NECRÓPOLE PARTE I

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Para garantir que aquelas almas encontrassem seu caminho, o Anjo abençoou Roma, lançando uma aura celestial na atmosfera

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Para garantir que aquelas almas encontrassem seu caminho, o Anjo abençoou Roma, lançando uma aura celestial na atmosfera. Inebriados com o artifício divino, os quatro escolhidos entraram em um transe assim que puseram seus pés na capital, ficando presos em suas próprias cabeças.

O primeiro deles a chegar foi Beatriz. Desembarcou no Aeroporto Internacional de Roma e se juntou a um grupo de jovens que iria fazer uma excursão até o Vaticano. De semelhante modo, Lorenzo chegou um pouco depois, saiu do aeroporto e pegou carona com um grupo de fiéis que estavam indo para a mesma cidade.

Alice, no entanto, não precisou fazer muito esforço. Como embarcara de forma clandestina em um navio cargueiro, teve que passar a maior parte do seu tempo escondida. Por sorte, acabou encontrando um pouco de conforto dentro de um contêiner que levava uma remessa de colchões. Escolheu, dentre eles, o mais macio e acabou adormecendo. Nem percebeu quando o navio atracou e a grande caixa de metal em que estava foi colocada em um caminhão.

Thiego também não teve muito trabalho. Seu companheiro de viagem recebeu uma intervenção divina que o direcionou a levar o jovem até a cidade do Vaticano.

E, logo, os quatro estavam exatamente onde tinham que estar.

Bom, não exatamente onde tinham que estar, mas ainda sim, mais próximos do que nunca tiveram.

Foi então que o efeito de transe da aura celestial cessou.

Alice acordou daquele estado no minuto em que alguém abria as portas do contêiner. Ela rolou para o lado e se jogou no chão, tentando, inutilmente, não fazer tanto barulho.

Cos'è stato quel rumore? — alguém disse lá na frente. Antes que alguém pudesse ir até onde ela estava, Alice correu na direção de uma parede, atravessando-a.

No entanto, ela não contava que o contêiner estaria em um ponto mais elevado. Soltando um grito, viu seu corpo se projetar para frente, indo diretamente de encontro ao chão. Ela apertou os olhos, atravessando o solo e, depois de alguns segundos, que mais pareceram uma eternidade, caiu em uma corrente de água.

Ela se sentou, sentindo a dor nos glúteos que amorteceram a queda. Passou os olhos ao redor lembrando-se de que não fazia muito tempo que vivenciara algo parecido.

— De novo? — reclamou para o céu. Por sorte, aquelas águas pareciam mais limpas do que as de um esgoto.

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Beatriz, por sua vez, despertou dentro da Basílica de São Pedro. Ela demorou um segundo para entender onde estava, mas conseguiu reconhecer as imagens de santos, o teto adornado e os característicos arcos da igreja graças a um trabalho que tinha feito na escola. Desviou o olhar de um lado para o outro, tentando entender como tinha parado ali. Sua última lembrança era olhar pela janela do avião e ver que estava prestes a chegar a Roma e agora, do nada, havia acordado ali. O que estava acontecendo?

Ela percebeu que o lugar estava bastante movimentado devido aos turistas. Notou também que estava próxima a um grupo de jovens usando chapéus vermelhos, que olhavam maravilhados as estruturas ao redor. Levou a mão à cabeça e percebeu que também estava usando um chapéu. O que? Estava junto com eles? Mas como?

Assustada, ela deu alguns passos para trás e tentou se afastar o mais depressa possível deles, mas não sabia para onde ir. As pessoas ao seu redor começavam a se afastar das imagens dos santos, aparentemente, com medo. Aquilo a deixou mais nervosa e as pessoas ali dentro pareciam sentir o mesmo.

Depressa, caminhou até uma coluna e encostou sua cabeça ali, receosa. Respirava fundo, tentando pôr suas ideias no lugar. Ainda não conseguia entender o que estava acontecendo com ela. Primeiro, a Disney e depois Vaticano? Por que estava passando por isso? Por quê? Será que tinha alguma coisa a ver com o seu namorado? Será que ele a sequestrara e estava fazendo aquilo tudo? Não, era loucura demais.

