INTANGIBILIDADE PARTE I

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Minha cabeça estava martelando, como se tivesse tomado todas com Camille no bar da esquina da casa do seu namorado, aquele em que fui proibida de entrar depois de estragar o microfone do karaokê quando o derrubei dentro da caneca de chopp

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Minha cabeça estava martelando, como se tivesse tomado todas com Camille no bar da esquina da casa do seu namorado, aquele em que fui proibida de entrar depois de estragar o microfone do karaokê quando o derrubei dentro da caneca de chopp. Ainda, como se já não fosse o suficiente, estava deitada em um lugar duro, o que não estava sendo bastante favorável, já que meus músculos clamavam por um alongamento.

Com um pouco de receio pela ressaca, fui, temerosamente, abrindo os olhos para conseguir me situar. Esperei pela tontura, pelo enjoo, mas eles não vieram, apenas essa dor de cabeça estranha. Entretanto, o que me assustou não foi a ausência desses sintomas — afinal, estava agradecendo por não os estar sentindo —, mas o feno e as altas paredes feitas de madeira escura, impossibilitando a entrada do sol, que apenas sabia que estava glorificando os céus pelos raios que teimavam em entrar pela pequena janela no alto do que parecia ser... um celeiro?

Apoiei minhas mãos no chão a fim de me levantar, e foi quando vi algo tremendamente estranho, com um formato de um triângulo, um risco o dividindo e um ponto preto no final do traçado. Fechei os olhos e rezei naquele momento.

— Senhor, pelo amor de tudo que é mais sagrado, me diga que não estou em Las Vegas, me casei com um total estranho e fiz uma tatuagem, não aguento mais tragédias na minha vida... — exasperei.

Sentei-me, apoiando minhas costas na parede de madeira atrás de mim e fiquei encarando aquela enorme tatuagem no meu antebraço. Tem uma chance de ser de henna, pensei. Com essa esperança, cuspi no braço e tentei esfregar com força, segurando firme na minha reza, pois sempre tive medo de agulhas. Não consigo me imaginar fazendo uma tatuagem grande como esta. Para o meu total desespero, a imagem não se moveu, então retornei para a minha ideia de que tinha feito merda.

— Certo, Alice! Pense com a cabeça! — continuei falando comigo mesma, visto que, no celeiro, apenas as formigas que estavam trabalhando me acompanhavam.

Após alguns segundos respirando fundo, levantei-me e fiz o que meu corpo tanto suplicava: me alonguei. Meus músculos, se pudessem falar algo, agradeceriam em pé, pois estava "moída". Aparentemente, fiquei bastante tempo nessa mesma posição. Olhei para os lados e juntei toda a coragem para enfrentar a enorme Las Vegas, que nem fazia ideia de como tinha chegado até aqui, pois meu passaporte estava confiscado... Tempos difíceis.

Encarei minhas roupas, buscando por traços de uma noitada, mas, para a minha sorte, não estava com a camiseta vomitada. A constatação disso me trouxe mais indagações. Fora o fato de não saber quando minhas roupas Gucci se transformaram em uma calça jeans preta, uma regata cinza e coturnos. Acredito que levei muito a sério quando pensei em me renovar depois de ser largada pelo meu ex noivo quinze dias antes do nosso casamento no México.

Abri as portas do celeiro, já sabendo que não poderia estar em Las Vegas, uma vez que esqueci de algo extremamente importante: não se escutava barulho algum. Estava no que parecia ser uma praça, o que me fez questionar como consegui entrar nesse celeiro, e o porquê tinha um celeiro em uma praça. Olhei para os lados, ainda segurando a porta de onde saí, e pude observar as pessoas correndo, tomando café, lendo os seus jornais, todos relaxados, diferente de mim, que não fazia ideia de onde estava.

Os Escolhidos de RazielOnde histórias criam vida. Descubra agora