PRECOGNIÇÃO PARTE I

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Um inseto pousou em cima de meu nariz e caminhou até próximo de minha boca, obrigando-me a dar um salto e acordar de um sono pesado para expulsá-lo dali

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Um inseto pousou em cima de meu nariz e caminhou até próximo de minha boca, obrigando-me a dar um salto e acordar de um sono pesado para expulsá-lo dali. Uma dor de cabeça latejante logo me alcançou e me fez pensar na idiotice de ter acordado com um movimento tão brusco. Fechei os olhos e suspirei, tentando afastar, ao menos um pouco, a dor de cabeça.

Ainda não havia analisado o local onde estava, mas com certeza não era minha casa ou mesmo meu quarto, apesar do cheiro incômodo ser bem parecido. Eu tinha a impressão de estar sentado num chão de madeira com grandes frestas e poeira grossa, que davam a sensação de sujeira em ambas as minhas mãos.

— Que eu não tenha sido deportado, meu Deus. Como é que eu vou olhar pros meus pais e dizer que continuo pobre? — balbuciei. Logo depois, me questionei se não teria levado um porre, entrado numa briga e retornado para o Haiti, meu país de origem. — Eu espero que isso seja numa cidade pobre do meu querido Brasil.

Abri os olhos e, para minha decepção, não vi nada que pudesse me dar uma pista de onde me encontrava. Era uma espécie de galpão, iluminado por uns raios de sol que entravam pela janela acima da minha cabeça. Massageei as têmporas e decidi ir em direção à porta de madeira à minha frente.

Tomei coragem e a abri, apreensivo.

Quando me acostumei com a claridade, um baque: encontrava-me numa rua estreita, de casas amontoadas e muito movimentada. Mulheres e homens passeavam apressados, com vestes brancas ou coloridas, ora com os filhos no colo, e uma pinta vermelha no meio da testa.

Definitivamente, não estava no Haiti, o que me deixou mais aliviado, mas também não estava no Brasil, o que fez meu pânico aumentar. Que diabos de cidade era aquela?

Sai de dentro do galpão e me juntei à multidão de pessoas. Esbarrei em algumas e, para tentar garantir melhor entendimento, me desculpava nas duas línguas que sabia: espanhol e português.

— Perdón — pedi a um homem alto, branco, loiro e vestido inteiro de preto, que quase derrubara. — Me desculpe — completei.

Ele me olhou com uma expressão genuína. Os olhos pretos arregalaram-se e a boca, entreabriu-se. Surpreso com a reação do brutamonte, perguntei-o:

— ¿Te conozco?

Ele abriu um sorriso, de dentes incrivelmente brancos e retos — confesso que fiquei até com vergonha de sorrir depois, não frequentava o dentista há um tempo — e, então, respondeu:

— No, pero tu acento es de Haiti. ¿Verdad?

Afirmei com a cabeça, desconfiado. Ele não parecia ter sotaque do Haiti, mas reconhecia o meu sotaque. Ficamos em silêncio.

— ¿Esta perdido? — disse-me.

— Sí. ¿Que ciudad es esta? — Queria saber que cidade era aquela, afinal, havia acordado sem mais nem menos ali.

Os Escolhidos de RazielOnde histórias criam vida. Descubra agora