se eu tivesse ligado o piloto automático e deixado que ele me guiasse por aí, sem me importar muito com o caminho...

Me chamo sn e trabalho em uma agência de comunicação audiovisual, eu escrevo, filmo e edito vídeos. Entrei nesse mundo bem cedo, aos 20 ainda nem havia concluído a faculdade, mas já sabia que o que eu queria fazer o resto da vida era contar histórias. Por que se eu fosse capaz de tirar as pessoas das suas realidades por um momento, eu poderia, facilmente, sair da minha também quando eu bem quisesse.

Acontece que o meu sonho era ganhar o mundo, abrir a minha própria empresa nessa área e ser livre para criar. Nada deu certo, aos 28 estou na segunda agência desde que me formei em comunicação, mas nenhuma delas é minha. E além dos grandes e talentosos amigos que fiz pelo caminho, sinto que não cresci como profissional e ser humano, não realizei meus sonhos.

A agência que estou hoje não é ruim, meu salário não é nada mal também, ele chega a ser muito bom se levarmos em conta que moro em uma cidade no nordeste do Brasil, onde o mercado do audiovisual não é muito valorizado e paga mal. Vale lembrar também que o Brasil não está no seu melhor momento, principalmente quando falamos de valorização da cultura. Por aqui estamos vivendo dias cinzentos de verdade.

Meu trabalho é fazer a comunicação de alguns políticos locais, esse é o publico-alvo da agência, e essa é outra razão que faz com que eu me sinta sufocada, é difícil levantar todas as manhãs para continuar fazendo vídeos sobre leis e a situação política do país, estou com a sensação de que este lugar não é mais pra mim, aonde quer que eu vá é como se estivesse procurando uma posição para me encaixar, mas eu não estou cabendo confortavelmente.

Infelizmente o medo de bater as asas e voar para céus desconhecidos parece que me bloqueia, me paralisa. Não importa quantas vezes eu escute sobre a minha competência, as oportunidades que estou deixando passar e a vida que estou deixando de viver, eu simplesmente não acredito que vai dar certo comigo, não consigo dar o primeiro passo para uma mudança, imagina só se eu vou largar tudo e arriscar minha carreira desse jeito, não vai dar certo!

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- Sn? Sn! Tô falando com você, ainda está nesse planeta? - disse Lua, minha amiga e produtora favorita neste mundo e no próximo. Trabalhamos juntas desde o meu primeiro estágio e, desde então, o universo sempre trata de nos unir novamente. Saber que tenho ela aqui comigo me dá forças pra continuar, faz até a minha rotina parecer menos chata e medíocre.

-Oi! Me desculpa, Lua, eu estava escrevendo um roteiro, o que foi? -perguntei confusa.
-Eu já estou indo, ok? Se mudar de ideia, estou lá no bar de sempre com o pessoal, é só me mandar uma mensagem. -Lua respondeu com cara de quem só estava convidando por educação, pois sabia que eu não tava no humor para bebedeira.
-Tudo bem! Obrigada, mas pode ir. Estou com a minha chave e fecho tudo quando sair. - respondi com toda a gratidão que consegui reunir naquele momento.

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Respirei fundo e decidi continuar com o trabalho, peguei uma cerveja no frigobar, coloquei os fones de ouvido e escolhi uma playlist do meu grupo favorito na atualidade: Stray Kids.

Eu não expliquei essa parte ainda, mas é que além do audiovisual, eu sou loucamente apaixonada por música, por música pop, Kpop para ser mais exata.

Escutei BTS pela primeira vez em 2019, foi meu primeiro contato com o pop coreano e era uma fancam do Taehyung em "Boy With Luv". Enquanto assistia aquele vídeo no YouTube, completamente chocada e encantada, eu não sabia ainda mas encontraria ali o melhor refúgio para os meus dias sombrios. Quando percebi, já tinha me agarrado aquilo com toda força e não larguei mais. Foi a minha primeira melhor decisão tomada em bastante tempo.

Enquanto alternava minha concentração entre o desenvolvimento do texto na tela do notebook e cantar "Easy" que tocava no volume mais alto, minha atenção é chamada para o meu celular que vibrava sem parar em cima da mesa. Pensei de cara em não atender, estava ocupada e não queria interromper o meu momento de paz, mas achei melhor verificar se valia a pena, quando li o nome no visor, na mesma hora avaliei que valeria sim, era uma chamada de Léo, meu ex-chefe e grande amigo.

Léo é dono da primeira agência que trabalhei, lá o nosso foco era mais publicitário e a rotina era mais exaustiva, mas eu tenho boas lembranças, acho até que eu era mais feliz naquela época, nem tenho mais a mesma certeza se tomei a decisão certa quando resolvi pedir demissão. Léo foi também o primeiro a me dar uma oportunidade e a me ensinar quase tudo que eu sei. Mesmo não sendo tão mais velho que eu, seu talento, experiência e o seu grande coração o tornam um profissional como poucos. Fazia algum tempo que não nos falávamos, mas eu não ousaria recusar uma ligação dele, não importa a situação.

- Alô, Léo, boa tarde! Tudo bem? - Atendi tentando demonstrar alegria em falar com ele, mas acho que meu tom demonstrou mais a minha surpresa com a ligação aleatória do que qualquer outra coisa.

- Sn! Tudo ótimo! E você, como está? Tem um tempinho pra mim? Preciso ter uma conversa com você... Na verdade eu acho melhor a gente combinar de tomar um café, pode ser? - Ele me fez todas essas perguntas de uma vez só. O tom dele era calmo, mas por que será que eu sentia que ele tinha uma bomba pra me contar? Aliás, por que eu sentia que estava prestes a segurar uma bomba nas mãos?

Assumindo o Risco (Lee Know)Onde histórias criam vida. Descubra agora