MANIPULAÇÃO EMPÁTICA PARTE I

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O primeiro pensamento que passou pela minha cabeça quando acordei foi: onde diabos eu estava? A razão pela qual me questionei isso é devido a quantidade absurda de cores que atingiram meus olhos no momento em que os abri

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O primeiro pensamento que passou pela minha cabeça quando acordei foi: onde diabos eu estava? A razão pela qual me questionei isso é devido a quantidade absurda de cores que atingiram meus olhos no momento em que os abri. Apesar de ter percebido as cores, minha visão ainda estava embaçada, assim como os sons. Foi quando percebi que estava deitada no chão, frio e duro.

— Garota? — uma mulher me chamou.

Quando minha visão entrou em foco, consegui ver que ela era loira, talvez tivesse uns 35 anos, e estava vestida com uma roupa estranha, parecia um uniforme, porém colorido e chamativo demais para trabalhar em um lugar sério. Não respondi de imediato, ao invés disso, olhei ao redor tentando decifrar o porquê não me lembrava de ter chegado lá. Parecia um parque de diversão, o que explicava as cores. Voltei meu olhar para a mulher à minha frente. Tinha uma plaquinha com seu nome presa em sua roupa, e ao que tudo indicava, seu nome era Lauren, consegui reparar no pequeno símbolo. Eu estava na Disney. Isso me deixou ainda mais confusa.

— Você está bem? — ela perguntou com uma expressão preocupada. Incapaz de dizer qualquer coisa, apenas afirmei com a cabeça.

Passei os olhos ao redor, estava perto do banheiro. Me senti aliviada que não havia muitas pessoas perto do local, mas as poucas que tinham, me encaravam de maneira curiosa e estranha ao mesmo tempo. Minha audição se acostumou com o lugar e consegui ouvir o apito do carrossel que estava próximo. Pressionei os olhos quando o sol bateu em meu rosto, dificultando minha observação. Lauren estava agachada para tentar ficar à minha altura, já que eu estava no chão. Ela colocou a mão direita em meu ombro antes de perguntar:

— Você quer que eu chame alguém? — Não sabia bem o que responder, pois não me lembrava de quase nada. Minha cabeça estava doendo, fazendo com que eu fechasse os olhos tentando afastar a dor, mesmo sabendo que ela não iria sumir magicamente.

— Não. Obrigada — respondi tentando me levantar. Assim que o fiz, uma tontura me atingiu e precisei me segurar no banco que estava próximo. A mulher também se levantou e segurou minha mão para tentar me estabilizar. Ela ainda não estava convencida de que eu estava bem, e sinceramente? Nem eu. Mas, mesmo assim, tentei abrir um sorriso que provavelmente saiu forçado. — Só preciso ir até o banheiro — falei, e ela assentiu.

Talvez ficar no silêncio iria me ajudar a entender o que estava acontecendo.

Como fui parar na Disney? Sempre foi meu sonho vir quando criança, é claro, mas não dessa forma.

O banheiro estava vazio, eram portas demais, mas não importava, pois tudo o que precisava fazer era jogar uma água no rosto, e assim o fiz. A torneira era de sensor, então apenas aproximei minha mão e a água escorreu pelos meus dedos.

Molhei meu rosto, pulso e nuca, pois de repente estava sentindo muito calor. Isso me acalmou um pouco, mas assim que vi a tatuagem em meu corpo, o desespero voltou. Definitivamente minha mãe iria me matar. Eu nem tinha mais de 18 anos ainda! E era uma tatuagem estranha demais. Parecia um símbolo, um L maiúsculo em letra cursiva com um sinal matemático que representava menor atravessando a letra, e dois pontinhos na parte de cima onde a letra começava.

Olhei ao redor para me certificar de que ninguém estava prestando atenção e passei os dedos pelo símbolo que estava localizado em minha clavícula. Se era feita em caneta permanente, parecia extremamente real. Estava usando uma regata preta, o que não era nada comum, pois odiava usar esse tipo de peça, sem contar a calça legging, e, ainda, estava muito quente para usar roupas pretas. Constatei que não tinha nada, nem um celular, nem uma bolsa, carteira, nada que pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo. Soltei um suspiro exasperado. O que eu iria fazer? Encarei meu reflexo no espelho, olhando em meus olhos verdes, como se isso fosse me trazer todas as respostas.

Tentei repassar em minha mente as últimas coisas de que me lembrava. Havia terminado com Lucas e isso estava bem claro em minha mente. Ele era louco. Não me deixava fazer nada, me perseguia, apesar de ser meu namorado, parecia um stalker. Franzi a sobrancelha em uma careta quando me lembrei de nosso relacionamento. Não conseguia entender como fui capaz de gostar dele em primeiro lugar. Inspirei e expirei devagar. Contei até cinco porque senti que estava prestes a ter um ataque de pânico. Meu coração estava mais acelerado do que deveria estar. Uma mulher entrou no banheiro, o que me fez acordar do transe.