Foi então que algo inusitado aconteceu. Ela ouviu uma voz. Uma voz chamando por seu nome.

Beatriz.

No entanto, não ficou com medo. Sentiu uma segurança na voz que não sentia há muito tempo. Ela caminhou pela basílica, seguindo o som, que a direcionou até um ponto mais afastado das pessoas. Quando se deu conta, estava diante da estátua de um anjo, equipado com uma armadura.

Beatriz, venha.

Curiosamente, o anjo estava com a mão direita levantada, com a palma para cima, como se esperasse que alguém a agarrasse. Tomada por uma súbita coragem e tendo fé que nada lhe aconteceria, pousou sua mão na do anjo.

De repente, ouviu um ronco e o chão começou a girar junto com a estátua. E, quando Beatriz se deu conta, estava sendo engolida pela parede.

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Lorenzo, por outro lado, acordou no meio de uma missa. Ele franziu o rosto ao notar que estava sentado em um banco e todos ao seu redor estavam de olhos fechados, rezando. Aproveitou a situação e se levantou, bem devagar, tentando procurar uma saída daquele lugar.

Seguiu pelo corredor lateral, a passos lentos, para não chamar a atenção de ninguém. Estava quase se aproximando da saída da igreja quando algo aconteceu.

Imagens saltaram em sua cabeça como outrora. Ele se viu saindo da igreja e esbarrando em dois homens vestidos de preto. Os indivíduos o agarraram pelas roupas e o levaram para um beco que ficava ao lado do templo. Começaram a espancá-lo com chutes e socos e, no fim, desembainharam espadas brilhantes, erguendo-as para cima prestes a golpeá-lo.

As imagens sumiram e Lorenzo parou de andar na hora.

Deu um passo para trás e viu os dois homens de sua visão entrando na igreja. Desesperado, recuou mais ainda até que esbarrou em uma porta. Com pressa, forçou a maçaneta, abrindo-a, e trancando-se lá dentro.

Ele se virou para o lugar em que se encontrava e percebeu que parecia um tipo de depósito. Caminhou pelo meio de caixas de papelão empilhadas, procurando uma saída. Havia uma única janela naquele cômodo, no qual a luz natural entrava. Infelizmente, ela era pequena demais para ele passar.

De repente, ouviu um barulho forte vindo da porta. Virou-se e percebeu a maçaneta se mexendo. Alguém estava tentando entrar. Nervoso, passou as mãos pelo cabelo sem saber o que fazer. Foi quando ouviu uma voz.

Lorenzo.

Aquilo fez o homem se arrepiar. Alguém bateu na porta, falando alguma coisa em italiano.

Por aqui.

Sentindo uma grande segurança, seguiu a voz até os fundos da sala, encontrando uma lareira antiga com estátuas de anjos de mármore. Os dois seres carregavam trombetas em suas mãos, um de frente para o outro.

O da direita.

Lorenzo fixou os olhos na criatura angelical, observando-a melhor. Notou que na perna esquerda dele havia um desenho, em alto relevo, com traços parecidos com a marca que carregava na perna. Curioso, passou o dedo sobre a insígnia e a apertou.

Um ronco ecoou de dentro da lareira e a mesma foi afundando para trás, revelando um lance de escadas. Os golpes na porta ficaram um pouco mais alto, chamando a atenção do rapaz. Ele não sabia quem estava do outro lado e nem sabia para onde aquele caminho poderia levá-lo, mas confiou na voz que o guiava.

Entre.

Não sabia se estava fazendo a escolha certa, mas tentou não pensar muito nisso, só esperava não morrer ali.

Respirando fundo, desceu os degraus e mergulhou na escuridão fria do subterrâneo. A passagem acima dele se fechou no instante em que alguém irrompeu pela porta.

Os Escolhidos de RazielOnde histórias criam vida. Descubra agora