2. A proposta.

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(No dia seguinte...)

- Não gosto muito dessa cafeteria, é barulhenta. A que fica perto da agência é mais agradável, você não acha? - Léo perguntou com um certo deboche e eu ri.
- Tem razão, lá era mais agradável, a agência e a cafeteria. Talvez eu deva voltar, ainda tem lugar pra mim? - Continuei com a brincadeira e rimos juntos.

Léo sempre foi contra o meu pedido de demissão, argumentou de todas as formas que eu estava sendo precipitada e metendo os pés pelas mãos. Na época eu não o escutei, fui imatura e me deixei levar pela ilusão de que um salário maior me traria mais felicidade.

- Como você está, sn? A última vez que nos falamos foi no churrasco de aniversário da Carol, você ficou muito bêbada e desabafou um monte sobre como a sua vida era entediante e um fracasso total. Eu cheguei a te dar uns conselhos, mas tenho certeza que você não se lembra de nenhum deles. - Léo mexia o seu capuccino enquanto olhava pra mim com uma das sobrancelhas levantadas, seu tom era sarcástico, mas logo em seguida ele assumiu uma postura mais séria.

- Pois é, não me lembro de nenhum deles, mas tenho certeza de que você me disse algo como "Sn, esse trabalho não é pra você, acabe logo com isso, você é capaz de muito mais". Como podemos ver, eu ainda estou bem aqui, fazendo esse trabalho, então não é que eu não me lembre do seu conselho, eu simplesmente tô presa num buraco negro.
- Respondi estressada e cuspindo as palavras sem pensar, como se Léo fosse o culpado pela minha inércia e não eu mesma.

- Certo, eu já conheço esse discurso, então vamos pular essa parte. - Ele me disse revirando os olhos. - Eu chamei você aqui pra te fazer uma proposta. Preciso que você me escute com atenção primeiro e depois faça as perguntas que quiser. Ok? - Depois de ouvir essa introdução, meu coração começou a palpitar de ansiedade. Léo me olhava totalmente sério agora, eu sabia que a conversa exigia toda a maturidade que habitava no meu ser, então dei a ele a atenção que ele queria.

- Eu não falei sobre isso formalmente ainda com muita gente lá na empresa, na verdade só os sócios e alguns parceiros envolvidos estão sabendo. Acontece que a agência cresceu, sn, e cresceu fora do Brasil, estamos pra abrir uma filial nos Estados Unidos, que vai ser um braço nosso na América, e outra na Coreia do Sul, que vai atender os nossos clientes na Ásia. - Léo explicava enquanto riscava de caneta vermelha em um bloquinho de papel que ele sempre tinha no bolso, segundo ele era para o caso de precisar anotar alguma ideia repentina.

Eu alternava minha atenção entre seu rosto, agora com um semblante mais neutro e entre o papel repleto de rabiscos ilegíveis.

- Tá beleza, fico feliz demais com o crescimento da empresa, vocês são incríveis e trabalham duro há bastante tempo, merecem todo esse sucesso. Mas onde é que eu entro nessa história? - Perguntei na lata. Não estava entendendo mesmo onde ele queria chegar.

- Acontece que preciso de alguém pra tocar a filial da Ásia, sn, e quem é minha amiga, profissional talentosa, tem minha total confiança e precisa muito dar uma virada de 180 graus na vida? Além de amar tudo que envolve a Coreia do Sul? Eu mesmo respondo: você! Inclusive, sabia que o BTS mora lá? - Ele largou a bomba no meu colo com essas palavras cheias de ironia e inclinando o rosto pra ver a minha reação, eu parei por uns segundos pra refletir se tinha escutado direito.

Toda seriedade do início da conversa já tinha evaporado do olhar dele, Léo exibia um risinho sínico estampado na cara, parecia que tinha me chamado pra ir ao cinema e não para me mudar pro outro lado do mundo.

- Como é? Você tá me pedindo pra tocar uma empresa? Pra tocar uma empresa fora do país? Na Coreia do Sul? Eu nem falo coreano! Tá doido? - Respondi na defensiva, como se fosse óbvio que aquela ideia era um absurdo total.

- Não entendi o surto, não estou falando nenhum absurdo aqui. Eu ainda vou te explicar todos os detalhes, temos muita coisa pra conversar. Eu só preciso saber se posso contar com você, pelo menos pra ouvir o projeto de coração aberto. Se você não estiver disposta a se esforçar pra que dê certo, realmente não vai rolar. E não precisa falar coreano, tá? Inglês é suficiente, por enquanto. - Ele me esclareceu com toda calma do mundo e pareceu funcionar.

Respirei fundo, dei um gole no café, olhei bem nos olhos dele e, imeditamente, enxerguei em seu olhar o incentivo que eu precisava para começar a pensar nessa proposta como algo possível. Ainda não estava muito segura disso, mas também não queria dizer "não" sem antes analisar a possibilidade de todos os ângulos.

- Vamos supor que eu aceite conversar sobre o projeto e me inteirar de tudo que está acontecendo, para, possivelmente, ir embora pra Coreia, de quanto tempo estamos falando? Quando a filial vai abrir as portas e eu teria que estar lá? - Perguntei morrendo de medo da resposta, mas precisava entender o nível da loucura que estávamos debatendo ali e eu estava me metendo.

- Uns 4 meses no máximo. A parte burocrática já está quase toda resolvida, semana passada alugamos um prédio bem legal que vai passar por uma reforma, mas não deve demorar. Depois disso faremos um processo seletivo pra escolher alguns funcionários residentes lá em Seul, eu gostaria que você já estivesse lá para ver isso de perto, mas talvez não dê tempo, tudo bem. - Ele falava em alto e bom som, mas em um certo momento eu parei de ouvir, as palavras começaram a embaralhar e nada do que ele falava fazia mais sentido.

Senti que uma crise de ansiedade estava chegando, pedi a Léo que suspendêssemos o assunto naquele instante e retomássemos outra hora. Confesso que eu estava empolgada com a proposta, mas tinha sido muita informação em 24 horas, eu precisava respirar, colocar as ideias em ordem pra poder assimilar tudo aquilo.

Assumindo o Risco (Lee Know)Onde histórias criam vida. Descubra agora