Precisava pensar no que iria fazer. Existia muito pouco que eu sabia até então, e de alguma maneira, precisava ao máximo entender o que estava acontecendo. Sabia que estava na Disney, e basicamente era isso. Precisava descobrir por que não me lembrava de nada, por que eu tinha uma tatuagem, como vim parar aqui, e o porquê. Eram muitas perguntas para respostas que não tinha nem ideia. Aparentemente, estava sozinha, caso contrário alguém viria me procurar, o que era ainda mais estranho. Por qual motivo viria para Disney sozinha?

— Pensa, Beatriz, pensa — falei em uma voz baixa para que ninguém me escutasse.

Ouvi o barulho da descarga e a mulher se encaminhou até a pia, na torneira que ficava a uns quatro pés de distância da minha. Ela me observou com o canto do olho, como se eu estivesse fazendo algo errado. Depois de alguns segundos, ela se retirou, como se perdesse o interesse em mim, o que era ótimo, não queria chamar atenção. A primeira coisa que precisava fazer era sair daqui. Se estava sozinha, meus pais provavelmente estavam preocupados, e o mais importante: precisava voltar para o Brasil.

Finalmente saí do banheiro e o calor imediatamente me atingiu. A temperatura do banheiro estava ótima com o ar-condicionado, tive vontade de me esconder lá até perceber que isso tudo não passava de um pesadelo, acordar na minha cama, e em meu quarto, com minha mãe gritando por estar acordando tão tarde, mesmo sendo final de semana. Observei ao redor, era um lugar enorme e teria que encontrar a saída.

Uma pequena montanha russa, o carrossel e umas lojinhas captaram minha atenção, também podia perceber que estava atrás do castelo. Isso era meio estranho para mim porque nunca fui capaz de prestar atenção em tudo de maneira tão detalhada, parecia que minha visão estava melhor, e isso me fez perceber que estava sem óculos. Fiquei tão preocupada pensando na situação que não reparei o quanto minha visão estava perfeita sem óculos, e sempre usei um grau alto. Isso me fez ficar ainda mais confusa, e até aflita, com medo.

Coloquei a mão na boca e mordi a unha, consequência de uma ansiedade que sempre esteve em mim. Continuei observando tudo, dessa vez foquei nas pessoas, e notei uma coisa muito bizarra: expressões, que antes pareciam felizes e animadas, mudaram em um passe de mágica. Vi os olhos das pessoas se arregalarem, umas colocando as mãos na boca, outras agarrando a primeira coisa que via pela frente, e todas elas estavam por perto. Tentei olhar além, mas as outras pessoas pareciam normais. Quando fiquei ainda mais assustada, até pela constatação de que tudo estava cada vez mais estranho, as pessoas que estavam próximas a mim começaram a se abraçar, como se suas vidas dependessem disso.

Decidi sair dali, porque se algo louco estava prestes a acontecer, não estava afim de fazer parte. Preferi ir andando para não chamar atenção, apesar de estar com uma vontade enorme de correr e me esconder. Uma mulher ao meu lado gritou, uma criança começou a chorar e um homem começou a correr em agonia. Mas o que estava acontecendo? Isso foi o suficiente para eu começar a correr, mas seja lá o que estivesse acontecendo, não parava. Vi alguém tropeçar enquanto corria, vi risadas que se transformaram em gritos, vi rostos que expressavam medo e pânico.

Talvez isso não passasse de uma brincadeira de mal gosto. Se fosse isso, tinha que admitir, os atores eram realmente ótimos. Poderia ser um flash mob. O pensamento de uma possível explicação me fez sorrir, e até sentir certo alívio, o que me fez parar de correr, e então uma criança ao meu lado começou a rir olhando para mim. A mulher que estava ao seu lado, que julguei ser sua mãe devido às semelhanças, sorriu e achei que estava tudo bem.

Minha respiração estava ofegante devido ao esforço e aproveitei o momento para olhar para trás. Estava bem próxima a uma lojinha que vendia bichinhos de pelúcia de personagens da Disney. Mas encarando a cena, meu alívio momentâneo desapareceu. Ainda estava uma loucura. Me inclinei para apoiar minhas mãos em meus joelhos para tentar recuperar o ar. E foi quando vi duas pessoas vindo em minha direção.

Os Escolhidos de RazielOnde histórias criam vida. Descubra agora